Cap 03 - Hesitação

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Lin

Eram quase duas da manhã quando finalmente jantaram, Kya teve de esquentar a comida que ficou esquecida no balcão da cozinha. Lin não sabia exatamente o que fazer ou dizer e se permitiu apenas ficar observando enquanto a mais velha deslizava com seus pés delicados pelo apartamento cantarolando uma melodia doce baixinho com um sorriso nos lábios. Estavam ambas famintas, e comeram a comida requentada como se fosse um banquete. Fizeram amor no banho depois disso, e novamente quando a madrugada já estava no fim, e depois Kya se pôs a dormir, o sol ainda estava decidindo se nascia e precisavam de descanso.

Se alguém lhe perguntasse certamente jogaria a culpa em Kya e sua disposição de garota, mas a verdade é que ela não conseguia, e nem queria, tirar os olhos, as mãos ou a boca do corpo da outra. Nem sabia que tinha em si esse fogo, afinal, mesmo em sua juventude nunca se considerou uma pessoa muito sexual, ainda assim havia algo ali que era simplesmente implacável.

Lin se levantou com cuidado para não a acordar, e observou com um sorriso de canto como Kya adormecida procurou por ela na cama. Vestiu sua calça chumbo e sua regata branca silenciosamente e foi para a sala fechando a porta atrás de si. Sentou-se no sofá e telefonou para Mako na esperança de pegá-lo em casa antes de ir para o trabalho.

- Alô. – Atendeu a voz sonolenta do rapaz ligeiramente bocejada, lembrou-se que nem todos chegavam no trabalho tão cedo quanto ela. Mas em sua defesa tinha dias que ela sequer saia da delegacia.

- Aqui é a Lin, preciso de um favor. – Ela sempre foi muito direta, mas usou seu primeiro nome numa tentativa de ser mais gentil. Gostava daquele garoto, era um bom policial e tinha sua confiança, e recentemente havia usado sua influência para apressar a promoção dele. Ela pode ouvir um baque seco no outro lado da linha, questionou mentalmente se ele caiu da cama.

- Ah, Chefe Beifong! Bom dia, em que posso ajudar? – O sono da voz do jovem pareceu sumir como por mágica.

- Eu vou ficar doente e não vou para a delegacia hoje, talvez não vá amanhã também. Quero que me traga a papelada que for urgente e que seja meus olhos na delegacia, vou te deixar no comando na minha ausência. Se não me encontrar no rádio do carro pode ligar para meu apartamento ou para o de Kya, apenas você tem essa informação e quero que fique assim. – Era estranho não ir para o trabalho. Claro que ela já havia faltado antes, mas apenas para missões de resgate ou para ajudar o Avatar a salvar o mundo, nunca havia faltado por motivos puramente pessoais, seu histórico era praticamente perfeito.

- Certo. Pode deixar, não vou decepcioná-la chefe. – Ele pareceu vacilar um pouco do outro lado da linha. – Mas está tudo bem? Precisa de reforço?

Lin quis rir da pergunta, mas conteve sua vontade, limpou sua garganta e manteve-se séria, sabia que ele compreendeu que por "ficar doente" ela queria dizer que não tinha um motivo real para justificar oficialmente sua falta.

- Está tudo bem, não preciso de reforço algum. São só questões pessoais. – Ela justificou ao rapaz, grata pela maneira como ele foi prestativo. – Ah, traga os relatórios de hoje para mim no apartamento da Kya no final do dia, o endereço você pode conseguir com minha secretária.

Despediu-se do rapaz e em seguida ligou para a delegacia, disse que estava doente e que por isso não iria e deixou oficialmente Mako no comando, estava feito, ela acabou de matar o trabalho pra ficar em casa com alguém... Quem diria?

Decidiu voltar para a cama, já que praticamente não dormiu a noite toda poderia se dar ao luxo de mais algumas horas de bobeira. Assim que se deitou Kya a abraçou instintivamente, apoiando a cabeça em seu ombro e enroscando suas pernas nas dela. Lin olhou para o teto apertando-a contra si e se perguntando por que havia perdido tanto tempo.

Implacável como o tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora