Perdedores também não merecem presentes

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Narração por Marcos:

- Alô? - digo ao aproximar o aparelho de meus ouvidos. Me levantei da cama ficando a uma certa distância da Pah.

Ela não podia saber que meu irmão era o Ramon, não agora. Seu olhar demonstrava preocupação e resolveu se manter sentada na cama para me deixar mais â vontade com a chamada inesperada de meu irmão. Meu coração batia loucamente querendo preencher cada espaço da curiosidade em respostas concretas. Eu e Ramon nunca ligamos um para o outro e quando isso acontecia era só para reclamar que um de nós estava atrasado para alguma coisa e nas outras vezes que ele me ligava eu apenas deixava o celular tocando até ele perder a paciência de ficar retornando.

- Aconteceu alguma coisa? - perguntei já que ele não disse nada. Observei de relance os olhos arregalados de Paloma pensando que algo ruim havia acontecido. Talvez eu temesse a isso também.

- Finalmente você me atendeu. Te liguei milhares de vezes ontem à noite e você nem retornou. Ainda com aquela palhaçada de me ignorar? - Ramon disse possuído de raiva dando a perceber que estava embriagado logo pela manhã.

Soltei uma risada nervosa e balancei a cabeça tentando afastar qualquer lembrança de meu distanciamento.

- Você me ligou para ficar me julgando? Porque se foi, não estou com tempo para seus caprichos! - respondo na mesma moeda enquanto apertava o celular em meu ouvido. Ramon sempre conseguia me deixar irritado, o que está acontecendo agora.

- Calma ai Marcos! - ele riu ironicamente me fazendo bufar. - Tenho uma coisa para te dizer antes de você desligar na minha cara como sempre faz!

- Não estou de brincadeira Ra... - seu nome morreu em minha boca logo após eu perceber que a Pah estava diante de mim. Por um deslize ela saberia de tudo. Tenho que me controlar. Diga logo, não tenho todo meu dia para falar com você! - resmungo passando a mão pelos meus cabelos.

- O pai quer saber aonde você se meteu.

- Eu disse que iria viajar! - o lembrei em curta voz.

- Disse, mas não para onde ia. - Ramon retrucou rápido com a voz afiada.

- Estou no Havaí. - informo com esperanças que ele desligasse e me deixasse em paz.

Procurei Paloma com os olhos pelo quarto e a vi parada na sacada observando a praia enquanto alguns fios soltos de seu coque voavam com a força do vento. Minha vontade era de estar aproveitando cada segundo do meu dia com ela, de estar abraçado a ela, mas ainda as coisas insistem em nos afastar.

- Ele quer que você volte para Argentina! - a voz de meu irmão me desperta do meu transe.

- Só vou voltar quando minha viagem acabar. - digo seguro de mim.

- Se eu fosse você não fugia de minhas responsabilidades ainda mais agora que a empresa precisa de você! - ele diz tentando me fazer sentir qualquer remorso de minhas atitudes e para que eu voltasse atrás em minha decisão. Sempre foi assim e talvez nunca mude.

- Se fosse tão importante nosso pai havia ligado, não você. - intervenho com convicção.

- Ele não perde mais seu tempo tentando se comunicar com o filho mais velho já que o que ele mais quer é manter distância de sua família! - Ramon joga grosseiramente as palavras como se fossem bolas de arremesso. Dava para ver em seu tom amargurado que ele estava sofrendo e então resolveu colocar a culpa em mim.

Pergunte ao Destino - Maloma (Adaptação) - Concluída Onde histórias criam vida. Descubra agora