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       Depois das horas de repouso, finalmente consegui me livrar de estar deitado em uma cama. Ao caminhar pela casa avistei dona Jiweon preparando o jantar na cozinha, enquanto Jungkook, ao seu lado na pia, ajudava a lavar os legumes. Não deixei de reparar nas engraçadas meias do "Homem de Ferro" que o garoto usava nos pés. Ele estava descontraído no vestir e tão diferente de mim, que entrei todo arrumado, cabelo penteado e rosto maquiado.

Quando a mulher me viu, comentou:

— Como está bonito! Vai a alguma festa?

— Não. — Respondi, acertando a jaqueta preta no corpo. — Vou namorar. Será que tem algum rapaz interessado num garoto da cidade grande?

Estava ciente sobre a falta de preconceito com sexualidade, então apenas sorri de canto ao ouvir o lembrete:

— E como fica as regras de padre? — Sua voz era divertida, querendo continuar um assunto.

— Regras são feitas para quebrar algumas vezes, não acha? E depois do que passei hoje só ums beijos para me fazer feliz.

Ela terminou de cortar as verduras lavadas, deixou sobre a pia, e se colocou em minha frente para logo por a mão no meu pescoço.

— Você está um pouco febril. Não acredito que vai sair.

— Não aguento ficar dentro daquele quarto.

— Fique aqui com a gente.

— Não posso, dona Jiweon. Se ficar aqui, fico louco. Sabe, tenho que queimar energia, senão não consigo dormir.

— Mas e se te der dor de barriga na praça?

— Eu corro para cá.

— Pode não dar tempo.

— Faço na calça.

Ela deu risada e não pude deixar de admirar o sorriso bonito dela.

— Você é cabeça dura.

— Eu sei.

Jiweon então se virou para o filho, que estava distraído olhando para a própria blusa cheia de gotas d'água da torneira, e disse:

— Jungkook, vai se arrumar que você vai na praça passear com o Jimin.

Ele levantou o rosto com o par de olhos negros em nossa direção. Estava visivelmente surpreso, mas não era de questionar as ordens de sua mãe. Tudo o que ela pedia ele fazia de imediato.

— Não precisa, dona Jiweon. — Tentei protestar, mas ela estava decidida.

— Se você quer namorar, namora o meu filho. Ele é um rapaz como outro qualquer. É só não faltar com o respeito a ele.

Sua fala me surpreendeu tanto que fiquei mudo por quase um minuto inteiro. Jungkook, com as bochechas rosadas, se retirou da cozinha e eu continuei me sentindo perdido em pensamentos.

— A senhora... — Tentei dizer.

— Sim, eu entendi o tipo de interesse do Jungkook por você. Eu só... não tinha certeza sobre você. Ele está aprendendo ainda. Cuide dele por mim. — Ela sorriu e imediatamente fiquei envergonhado até o rosto enrubescer por completo.

Saí, meia hora depois, de braço dado com um gigante acanhado, corpo de homem e cabeça de menino. Ele tomou banho, vestiu uma calça jeans apertada marcando suas cochas grossas, uma camisa vermelha xadrez, e ajeitou os cabelos para trás em um topete bagunçado e ao mesmo tempo elegante.

No começo não me sentia muito à vontade, mas fui percebendo que o calor de seu corpo fazia-me bem. Sentia-me protegido ao lado dele. Aos poucos fui me encostando mais e, de repente, estávamos andando abraçados pela praça da cidade. Eu com uma mão por sua cintura e ele com outra por meu ombro.

Jungkook não tinha dinheiro, então eu paguei salgados, sorvete e pipoca para nós. Ele comia com uma gula que parecia não ter fim. Amava principalmente doces, estava claro para mim. Já eu não comi nada. Fiquei imaginando se tudo aquilo batesse no meu intestino, acho que explodiria.

Ainda era cedo, mas eu sentia minhas pernas doerem, por isso saímos da praça. Um grupo de quatro garotos com duas meninas passou por nós. Um deles fez gracinha comigo. Fingi que não vi e abracei ainda mais forte o Jungkook, que franzia as sobrancelhas em desconforto.

— Olha lá, o retardado é viado.

Todos riram e começaram a andar atrás da gente. Uma das meninas com cabelo ruivo carregava uma garrafa de bebida quando gritou para mim:

— Você é tão bonitinho, como tem coragem de namorar esse doido e ainda mais ser gay? Você é cego, é?

— Cego nada, deve está a perigo. O cérebro dele deve ser desse tamanho, — E o garoto fez 'o’ com os dedos de uma mão. — mas o negócio lá embaixo deve ser maior que uma cobra.

E foram fazendo gracinha por alguns metros. Eu estava morrendo de medo deles. Não sei o que seriam capazes de fazer.

Olhei para os lados e, com execeção da praça, as ruas estavam desertas. Melhor mesmo era ficar quieto e seguir. De vez em quando Jungkook olhava para mim e perguntava:

— Eles estão brincando com a gente?

— Estão. — Respondia, apressando o passo. — Mas fique quieto, não precisa falar nada.

— Por quê? Eu os conheço... são da escola da mamãe.

E eles assobiavam, gritavam atrás de nós. Alguns se aventuravam e puxavam o meu cabelo por trás. Mas meu sangue ferveu mesmo quando deram um tapa na cabeça de Jungkook, que sua cabeça chegou ir para a frente.

Me virei vermelho de raiva. O garoto era mais alto que eu, mas com o corpo quente não parei para pensar e lhe dei um soco no rosto. Ele caiu para trás e os outros ficaram quase paralizados analisando a cena. Acho que se eu tivesse uma arma, daria um tiro em cada um deles.

— Não toca nele! — Exclamei, sentindo os dedos da mão doerem, mas não parei para ver o pior e puxei Jungkook as pressas antes que o grupo decidisse revidar.

Já corria para perto da casa de Jiweon com um Jungkook confuso em meu encalço quando a mesma saiu no portão. Metade do grupo, que escolheu nos perseguir, desistiu de nos alcançar ao vê-la.

— Aconteceu alguma coisa? Eu ouvi gritos. Estavam pertubando vocês?

— Não. — Respondi, tentando esconder meu cansaço e disposto a por uma pedra sobre o acontecido. — Eles só vieram nos acompanhar até aqui, não foi, Jungkook?

Ele concordou com a cabeça e puxou a mãe pela mão para contar tudo o que ele comeu na praça. Contou tudo, detalhe por detalhe, quantos sacos de pipoca ele ganhou, batatinhas fritas e que o tempo todo ficou abraçado comigo. Seu sorriso era tão bonito e aberto que consegui, por um momento, esquecer o acontecido ruim de minutos atrás.

— Pelo jeito você arranjou um romance. — Disse ela, radiante com a felicidade do filho.

Um pouco mais calmo, abaixei a cabeça e me retirei para meu quarto. Antes, fiquei na lavanderia olhando a escuridão lá fora. Não pude evitar de ouvir o que ela dizia para ele.

— Você não faltou ao respeito com o garoto, não é mesmo?

— Não, mamãe. Juro por Deus.

— Não pode. Você tem que respeitar. Você é puro e deve se manter assim... entendeu?

— Mas eu sinto vontade. Eu quero pôr a mão aqui, aqui...

— Não. Não pode, entendeu? — Falava ela com toda a paciência do mundo. A impressão que me deu foi de que ela segurou as mãos dele. — Você não deve tocar em homem ou mulher, deve se manter puro, casto, senão Deus castiga.

Fui para o meu quarto para mais uma noite de terror. Precisava dormir, não tinha sono, precisava comer, não tinha fome, precisava viver, não tinha vontade...

E não é que Jikook tá dando os primeiros passinhos? *-*

Mas o passado do Jimin é como uma bomba.
E o pavio já foi incendiado...

 Doce Veneno | ʝʝҡ+քʝʍNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ