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       A moradia ficava em uma rua que começava na praça e terminava numa pequena clareira onde se podia ver árvores em meio ao sol. Já a casa era grande, dois andares, amarela, de muro baixo com um jardim de roseiras que ia do portão até a porta da sala.

Ela me mostrou a casa como se fôssemos velhos amigos. Nunca tinha visto uma pessoa assim, transbordando carência e tentando a todo custo me agradar. Mostrou-me toda a casa; o primeiro andar onde ficava meu quarto, a lavanderia, que ficava na saída da cozinha para o quintal dos fundos onde havia uma plantação de verduras e algumas roseiras em flor, o sótão, seu quarto e o de seu filho no segundo andar. Depois do muro, as enormes montanhas formavam um paredão verde e vivo embaixo das nuvens. Parecia um quadro.

— Aqui é o seu quarto. — Disse, abrindo a porta. — Não é grande, mas dá para você se arranjar.

Entrei, o quarto era de fato pequeno. Uma cama e uma cômoda compunham o ambiente com uma janela de vidro que me permitia ver as montanhas. No canto, uma porta indicava o banheiro.

— Tem certeza de que não vou acabar com o seu sossego? — Falei envergonhado, muito menos por estar ali, muito mais por ter feito mal juízo daquela mulher.

— Já disse que não, fique à vontade, tome banho. O quarto não está muito limpo, mas depois eu prometo uma faxina geral.

Olhei e procurei sujeira. O quarto estava impecável.

— Está ótimo, obrigado.

— Eu vou preparar o almoço, nos encontramos na cozinha.

Ia dando as costas quando o filho lhe segurou forte as mãos. Ela sabia que quando ele fazia isso, era porque queria dizer algo.

— Diga, Jungkook, o que você quer?

Ele olhou para ela, depois para mim. Estava com as bochechas vermelhas de envergonhado, mas falou com a voz titubeante:

— Ele vai ficar aqui com a gente?

— Vai. — Respondeu a mãe.

— E ele vai me beijar de novo?

Corei. Achei a fala dele engraçada, descabida de contexto. Não imaginava que um simples beijo no rosto pudesse ter marcado tanto aquele garoto. Prometi a mim mesmo, naquele momento, que depois faria uma penitência e que jamais beijaria alguém no rosto assim sem qualquer motivo.

— Não filho, beijo é só em momentos especiais, como aquele em que vocês se conheceram na praça.

— Eu quero mais um.

Ela me olhou e eu fiquei sem saber o que dizer. Ela notou que fiquei sem graça.

— Não pode, Jungkook. Não é assim que as coisas acontecem. Quem sabe depois que vocês ficarem amigos, consegue roubar um beijo dele.

Surpreso com a fala de Dona Jiweon os vi saindo conversando. Ela parecia ter uma paciência inesgotável com aquele garoto. Nem ao menos se surpreendeu ao ver o filho se interessar por um garoto.

Fechei a porta e quase não acreditei que estava só. Precisava fazer um monte de coisas naquele momento, eram todas urgentes: fazer xixi, tomar banho, deitar um pouco, comer... chorar.

 Doce Veneno | ʝʝҡ+քʝʍNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ