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       A igreja estava aberta, porém vazia. A luz da tarde entrava pelos vitrais de peixe e dava um certo ar alegórico ao ambiente. Minha mãe era católica fervorosa. Todo domingo ia à missa. Às vezes eu aproveitava a carona e ia também. Minha irmã não. Jamais ia à missa e não gostava de padres. Será que as duas estavam agora no mesmo lugar? Olhei para a grande cruz sobre o altar. Havia tantas respostas que eu precisava ter que no fundo desejava não pensar. Gostaria de ter a idade mental de uma criança de sete anos para tentar viver a vida como ela é.

— Ora, quem veio me visitar! — Exclamou o padre Taehyung, chegando pela porta ao lado do altar, que devia dar na sacristia.

Levei um susto. Mesmo assim sorri, tentando ser gentil com aquele homem alegre que queria falar comigo e eu me remoendo, tentando imaginar o que ele queria.

— O senhor pediu para que eu viesse aqui. Aconteceu alguma coisa? Fiz alguma coisa errada?

Ele sorriu quadrado e colocou a mão no meu ombro como se para me confortar.

— Quanto sentimento de culpa, garoto! Eu não sou o seu algoz, nem quero jogar pedra em ti. — E diminuiu seu sorriso para uma expressão preocupada. — O doutor Min Yoongi é muito meu amigo e disse que você passou mal a noite inteira de sábado para domingo, então fui lhe fazer uma visita.

— A notícia corre por aqui.

— Cidade pequena, você sabe como é, todos sabem da vida de todos. Vamos dar uma volta lá fora, o dia está radiante.

Atravessamos a nave em direção à porta. Ele se separou um pouco de mim, mesmo assim mantinha sua típica roupa longa de calsa marrom e blusa de mangas folgadas ralando nas minhas. Parecia procurar palavras, as mais eufêmicas para continuar o assunto. Fomos caminhar pela praça, que era cercada por pequenos comércios que ficavam do outro lado da rua.

— O que o senhor quer falar comigo? — Perguntei, curioso.

— Você está melhor?

— Estou. Foi só um desarranjo intestinal.

— Aqui nós chamamos de dor de barriga mesmo... ah, veja o meu objeto de desejo. — Falou ele me pegando pelo braço e atravessando a rua. Entramos numa pequena loja de eletrônicos. Ele parou diante de um televisor de 29 polegadas. — Veja que lindo! Estou sonhando com um desses. Não vejo a hora de ser presenteado.

— Pelo jeito o senhor gosta de televisão.

— Se gosto? Sou apaixonado. Quando não estou fazendo meu trabalho na paróquia, estou diante da tela. Assinto de tudo: novelas, programas culinários, filmes, jornais... principalmente jornais. Não perco um. Mas ela não é bonita?

— É. — Resmunguei, demonstrando que não estava ali para falar de sua paixão por televisão.

— Você não assiste à televisão? — Perguntou ele, segurando-me de novo pelo braço e atravessando a rua em direção a sombra das àrvores frondosas.

— Não. Nunca. Para ser sincero, odeio televisão.

— Mas por quê? Que sacrilégio... quer tomar um suco? — Ele perguntou quando passamos perto de um pequeno café. Aceitei. Entramos e no balcão pediu dois sucos de melância naturais. Enquanto uma funcionária nos servia, o padre me olhava com um sorriso que me deixava intrigado. O que ele queria comigo? Por que estava dando tanta volta? Pegamos os pedidos e saímos andando porta a fora. — Quer dizer que você não gosta de televisão?

— Não. — Respondi, virando o suco naturalmente rosado na boca.

— Mas nem o jornal você assiste?

 Doce Veneno | ʝʝҡ+քʝʍNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ