O dia parecia chorar. Uma chuva fina foi trazida por um vento gelado logo cedo, enquanto tio Seokjin chegava para levar a mim e a vovó ao enterro. No carro ela foi atrás e eu na frente, ao lado dele. De vez em quando eu o olhava como se pedindo, implorando por uma conversa que quebrasse aquele silêncio agoniante. Mas ele evitava me olhar, não entendia o porquê. No caminho, íamos sendo seguidos pela imprensa. A sorte era eu ser menor de idade, assim eles não podiam se aproximar.
Chegamos ao velório. Descemos do carro com meu tio segurando o guarda-chuva de vovó e eu o meu. O cemitério estava mais silencioso que a viagem no carro. Entramos em uma capela dentro do terreno e havia apenas alguns amigos de Momo, poucos professores, um grupo de representantes da firma de nosso pai e só. De resto, uma dúzia de parentes ressurgidos das cinzas. Pude ver ali como a minha família era distante do mundo, das pessoas que nos rodeavam, da coletividade e de tudo mais que poderíamos chamar de sociedade.
No começo não tive coragem de me aproximar dos caixões. Vi que todos passavam por perto, ameaçavam um choro e depois se afastavam. Criei coragem e decidi por ir. Não havia como fugir daquela deprimente realidade. O primeiro caixão de que me aproximei foi o de Momo. Parecia que dormia e eu fiquei imaginando se a morte não era, na verdade, um sono eterno de onde jamais acordaríamos. Passei a mão de leve no rosto dela. Um rosto frio e pálido. Não podia negar, a morte é um feito deprimente, enormemente triste. Dei as costas e fui para o outro caixão; o de minha mãe. Ela também dormia um sono de anjo. Parecia descansar. Acho que agora, de fato, a mulher está dormindo. A mesma nunca dormiu direito, sempre reclamava das noites mal aproveitadas, das dores que a incomodavam, da vontade de descansar... pronto, agora estava em paz.
O de meu pai não fui ver, não queria me despedir dele. Na minha mente perturbada, achei que, de repente, ele podia se levantar e cometer seu último ato: cuspir em minha cara, que foi o que em vida faltou fazer. Então escolhi sair dali.
Quando pisei no gramado fora da capela, e olhei para os túmulos desconhecidos ao meu redor, vi Seokjin sozinho sentado num banco de pedra. Parecia cansado. Usava ums óculos escuros para esconder as olheiras. Ele era muito vaidoso e tinha completa razão em ser, pois era tão bonito como uma pintura grega. Caminhei em sua direção e sentei-me ao seu lado enquanto fechava meu guarda-chuva. Havia uma árvore frondosa ao lado que impedia as gotas finas da chuva nos molhar.
— Preciso falar com você. — Falei, querendo me encostar em um de seus ombros.
— Agora é impossível, não está vendo o que está acontecendo? — Ele respondeu em tom ríspido.
— Não só vejo, como estou me sentindo muito só. — Respondi, com a voz embargada.
Ele tirou os óculos, encarou-me com aqueles olhos negros e passou os dedos de sua mão direita em meu cabelo loiro, para depois abraçar-me.
— Tudo vai se resolver, pode ficar tranquilo. Eu vou te ajudar no que precisar. Você não está sozinho, Jimin.
Foi bom ter ouvido aquilo, deixou-me mais calmo saber que não ficaria esquecido. Levantei-me e saí, fui andar do lado de fora daquele cemitério mesmo que a garoa continuasse a cair. O lugar ficava no alto de uma colina. Dali se podia ver um lago cercado pelos jazigos simples, bem ao estilo americano. Ia andando sem me preocupar com o vento congelante. Parecia que eu não estava em mim.
— Você sabia que agora é um garoto rico? — Assustado, virei-me de lado e encontrei o delegado da polícia de Seul. — Desculpa, não queria te assustar.
— O que o senhor disse?
— Que você agora é rico, vai herdar tudo o que a sua família deixou.
BẠN ĐANG ĐỌC
Doce Veneno | ʝʝҡ+քʝʍ
Fiksi PenggemarNo ímpeto de seus 15 anos, Jimin amou e foi traído. Está vivo, mas prefere não estar. Como se não bastasse, o veneno que matara sua família se espalha em seu corpo. Por onde for, a morte o acompanha. E em meio as tentativas para fugir de seu próprio...