Capítulo 42

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Cinza

Assim que deixei a sala do professor de poções, desabei. Eu precisava de ar. Meu rosto estava quente e o aperto no meu peito mostrava como tudo era muito para eu aguentar. Esse órgão estava desgovernado. Sua batida parecia querer acompanhar o ritmo da festa, esquecendo da sua função principal: me manter viva. Não sei até que ponto eu conseguiria continuar carregando todos esses sentimentos. Era definitivamente mais do que eu poderia aguentar.

O fato de Snape ser o meu pai biológico não me chateava e a dor dele ter me abandonado era insignificante ao lado de todas as oportunidades que ele teve de me contar e se redimir. Meses. Meses que eu fiquei procurando por uma resposta que estava bem na minha frente. Sem dúvidas tinha sido ele que arrancara as páginas do livro que eu encontrei na biblioteca. Como se esconder e mentir não fosse o suficiente, ele tentou impedir que eu descobrisse a verdade.

Era inegável que todo esse caos estava sendo agravado pela minha ansiedade. Tal sensação, diferentemente do sonserino, nunca me deixara. Ela fora a minha amiga mais fiel em todos os meus momentos obscuros. Nos momentos felizes ela se certificava de me recordar de todos os momentos ruins que eu já passei e do quão sozinha eu estava. A solidão não é um problema se você sabe desfrutar da sua companhia. E, justamente por isso, ela é a sensação mais temida por mim.

Eu estava sentada ao lado da porta em que eu entrara pouco tempo atrás em busca de respostas. Não tinha forças para levantar e tentar me afastar da imagem de Snape que estava tatuada na minha mente. Meu pai. Ele não era merecedor desse título. Minhas unhas cravaram na palma da minha mão demonstrando a minha raiva. Como ele teve coragem de olhar no fundo dos meus olhos e mentir tão friamente? Minha vida inteira foi uma mentira. Cada pedaço dela. Cada crença. Tudo.

Eu estava cansada de sofrer. Eu estava cansada. Nada estava dando certo e eu não tinha como lutar contra a avalanche de sentimentos negativos que me aguardavam. Eu não queria lutar. Me sentia desamparada. Com medo. Completamente perdida. Sozinha.

Lembrei do par de olhos cinzas me olhando com repúdio por causa da minha marca. A náusea logo se instalou no meu interior. Eu não tinha nada. Eu não tinha ninguém.

Gradualmente meus pulmões tinham que forçar cada vez mais para o ar entrar. Eu precisava sair daquele lugar urgentemente, porém meu corpo não desgrudava do chão. Não aguentava passar nem mais um segundo olhando para as paredes do castelo e me martirizando por tudo que tinha acontecido. Tudo doía muito e eu não podia fugir disso.

Finalmente desisti de lutar contra as minhas lágrimas. Em partes eu sabia que não poderia culpar Severo por ter me abandonado, pois, se eu pudesse, faria o mesmo. Eu me deixaria sem pensar duas vezes e esse era o problema. Tudo estava em minhas mãos, era minha culpa e ninguém poderia me ajudar com isso.

Analisei friamente as gotas que batiam contra o vidro, em um movimento tão brusco que era quase como se elas quisessem me fazer companhia. A água da chuva era tão pura quanto uma criança. Pureza significa inocência. Inocência significa acreditar que um dia eu poderia ser feliz. Tal alegria não vinha me visitar há tanto tempo que eu nem sequer me recordava de como eu deveria agir diante desse sentimento ensurdecedor. Nem sabia se eu queria me recordar. A tristeza se tornara tão recorrente que eu já havia me acostumado. Mais do que isso. Eu tinha aprendido a gostar dela.

Para minha sorte, eu não parecia estar perto de qualquer sensação positiva, não sendo algo que eu precisava me preocupar. Um soluço vindo do outro lado da parede fez com que eu voltasse à realidade. Snape? Rastejei silenciosamente até a porta, encostando delicadamente a minha orelha na porta, só podia ser um delírio meu.

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⏰ Última atualização: Nov 15, 2021 ⏰

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