Capítulo 38

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Abstinência

Tum. Tum Tum. Tum. Minha cabeça latejava no mesmo ritmo do meu coração. Parecia que o órgão bombeador de sangue agora havia se instalado nessa outra área do meu corpo. Meu braço. Meu braço se contraiu em um movimento que todo o meu corpo quis acompanhar. Cãibra. A dor me fez gemer, porém nada saiu. Nada saía. Nenhuma voz. Nenhum movimento. Nada.

Outro "Tum". Meus olhos não respondiam ao estímulo nervoso enviado pelo encéfalo. Me sentia em um pesadelo. Tudo estava escuro. Não conseguia me mexer. O que tinha acontecido? Não conseguia me recordar muito bem. As lembranças embaralharam-se com a imaginação e agora eu não tinha a capacidade de distinguir o que tinha acontecido do que era apenas fruto da minha mente criativa e solitária.

Comecei a ouvir algo. Era como um ruído confuso. Tentei me agarrar nesse traço de realidade concentrando-me o máximo em entender algumas das palavras que estavam sendo ditas. Tum. Meu cérebro fervia, tornando a tarefa uma missão quase impossível. Alguns passos vinham na minha direção. O volume aumentava, fazendo com que eu conseguisse escutar:

━ Você terá que contar para ela em algum momento, Severo. Ela precisa saber.

A voz grossa e rouca fez com que eu identificasse o diretor de Hogwarts como o seu dono. Dumbledore. O que ele estava fazendo aqui? Snape também estava presente? Nenhuma outra palavra foi proferida, levando os questionamentos para o meu baú interior, onde estava guardado todas as outras dezenas de dúvidas trazidas por tal situação.

Se de fato eu havia processado o sentido da frase corretamente, o que será que o professor de poções estava escondendo? De quem? Havia mais pessoas ali comigo? Onde eu estou? Por que eu não consigo me mexer? O que aconteceu?

Eu tentava forçar o meu cérebro a se lembrar. Nada. A adrenalina tomou conta do meu corpo, aumentando a minha frequência cardíaca. Eu estava desesperada. Eu só queria sair dali. Eu só queria conseguir me mexer. Uma sensação estranha dominou meu corpo por completo, acentuando meu quadro de tensão. Eu não estava nada bem. Eu precisava urgentemente de ajuda, mas não conseguia gritar por socorro. Nada saiu. Nada saía. Nenhuma voz. Nenhum movimento. Nada.

A respiração tornou-se mais pesada. Talvez eu estivesse morrendo e o castigo dado a mim era o de passar o resto da eternidade desfrutando de toda a tortura que eu me proporcionei durante os últimos anos. De repente, alguns calafrios começaram a surgir no meu corpo. Minha boca estava seca. Tum. O coração continuava. Meus olhos estavam quase pulsando para fora da sua cobertura.  Minha saliva tinha um gosto estranho e marcante, quase azedo, que eu não conseguia me livrar.

A respiração, antes ofegante, se acalmou. Acalmou-se em um movimento tão sereno. Acalmou-se em um movimento tão repentino. Acalmou-se. Entretanto, meu interior sentia tudo menos calma. Parecia que eu estava sufocando. De novo. Tudo escureceu. De novo. Meu corpo parou. De novo.

***

Abri lentamente os olhos. O ambiente escuro tornou a sensação menos incomoda. Eu estava na enfermaria envolvida por dezenas de cobertores. O cômodo estava vazio, tendo apenas eu e as macas para contemplar a sua tranquilidade. Minhas costas fizeram um movimento para tentar se encaixar no colchão duro e meu olhar pousou no teto.

Finalmente consegui relaxar. Eu ainda estava confusa, porém todos os meus sentidos estavam de volta. Meu coração disparou ao perceber que havia alguém caminhando em minha direção. Em contrapartida, não era quem eu estava esperando e sim a enfermeira com uma bandeja cheia de comprimidos. Involuntariamente eu torci para que algum deles fosse para me ajudar a dormir, eu realmente precisava disso.

𝘿𝙖𝙣𝙜𝙚𝙧𝙤𝙪𝙨 | 𝕯𝖗𝖆𝖈𝖔 𝕸𝖆𝖑𝖋𝖔𝖞 🔥 [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora