eu preciso conversar contigo

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Boa leitura!

O pau não comeu. Sinto-me aliviado, aliás, por ter conseguido fugir deste fardo. Não que eu me garanta no soco, porém sei que as chances de Minhyuk querer dar-me uma punição pelo feito era real e eu, honestamente, almejava que viesse com violência física mesmo. Eu poderia esquivar, se desse sorte. Ou poderia descê-lo no soco também. Poderíamos brigar de verdade. Eu adoraria resolver assim, já que a conversa não dá certo. Mas nada. Ele não dá nada. Pelo menos, não até agora. Acabei de desligar uma das minhas ligações rotineiras ao Minghao e até agora nada da possível retaliação do Lee. Não sei se devo ficar preocupado. Estou mais aliviado, na verdade. Ele não evitou-me durante o dia, tampouco implicara comigo. O que, de certa forma, é o porquê de me sentir tão aliviado.

Deito na cama e encaro o teto. O telefone em mãos, quero ligar a alguém. Não estive com Changkyun o dia inteiro. Nem mesmo no almoço, não nos encontramos. Ele deve estar ardendo de saudades. Eu estou ardendo de saudades. Era para ser uma brincadeira, mas foi crescendo, absorvendo-me. E absorvido, vejo-me tentado a mandar-lhe um e-mail, se puder vê-lo. Ele vive em mim e, caso soubesse, começaria a questionar-se estar num ermo coração. Talvez seja. Pensei nele no final da tarde, aleatoriamente. Li apenas a lista de sobremesas e, ao encarar o Paris-brest, seu sorriso arregaçou minha mente. Eu, tão racional, de repente sorri do nada ao lembrá-lo em Paris. De tudo. De nós.

Mas não falei com ele, também não acho que devo falar. Amanhã falo, não precisamos estar com o outro a todo tempo. Não suporto. E estou deveras exausto, ainda mais porque amanhã é o casamento e ocupei-me cozinhando e rindo de Minhyuk durante esses dias. Os dois valeram a pena. Os resultados foram ótimos.

E... Alguém acaba de bater à porta. Se for Minhyuk, é bom atentar-me ao soco.

— Oi — Changkyun está com a franja preta cobrindo metade dos olhos e uma peça de roupa enrolada debaixo do braço. — Eu preciso conversar contigo.

Não veste calça nem bermuda. Apenas uma cueca azul-marinho. Sua camisa é de um supermercado que, em 2015, comemorou quinze anos de existência. Ele nem entra nem nada. Apenas olha-me, encostado à porta, esperando eu lhe dizer alguma coisa que confirme ou rejeite a sua proposta. Ele tem esse ar leve e fresco que faz-me sentir confortável e bem-vindo.

— Ahn... Pode dizer — coço minha nuca.

— Venha comigo ao meu quarto — é o que me diz. Faz com que irá virar-se de costas, mas volta de repente. — Ah, sua cueca que peguei ontem.

Changkyun me entrega o que esteve segurando e, após checar se realmente é minha, enrolo numa bola e jogo sobre a cama. Feito isso, sigo seu corpo esbelto pelo corredor e, já perto do seu quarto, pouso a mão em seu quadril enquanto caminha. Acho que ele estranha isso, porque de repente me olha sem entender. Eu só estou tentando ser carinhoso, mas fica parecendo que sou uma sósia.

— Bem... É sobre o Jooheon... — começa ele, abrindo a porta do quarto. Começo o abraçando por trás, quando noto alguém deitado na cama de Changkyun. Afasto-me. — Eu e Minhyuk estamos fazendo algumas conclusões.

Ah, não... Minhyuk está aqui.

— Olá, Kihyun — ele sorri para mim, acenando com as mãos. — Ou devo lhe chamar de fudeu-minha-bunda-sem-me-tocar?

— Olha, Minhyuk... Foi mal mesmo por ter feito isso... — aproximo-me da cama e até toco seu ombro como consolo. Ele afasta-se de mim, como quem tem aversão a mim.

— Você não se desculpa zorra nenhuma — ele diz. — Mas eu não vou dizer que não teve motivos. Só que, se você quiser brigar, a gente faz isso seis da manhã ali nas pedras do mar e vê quem mata o outro primeiro e deixa a onda levar o corpo.

Thé et fleurs ┊ChangkiOnde histórias criam vida. Descubra agora