eu estou um pouco atrasado

115 22 17
                                    


Boa leitura!


Minha cabeça dói. Oh, meu Deus, como minha cabeça dói... Se eu soubesse que iria ser assim, provavelmente teria dado um basta na quantidade de rodadas que o Joshua estava a pedir incessantemente. E agora que estou sentindo dor e planejo tomar uma sopa de ressaca num desses restaurantes de bairro, encaro o relógio digital sobre a bancada e quase surto com o fato de ser extremamente tarde para o compromisso que tenho hoje e que talvez meu subconsciente interpretou minha falta de vontade de ir com um "não haverá mais" — já que não tem explicação para eu não ter acordado antes. E eu também fui burro em não programar o despertador. Maravilha, Kihyun, continue assim...

Checo as duas ligações do Hyungwon que perdi. Mas é claro que perdi. Estive dormindo e, enquanto isso, ele me mandava mil mensagens perguntando onde estou e se fui sequestrado e assassinado num beco da cidade. Às vezes Hyungwon me assusta um pouco, mas apenas respondo que estou à caminho. Nem espero sua resposta; me arremesso debaixo do chuveiro, me ensaboando rápido, e saio tão lépido que até me surpreendo com isso, ao checar o horário. Eu nunca tomei um banho tão rápido na minha vida. Talvez porque meus banhos, no mínimo, duram quinze minutos.

Pego minha bolsa, ainda arrumada com as coisas do trabalho, e saio de casa ainda ajeitando o cabelo. Se eu tivesse mais tempo, tentaria passar uma prancha ou poderia até mesmo lavá-lo. Mas, infelizmente, aqui estou eu dirigindo super focado para não atrasar mais e evitar que Jooheon fique pistola comigo. Enfim, eu só pisei um pouco na bola. Não é o fim do mundo.

A cidade continua a mesma, as mesmas pessoas também. Até o céu cinzento que outrora costumava tirar-me do sério, de repente ele faz sentido para mim. Estaciono na rua seguinte, passo por uma esquina de fumantes e sou atacado com um punhado de fumaça. Meu livramento por hoje é o fato de eu sempre estar de máscara, o que claramente me ajuda em momentos como esse. Então desço a rua, empurro a porta e tiro a máscara do rosto.

— Apareceu a margarida! — exclama Jooheon, descruzando as pernas e levantando-se para me cumprimentar.

— Desculpa, eu estou um pouco atrasado... — digo o óbvio. Hyungwon ri da minha cara, já Jooheon faz um gesto para que eu sente. — Bom dia, Jooh, Hyungwon e... Minhyuk, né? Oi, Minhyuk — sorrio simpático para ele, sentado todo largado na cadeira e com a cara no telefone.

— Ah, oi, Kihyun. E aí? — ele decide ser simpático também.

Eu sorrio, mas na verdade quero fugir daqui. Estou prestes a me sentar ao lado dele, mas ele acaba por me impedir prontamente. Bem, eu só não gosto de me sentar no lado da passagem de garçom.

— É que o Changkyun está sentado aí.

— Ah, tudo bem — e eu não entendo porque estou tão atrapalhado para mudar de cadeira. Só tem mais uma cadeira livre, então é lá mesmo onde sento. Bem próximo a de Hyungwon, claramente entre ele e Changkyun.

Sinto-me levemente tonto, então talvez devesse pedir um café quente e alguma coisa para comer. Pego o menu sobre a mesa e rolo os olhos por cada coisa, decidindo o que realmente vou pedir. Enquanto isso, eles conversam algumas futilidades que claramente não me interessam. Meu estômago chacoalha só por eu estar lendo nomes de comida, então talvez a tontura venha daí mesmo. Eu odeio sentir fome.

Fome é como dor, pois dói. Ainda que nunca faltasse comida em casa, por vezes eu passei fome quando fazia estágios na França e precisava ficar horas sem comer — porque os superiores diziam que sim, comer o que estava a produzir no restaurante seria considerado roubo —, pois o trabalho era puxado e quase não haviam pausas, ainda que de meio período. Eu sempre achei essa busca pela perfeição algo cruel, como abdicar de todas as suas dificuldades e colocar-se em situações que lhe cansam fisicamente e mentalmente para alcançar determinado objetivo. Eu não quero ter de fazer isso nunca mais, embora sempre faça.

Thé et fleurs ┊ChangkiOnde histórias criam vida. Descubra agora