eu virei seu anjo da guarda

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Boa leitura!

Cansado. Estou demasiadamente cansado. Viagens cansam demais. E esse lance de ter de pegar barco e aturar Minhyuk cantar as músicas de Moana está definitivamente me cansando. Eu tiro inúmeras fotos e pincelo meus stories com as mais lindas paisagens que vejo, além das selcas que tiro com os meninos e sozinho. Gosto da calmaria disto, do sol contra minha pele, brincando de me fazer feliz. Eu olho o mar e me sinto pequeno. Um pequeno que contempla o profundo e diz que é belo. Sinto-me figurante de mim mesmo neste momento.

Olho para o lado, Changkyun está quieto observando as ondas abaixo de nós. Com seus fios pretos surrupiados pelo vento afoito e as mangas da camisa num sacode sem fim, ele vai cosendo minha retina à sua imagem estival e calma. E minha câmera bate nesta tua imagem, captura teu semblante distraído, salva seu ar sonolento e fascinado. Ele nem sabe o valor que ele tem. E isso é uma pena.

Minhyuk cantarola um "o horizonte me pede pra ir tão longe", já eu encosto o queixo na balaustrada e apenas espero. Eu não sei pelo que estou esperando, mas me sinto desta maneira. Se eu olho para trás, Jooh está tirando fotos com a noiva. E Hyungwon provavelmente está usando o modo pro da câmera do celular. Eu não tenho uma memória fotográfica perfeita, mas me lembraria de hoje para sempre.

Não é como se estivesse acontecendo algo extraordinário agora. Não está. E o ponto é exatamente esse. A simplicidade de se estar observando o mundo, como se ele estivesse dormindo, quando o sol já se prepara para se pôr. E é lindo. Não pensar em exatamente nada, porém em tudo, em tudo que estive ignorando por estar preocupado demais com as coisas que, honestamente, não deveriam ter o mínimo de preocupação.

— Vou tirar uma foto sua — escuto Minhyuk falar com Changkyun, que simplório concorda e deixa a lente da câmera estar em sua direção.

Eu bocejo, desvio o olhar. Infelizmente nem tudo é do jeito que eu quero. E às vezes, não sei se seria bom. De vez em quando eu quero tanta coisa que nem eu acredito nisso. A realidade é o que na verdade nós queremos acreditar. Mas eu não sei se acredito em algo mais bonito que isso aqui. As coisas são simples agora. E nítidas. E alaranjadas. Eu olho ao redor e lembro daquele pôr do sol em Paris, dos meus braços ao redor do seu corpo, dele apoiando a cabeça na minha. E de quando perguntei se ele me amava de verdade, só que eu já sabia a resposta. É como tirar uma dúvida com o professor de uma pergunta que você já sabe a resposta, mas quer dizer para si mesmo que aprendeu aquilo sozinho.

Quando chegamos, o sol já está quase sumindo. Há sombras em todo lugar. Há sombras aqui dentro de mim. Entramos na van alugada, rastejamos dentro da cidade, eu fico encantado com tudo. Com a arquitetura. E com a natureza. E o ar calmo e relaxante que aqui emana. Por isso que, quando chegamos na casa, eu não sei se sou o mesmo Kihyun que estava escutando a conversa alheia no aeroporto. Me sinto mais leve.

— Vão escolher seus quartos! — Jooh nos pede, assim que entramos e ficamos olhando ao redor com um brilho no olhar.

Fico parado na sala de estar, olhando, através da porta de vidro, a área da piscina. E o horizonte que é cortado um pouco pelas folhas das árvores lá trás. No entanto, consigo ver o céu laranja. E até me bato com Minhyuk quando decido andar para aonde todo mundo está indo.

— Não, Minho, você não pode simplesmente fazer isso... Não estou te ouvindo, o sinal está uma merda... — a voz de Changkyun passa por trás de mim e, quando me viro, ele está com o telefone grudado à orelha e caminha para a área da piscina.

Todo mundo está subindo as escadas, mas eu não. Fico olhando Changkyun lá, andando ao lado da piscina, erguendo o telefone para conseguir sinal. Eu quero falar com ele sobre algumas coisas, então posso esperar a ligação terminar. Não faço questão de conseguir o melhor quarto. Porque, francamente, esse lugar é tão lindo que qualquer quarto seria perfeito.

Ele deixou as bagagens aqui na sala de estar, assim como o smoking estirado num dos sofás. De relance eu vejo a entrada da cozinha, fico até tentado a dar uma olhada. Eu quero cozinhar alguma coisa em algum momento desta viagem, então espero não estar com tanta preguiça como estou agora. Espero que tenha um fogão elétrico. Será que tem? Bem, não vem ao caso agora. Viro-me de volta para Changkyun. Ele está literalmente pulando com o celular para cima, como se isso fosse ajudar.

Deixo meu smoking junto com o seu, a bolsa e as malas em qualquer lugar. Vou saindo consertando os óculos no rosto, prestes a oferecer meu celular para ele realizar a ligação. Mas... Merda! Merda. Merda. Merda... A última coisa que escuto é ele chamando a operadora de filha da puta, depois disso apenas o barulho do seu corpo na água. Era óbvio que nesses pulos dele, iria escorregar em algo molhado de uma possível chuvinha de verão e escorregar. Era óbvio. E eu nem estou na metade do caminho para impedir sua queda e, de bônus, o modo violento o qual bate o joelho esquerdo na borda da piscina após o escorregão. O universo odeia — odeia! — os joelhos de Changkyun. Puta que pariu viu. Puta que pariu.

— Puta que pariu — e aqui estou correndo o mais rápido que posso, uma vez que não estou certo de que Changkyun irá conseguir sair por si só.

Sei disso porque qualquer acidente na água é desesperador. Você sente a dor, então você quer sair de lá para poder tentar se recuperar. Mas e se a dor te impede de sair? É por isso mesmo que estou desesperado. Não tiro óculos nem nada, apenas me jogo na piscina até agarrá-lo e abraçar seu corpo. É complicado fazer isso quando ele fica se debatendo. Changkyun não sabe reagir a exatamente nada sem surtar antes. E eu não julgo ele neste momento. Eu também estaria assim.

Gostaria de tentar ajudá-lo mais, só que ele é mais alto que eu e fica se mexendo sem parar. Consigo forças do além para puxá-lo até a superfície e levá-lo até uma das extremidades. Ele está literalmente tremendo.

— Calma, Changkyun... — nem sei se ele está me entendendo, porque minha respiração está protagonizando tudo que falo. — Me ajude a te ajudar.

— Tá doendo... — sua voz está trêmula. Eu odeio vê-lo assim.

— Eu sei. Olha... Pare de se mexer e se agarre em mim, tá bom? Não tenha medo, pode jogar seu corpo todo em cima de mim — eu lhe peço, olhando seu rosto com a visão borrada pela água da piscina e a ausência dos meus óculos, que devem estar em algum lugar na água.

— Tá, tá... Confio em você.

Ele joga os braços sobre os meus ombros e eu sinto seu quadril enquadrar-se ao meu. Estou em demasiado desespero para mencionar que já faz bastante tempo que não nos grudamos assim. Eu soco o ar para dentro do meu corpo e o puxo junto comigo para a borda. Ele até consegue me ajudar no impulso para nos levantar até sentarmos fora da água. E, já fora, Changkyun tosse e cospe água, enquanto tento acalmá-lo com um abraço.

— Ai, Changkyun... Acho que eu virei seu anjo da guarda — sussurro, após ele me abraçar de volta.

Ele encosta a bochecha esquerda no meu ombro e sinto meu eu inteiro tremer.

— Também acho.

Thé et fleurs ┊ChangkiOnde histórias criam vida. Descubra agora