024: Um equívoco e nada mais

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Acordei a pouco menos de cinco minutos, no entanto ainda não consigo, ou simplesmente não tenho coragem suficiente para abrir os meus olhos. Portanto nesse curto período de tempo eu pude notar que onde quer que eu esteja, não é o meu quarto, pois o cheiro daqui é muito específico, assim como o som de vozes distantes me fazem entender que definitivamente não estou no lugar onde acordo todas as manhãs.

Eu tento me lembrar por qual motivo não estou no meu quarto, mas erro miserávelmente porque um resoluto bloqueio parece afetar minha mente de momento, de tal forma que me obrigo a forçar as pálpebras a se abrirem de modo que por fim começo a ganhar visão de um teto branco acima de mim tal igual a cor das paredes que me cercam.

Solto uma respiração trêmula pelo ato me causar certa dor de cabeça, ou melhor, piorar a que já sinto desde uma ponta a outra do meu corpo. Todo ele parece pesado, cansado, dolorido. Como se eu tivesse corrido uma maratona ou tivesse passado o dia inteiro praticando jiu-jitsu no quintal de casa.

Casa... Essa não é a minha casa. O pensamento passa por mim feito um feixe de luz e ansiosa eu varro a região com o olhar em busca de entender onde estou, e quando miro a alguns palmos de mim, longe da maca na qual estou deitada desconfortavelmente, a minha ficha parece cair pela primeira vez ao dar de cara com um homem trajando um jaleco branco, ao seu lado, os meus pais.

Pisco os olhos vezes seguidas sem me importar que isso intensifique a minha dor, de alguma forma, qualquer que seja, não me importo de agir dessa maneira porque sinto que mereço. Por algum motivo que ainda não me lembro, mas que certamente me fez vir parar em um hospital.

Os mais velhos que antes pareciam manter uma conversa calma se aproximam de mim, minha mãe em especial vem com tanta urgência em minha direção e só de notar os olhos úmidos envoltos em leves olheiras eu já começo a me sentir mal, pois lá no fundo sei que sou a culpada pelo estado de desespero da mulher que está me abraçando agora e que sem intenção nenhuma pressiona demais o meu corpo a ponto de gerar uma careta de dor em mim. A qual não some mesmo quando o meu pai se aproxima da gente e a afasta de perto com gentileza.

Sevda... — Papai murmura em gesto de repreensão. Mas mamãe nem lhe dá atenção, ela olha para mim, lágrimas novas se formando nos olhos.

— Você finalmente acordou, bal.

Eu sinto que tenho que me esforçar ao menos a sorrir para ela e confirmar que sim, porém nem isso e muito menos articular palavras estou sendo capaz de fazer antes que o doutor peça para que eles se afastem um pouco e comece com as avaliações básicas.

— Como se sente, Igith?

Eu o encaro pensando no que dizer, mesmo sabendo que definitivamente não estou lá nos meus melhores dias. Eles são pacientes em esperar pela minha resposta, só que não faço ideia sobre como começar com isso... Com uma conversa.

— Eu... hmmm... Eu não sei. — Falo a verdade, a confusão ainda é grande e não queria ter de mentir para ele. — Pai? — O encaro em busca de ajuda, de saber porque estou aqui, até que por instinto ao mover de leve o braço esquerdo eu olho para aquela direção. Para o meu pulso e os três novos curativos adesivos colados a minha pele.

E como um gatilho perfeito para clarear minha memória tudo vem até mim como um baque brusco da realidade acertando a minha face. As lembranças de ontem, as imagens, as falas, todos os acontecimentos se progetam muito rápido na minha cabeça de maneira que não consigo acompanhar e sinto a dor se intensificar provocando lágrimas nos meus olhos.

Eu lembro de extremamente tudo. Desde besteira que fiz na cozinha de manhã até àquela que quase cometi de noite no terraço da escola e pela terceira vez a minha ficha cai quando entendo que: estou absurdamente ferrada em todos os sentidos.

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