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Se passa uma semana desde o ocorrido de sábado, o qual todos tem tentado falar pouco sobre após eu tê-los pedido domingo à noite para que não tocassem no assunto até que eu esteja realmente pronta para isso - algo que eu tenho para mim que não vai acontecer tão cedo assim, não quando ainda me sinto tão péssima de tentar verbalizar. - Consequentemente fazem seis dias que eu não tenho contato com a minha melhor amiga, apesar de já ter conversado com a tia Banu um pouco em um desses dias; e venho também aprendendo defesa pessoal com Querin. Tal que acaba se tornando basicamente as duas horas mais boas e cansativas que eu tenho durante o dia.

Boas porque descobri que eu gosto muito de passar tempo com ele e praticar artes marciais é bom demais; e cansativas, pois quase sempre que aprendo uma técnica nova eu me sinto quebrada fisicamente, mas não a ponto de vencer o caos que se instala em mim nas horas que se precedem aos treinos.

Eu venho faltado a escola nos últimos dias e posso admitir que fico impressionada com a minha capacidade de esconder isso dos meus pais. No início, nos primeiros dois dias, eles permitiram as minhas faltas uma vez que as provas finais eu já tinha realizado, e nos dias posteriores foi só inventar que me atrasaria um pouco e agradeci por eles nunca terem me levado a escola desde que entrei no ensino médio.

Mas minha avó sabe das minhas faltas. Ela sempre está a par de quase tudo sobre mim, e como a sua recuperação tem acontecido melhor que o esperado, a mais velha tornou a fazer pequenas atividades para se reabituar a rotina.
Ela não critica a minha falta de vontade de ir para a escola, se preocupa mesmo com a minha falta de atenção com a comida ultimamente na mesma medida que se mantém a par da alimentação do meu irmão nos últimos dias.

Dizer que Ur está ansioso para a formatura seria um mero eufemismo para se referir a sua situação. Sôfrego talvez seria a palavra ideal para o estado dele referente a sua formatura. O garoto não faltou sequer um dia nessa véspera, pois para além dessa ser a semana na qual recebemos os resultados das nossas notas anuais - tais que não tenho muita curiosidade de saber -, ele tem praticado junto de outros finalistas para a celebração da cerimônia.

Querin me deu uma folga nos treinos hoje, portanto eu pude dormir um pouco mais e quando acordei e me certifiquei que todos já tinham saído de casa, calcei minhas pantufas e desci as escadas rumo a cozinha deduzindo que muito provavelmente quem está em casa é Bursüm que a estas horas ainda se encontra enterrada dentro das cobertas e vovó Yame, a qual presumo estar no jardim admirando suas plantas ou... Saindo da cozinha com um pequeno vaso com petúnias em mãos, na cabeça um lenço no mesmo tom anil da sua bata longa, cobre seus cabelos grisalhos pouco mais crescidos que o normal.

Eu travo no terceiro degrau faltando. Ela abre um sorriso preguiçoso para mim e ergue levemente a sobrancelha.

- Quer dizer que a senhorita não pensa mesmo em ir para a escola?

Levo a mão ao peito e faço que não.

- Tanrim büyükannem! - Meu Deus, vovó! Eu praguejo, pasma. Ela ri. - Quer me matar do coração?

- Do coração não! Eu devia mesmo é dar-te uns belos tapas no traseiro para ver se você aprende a ser mais responsável. Se você passar de ano é pura sorte, pois para além de faltar a escola eu sei das suas notas e olha lá, ein.

Eu encolho os ombros e desvio o olhar descendo os últimos degraus que sobravam. Vovó Yame sorri para mim.

- Eu fiz o que pude e espero que seja suficiente. - Quando ela assente, eu me aproximo e beijo sua bochecha com calma antes de seguir até a cozinha definitivamente e quase engasgar de maneira estúpida por não esperar que alguém estivesse lá, sentado a mesa com a concentração posta naquele mesmo bloco de notas que eu o vejo escrever diversas vezes, até não estar mais olhando para o caderno e sim para mim.

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