Aviso de gatilho
• Assédio
Hoje o dia não começou tão frio como o habitual. Logo, decidi usar apenas uma blusa de mangas compridas debaixo da camisa de uniforme ao invés de um casaco.Abro as janelas para arejar o quarto e acabo vendo Yudis agarrada ao braço do amigo de Ur que parece animado com a conversa. Ur aparece e fala alguma coisa que os faz rir, de certa forma essa imagem mexe comigo. Como eles conseguem ser tão alegres? Como Yudis consegue animar alguém que sempre aparenta estar sério?
Volto a fechar minhas janelas por um sentimento de desânimo que toma conta de mim, de seguida eu solto o ar que nem tinha percebido que estava preso em meus pulmões.
Diferente dos outros dias, hoje preparei-me cedo para ir à escola, não que eu tenha algum motivo especial, apenas aconteceu e acho que isso dá motivos para estar Yudis entrando no meu quarto sem bater a porta somente porque não a deixei trancada hoje cedo, o que também é questionável porque dificilmente faço isso.
— Toc-toc. — a minha amiga diz vindo em minha direção com um sorrisinho alegre desenhado nos lábios.
— Oi. — Eu murmuro tentando dar um jeito de arrumar os meus cabelos num coque que não seja tão desleixado como dos outros dias.
Yudis joga sua mochila de lado na cama antes de jogar seu corpo ali de maneira relaxada e estar me encarando com uma falsa careta de tristeza.
— Deixa ele solto, gatinha. As pessoas precisam ver você arrasando com essas chamas. — Acho que é precisamente por isso que eu não os deixo solto de qualquer maneira. É incômodo e desteto quando estão olhando para mim pelo comprimento ou pela cor dele.
Mas Yudis pensa o contrário. Sempre vê formas de me admirar por eles.
Quando criança, alguns colegas da escola riam do meu cabelo por ser ruivo e diferente de todos os outros. Yudis sempre me defendia admirando meu cabelo por ter a cor do por-de-sol e a cor de chamas. Mas eu não ligo muito para isso, tanto que, tem vezes que tenho vontade de cortá-lo.
O que parece que não vai tardar tanto assim à ser feito.
— Hoje não. — Declaro ajeitando os cadarços da minha sapatilha.
— Nossa, que desgostosa — Ela brinca fitando o teto, pensativa. — Por que não me contou que o Querin mora na sua casa?
Eu ergo meu corpo de imediato, surpresa.
— Então você conhece ele?
— Claro que conheço, ele era veterano na nossa escola, muitas garotas conhecem ele, por sinal. — Yudis está mascando um chiclete, o que acho irritante quando ela o estala de repente. — Você não o acha lindo?
Dou de ombros, me voltando para a minha escrivaninha do outro lado do quarto onde está a minha mochila.
Eu não o acho lindo. Tenho a certeza disso. Mas parece estranho e errado que eu tenha pensamentos assim por um garoto, uma vez que faço de tudo para os repelir sempre que posso.
Então pondero que o melhor é guardar isso só para mim mesma quando digo com falsa indiferença:
— Sei lá.
— Como assim, "sei lá"? Me explique. — Tenho vontade de dar uma risadinha do tom de acusação em suas palavras, porém me contenho.
— Eu não interajo com ele. Nem sequer o vejo ele pela casa. — Eu acho que acabo de contar uma meia verdade para minha amiga, o que não é tão ruim comparado ao que não tenho contado faz anos.
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Marcas do Passado [✓]
Teen Fiction[+16] SINOPSE Igith Kefrām, uma garota comum em seus plenos 16 anos, vivencia uma de suas piores fases após o acontecimento que mudou radicalmente sua vida anos atrás. Fazendo parte de um ambiente familiar conturbado, a garota ruiva se priva...