Estamos deitados de barriga para cima, ambos quietos desde que demos os nossos primeiros beijos. Minhas mãos estão descansadas na região do estômago enquanto as dele não param sequer um segundo de mexer nos meus cabelos — algo que me conforta tanto e me faz pensar que gosto de saber que ele gosta dos meus cabelos mais do que eu mesma.
Querin não está olhando para mim, nem eu para ele, mas compartilhamos o silêncio mais confortável que já dividimos juntos por mais tempo que o esperado.
Não sei se passam minutos ou horas que estamos aqui fazendo nada, entretanto tenho o conhecimento de que não faz muito tempo que comecei a pensar sobre o que acabou de acontecer e de como me senti.Foi fantástico, eu admito. Uma sensação que não esperava ter tão cedo, ao menos não nessa vida. Experimentar aquele momento com Querin me fez entender que eu quero sentir mais daquilo, não do beijo em si, mas mais daquela sensação de conforto por estar com quem eu gosto o quanto antes. O quanto posso, enquanto a vida me permite apreciar isso.
Tenho a sensação de necessitar fazê-lo por mim e por eles, nesse instante em que estou sendo presenteada por momentos de luz, tais que eu sei e tenho máxima certeza que nunca duram tanto quanto eu já sonhei que durassem. E conforme sou envolvida por esse sentimento de incerteza, medo e ansiedade eu suspiro, trêmula e lentamente. De seguida me sento sobre a cama e declaro:
— Eu já sei... — Querin se senta também, confuso pela minha súbita reação enquanto eu busco pelo meu celular em algum lugar da cama.
Quando o acho, eu o encaro hesitante.
— Sabe o quê? — Indaga ele. Aponto para o meu celular ao desbloqueá-lo.
— Qual é o sonho que eu mais desejo tornar realidade. — Explico digitando uma mensagem para Yudis no nosso chat de conversa.
— E para quem você está escrevendo?
— Yudis, preciso que ela convença tia Banu a cancelar as atividades de Sexta. — Paro de escrever e o olho sem soltar os dedos do celular. — Quero reviver aquele momento da fotografia com a minha família. Com todos vocês.
Querin me encara um pouco confuso, como se ainda não tivesse lhe cabido bem a informação que o dou. Mas então, ele assente levemente com a cabeça ainda que sua expressão seja pensativa.
— Não acha que sexta é um dia inapropriado para fazer isso? Todos temos horários marcados, Igith.
Eu confirmo, logo respondo sem desviar os olhos da tela.
— Está tudo bem, eu dou um jeito de convencer vocês. Sexta é um dia bom, pois veja bem: é um dia antes da formatura de Ur, estarão fugindo da correria que é a semana de vocês e mais, estaremos perto uns dos outros por um dia inteiro sem se preocupar tanto com os problemas da vida. Acredito que nós merecemos isso — eu preciso disso.
Meus argumentos roubam um leve riso dele antes que eu por fim envie a mensagem e espere pelo retorno que não demora a chegar.
Eu: Tem como me ajudar a convencer tia Banu a cancelar os horários de sexta?
∞Yudis: Ué, mas por quê?
Eu: Quero um passeio com vocês e com o pessoal de casa
Eu: Na sexta-feira :).∞Yudis: Tá falando sério? Sexta-feira, Igith amiga? Por que não espera pelo domingo?
Eu: Domingo todo mundo vai estar exausto devido ao Sábado. Mais fácil relaxar na Sexta a espera do Sábado.
Eu: Não quero argumentar muito e tentar te persuadir a fazer isso, portanto, por livre e espontânea vontade eu seria muito grata se você, como minha melhor amiga, fizesse isso Yudis.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Marcas do Passado [✓]
Teen Fiction[+16] SINOPSE Igith Kefrām, uma garota comum em seus plenos 16 anos, vivencia uma de suas piores fases após o acontecimento que mudou radicalmente sua vida anos atrás. Fazendo parte de um ambiente familiar conturbado, a garota ruiva se priva...