Marcas do Passado [✓]

Resenha

Marcas do Passado é um romance dramático que conta a história de Igith, uma adolescente turca que, após passar por uma série de eventos traumáticos, tenta seguir em frente e aprender a lidar com as marcas de seu passado com a ajuda de Querin, um novo amigo que aparece inusitadamente em sua vida.

ATENÇÃO: Esse livro contém alguns conteúdos que podem gerar gatilho, como: automutilação, tentativa de suicídio, estupro e violência.

A história começa contextualizando a situação de Igith, uma garota de 16 anos que tem poucos amigos, um relacionamento familiar conturbado e desgastado por causa de problemas passados que são apenas ignorados — mas nunca resolvidos —, e, além disso, foi vítima de violência sexual por alguém relativamente próximo.

Por causa desse trauma, a personagem tem problemas de se conectar com novas pessoas e até mesmo com quem já faz parte de sua vida a um bom tempo. No início da história, a amizade com Yudis, a melhor amiga, encontra-se morna — ainda que tenha muito amor e compreensão envolvidos —, especialmente pelo fato do relacionamento não ser mais o mesmo do que antes costumava a ser, além das péssimas memórias que envolvem a casa da amiga.

A situação em sua família é ainda mais complicada do que em sua vida social. A protagonista não tem um bom relacionamento com seu pai — pois o encontrou traindo a sua mãe —, e também tem um relacionamento complicado com sua progenitora e irmão, que, de certa forma, a decepcionaram de formas muito pesadas. Além disso, Bursinha, a irmã caçula, tem fobia social, e, inicialmente, não consegue sair de casa ou ver qualquer pessoa. Por sorte, Igith tem a sua avó, que é o ponto de equilíbrio do lar.

Diante de todo esse contexto, Querin, o melhor amigo do irmão de Igith, acaba se aproximando da garota e, consequentemente, acabam desenvolvendo uma lenta e linda amizade, fundamentada, principalmente, em desabafos, conselhos e conversas profundas.

Tudo isso agrupado forma o plot da obra, que é um dos que eu mais me interessei na plataforma, e o desenvolvimento correspondeu as minhas expectativas.

O ponto mais forte desse livro está no desenvolvimento dos personagens, não somente da principal. Cada um dos integrantes da narrativa tem conflitos que são trabalhados lentamente, de forma que nada soa apressado ou apenas jogados, mas sempre é coerente. Os problemas dos personagens são complexos e reais, fogem de qualquer superficialidade, e ninguém é preso a uma única camada. Todos aqui tem sentimentos reprimidos, mágoas guardadas, decepcionam e também se sentem decepcionados. Sem dúvidas, os personagens são o que se tem de melhor nessa obra, e a maneira que são conduzidos até os seus desfechos é o que eu mais gostei na história.

Sobre a interação dos personagens, é muito interessante ver como os relacionamentos da protagonista vão se tornando mais maduros e estáveis ao decorrer dos capítulos. Aqui os personagens — a partir de determinado momento — sabem se expressar, deixam suas ideias claras para os demais, buscam compreender o outr e possuem conexões muito interessantes. Ainda que o clima familiar seja complicado, eles se amam e se mostram dispostos a melhorar pelo bem-estar dos demais, e isso foi lindo de acompanhar. Além disso, a trajetória da amizade de Igith e Querin foi super especial e diferente, o que me permite dizer que está entre as que mais gostei de acompanhar. Tudo aconteceu de uma maneira leve, pura e coerente. Foi incrível poder observar suas evoluções e aprender com os personagens.

Sinceramente, histórias que discutem esses tipos de temáticas — traumas, depressão, ansiedade, suicídio, autoconhecimento, superação — são sempre as minhas favoritas, e a autora consegue conduzir as condições que colocou em seus personagens de forma exemplar. As cenas mais pesadas conseguem ser bastante impactantes e reflexivas, e trazer esse tipo de debate em livros é sempre importante. No entanto, sobre a maneira que as "duras" problemáticas da história são abordadas, é evidente que a autora é uma pessoa consciente e responsável, mas ainda é preciso repensar como alguns detalhes são encaixados dentro do enredo — especialmente alguns dos temas que podem ser gatilho para algumas pessoas, que são encaixados de forma nua e crua dentro do texto.

Por fim, depois de uma trajetória emocionante, a conclusão da história corresponde as expectativas e é coerente a tudo que foi apresentado na narrativa. O enredo pode muitas vezes soar previsível, mas atende a tudo que propõe com maestria.

Marcas do Passado ficou em primeiro lugar na segunda edição do Projeto Hall da Fama, e isso diz muito sobre o quão boa e eficaz essa obra é. Entrega uma leitura de fácil compreensão, reflexiva e com temas importantes. Certamente, está entre as melhores ficções adolescentes do Wattpad.

Recebi essa resenha maravilhosa do willpeartree por conta de um concurso que ele criou aqui na plantaforma. Agradeço de coração a ele por ela, foi também uma motivação enorme para que a segunda versão da obra acontecesse, assim como as críticas construtivas que ele deu após finalizar a leitura de Marcas do Passado.