No show

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As luzes coloridas e a música circense tocando em algum lugar dão a tudo um ar quase nostálgico. Ochako se lembra de ter ido a um festival desses uma vez quando era bem criancinha, sua individualidade ainda estava para se manifestar, então ela não podia fazer coisas flutuarem ainda, por isso pôde apoiar tranquilamente as mãozinhas na cabeça do pai, que a carregava nos ombros e lhe permitia poder ver os passantes e as atrações todos de cima. Seu coração se aperta com saudade de seu pai verdadeiro, o daqui do jogo se parece com ele em aparência, mas não tem muito de sua personalidade, é mais sisudo e distante, só se dirige a ela para perguntar da escola. Saudades dele, saudades de sua mãe, saudades da Gravidade Zero.

- Você está bem? - a Tsu pergunta, amarrando o avental que compõe seu uniforme e olhando-a.

- Hum? Ah... sim!

- Melhor que esteja mesmo, nós temos muito o que fazer. - ela acena com a cabeça para Ochako.

- Sim. Perdão, Asui-san, por ficar viajando.

- Não precisa se desculpar. Vamos ao trabalho. - não soa grosso nem ríspido, muito pelo contrário, é o mais afetuoso que essa garota já soou com ela. Interações assim têm sido mais frequentes desde que Ochako passou os 50% da intimidade.

- Sim, senhora! - a garota de cabelos verdes dá um meio sorriso.

É meio difícil dizer se a Tsu apenas aprendeu a tolerá-la ou se só não a odeia mais, mas a morena tem certeza de que não dá pra falar que elas são amigas. Ela ainda revira muito os olhos para algumas coisas que Ochako diz ou faz, ainda faz apontamentos gratuitamente grosseiros e... provavelmente ainda acha que a protagonista não se esforça tanto para afastar o Kirishima como deveria, já que não gosta dele. Seja como for, elas estão trabalhando juntas, servindo sorvete para os NPCs, que começam a aumentar cada vez mais.

O palco já está montado, e há um NPC fazendo as vezes de mestre de cerimônia fazendo anúncios no palco e distraindo a plateia, que começa a se aglomerar ao redor de onde a banda da Kyoka - que se chama Funhouse, ela aprendeu depois de ouvir todos os álbuns do grupo para pelo menos tentar passar como uma amiga minimamente decente - irá se apresentar.

Por algum motivo, os NPCs aqui presentes têm rostos completos, mesmo que suas fisionomias não variem muito. O NPC que está no palco tem a voz e os trejeitos bastante parecidos com os do Present Mic, além da longa cabeleira loura - que não está estilizada como a do professor, mas o bigodinho é igual também.

Isso a faz ter certeza que esse evento é muito importante para o enredo do jogo, mais especificamente para a rota da Tsu. Como ficou nas rotas anteriores, Ochako está bem nervosa, mas das outras vezes era pelo medo de receber uma confissão e não saber como aceitá-la, tanto que recusou as duas que vieram do Deku e do Kirishima. Agora é diferente, sua intimidade está um pouco acima da metade, e a Tsu não está apaixonada por ela.

Ela nem precisa dos palpites do Bakugou para imaginar o que acarretaria no bad ending nesse caso: a Tsu vai se declarar para o Kirishima, e ele, não tendo qualquer obrigação de aceitar já quem nem a conhece direito, vai rejeitá-la. Mesmo que isso nem tenha nexo, a garota de cabelos verdes vai culpá-la por ter sido rejeitada, porque é assim mesmo, uma pessoa de coração machucado não raciocina direito, e a Tsu já tem suas inclinações a odiá-la, então a culpa vai recair em Ochako. E esse é o bad ending, que parece muito palpável, e o pior, muito próximo.

Mas mesmo que nem precise da opinião do Bakugou, ela ainda queria que ele estivesse aqui. É estranho como a presença de alguém que está sempre brigando com ela e questionando cada passo que dá nesse jogo faria tanta falta, mas... o Bakugou é a única pessoa de verdade além dela, ele não é um personagem e, por mais chato que possa ser, é com quem ela mais sente identificação e até um certo conforto. Além do mais, a garota tem a impressão de que ele não interage com mains ninguém além dela, salvos alguns momentos em que precisa ser o vilão para que os pretendentes do jogo façam oposição a ele. Imaginá-lo tão sozinho não lhe agrada, mesmo que o loiro jamais diria a ela se isso o incomoda.

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