Na sorveteria

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O jogo terminou em 3 a 1, Kirishima marcou dois gols e foi ovacionado pelos NPCs na arquibancada, inclusive por ela, que não é uma NPC. Ochako não entende muito de futebol, mas conseguiu aprender um pouco enquanto assistia, impressionada com a habilidade do ruivo durante todo o tempo em que ele esteve em campo, sendo substituído faltando uns minutos pra acabar. 

Quando ele passou pela lateral do campo para sair do jogo, seus olhos se cruzaram por um tempo considerável. Claro, ela é a protagonista, é natural que haja um destaque instintivo para sua figura mesmo no meio de uma multidão, então não chega a ser surpresa que ele tenha conseguido avistá-la na arquibancada com tanta facilidade. 

O que é surpresa, porém, é como o Kirishima lhe olha: com serenidade. Ele parece tranquilo, mesmo que tenha feito um tremendo esforço físico por bastante tempo e tenha tido aquela conversa que com certeza foi desgastante emocionalmente um pouco antes. Ela o rejeitou, e Ochako ficou com muito medo do que poderia acontecer para gerar um bad ending. O Bakugou disse que poderia ser algo relacionado ao jogo de futebol, e a garota assistiu a tudo com o máximo de atenção, mas não identificou nada de ruim, o time do Kirishima venceu, o garoto brilhou, e tudo está bem.

Ela só teve a impressão de tê-lo visto mancando quando deixou o campo… será que…? Bom, seja como for, a barrinha está em 100% de intimidade e o jogo já acabou, e mesmo que não tivesse tais fatos a seu favor, Ochako viu nos olhos dele que está tudo bem. O Kirishima está triste, claro, mas parece mais tranquilo e… feliz.

E ela… está feliz também. Mais feliz do que estaria caso tivesse dito “sim” àquela confissão e… sabe-se lá o que aconteceria depois. Incerteza por incerteza, Ochako prefre fazer aquilo que não trai a si mesma.

Então, quando o Kirishima passa pela lateral do campo e seus olhos se cruzam, ela não os desvia em constrangimento, sorri e acena ao sussurrar um “bom trabalho, Ei-kun”, esperando que ele seja capaz de entender sua linguagem labial.

O garoto sorri e acena em um gesto que remete a algo bastante profissional, ela quase consegue visualizar o Kirishima original batendo os punhos endurecidos um contra o outro nessa mesma postura. A imagem lhe traz bastante conforto, mesmo que não seja super próxima do garoto, ela nutre enorme simpatia por ele e sente que se eles tivessem mais chances de conversar, descobririam que são pessoas muito parecidas.

Taí uma coisa a se pensar pra quando ela voltar: aproximar-se de alguém cuja companhia é agradável e provavelmente consegue compreendê-la em um nível razoável.

Quando ela voltar…

Isso lhe causa um aperto no coração, há quanto tempo eles já estão nesse mundo? Não há calendário, as pessoas falam de um Festival Cultural se aproximando, houve um especial de Halloween, o que a colocaria em algum momento entre o fim de outubro e começo de novembro, mas o clima e ambiente amenos e ensolarados lhe fazem crer que estão em maio ou julho. O tempo é confuso, e Ochako não tem ideia do que está acontecendo em seu mundo ou se alguém sequer cogitou relacionar a presença de um jogo estranho no video game com a TV caída e o desaparecimento dela e do Bakugou. 

Se o Deku, sendo o gênio analítico que ele é, não conseguiu ligar os pontos, a ideia agridoce de alguém que seja conhecido por ser, hã… menos brilhante, talvez o Kaminari ou até mesmo o Kirishima, sugerir a possibilidade de “e se eles estiverem presos no jogo?” e não ser levado a sério lhe passa pela cabeça.

Isso tem completa chance de acontecer, se for parar pra pensar bem.

—  Nossa, olhando assim, parece até que o time perdeu. —  uma voz feminina lhe chama atenção, e quando Ochako volta a si, encontra a Kyoka olhando-a, as mãos nos bolsos da jaqueta cinza e uma guitarra dentro da bolsa que ela carrega nas costas fazem-na parecer alguém que emana a aura de tudo que é descolado nesse mundo, a única coisa que lhe falta é um par de plugues descendo a partir de suas orelhas.

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