No refeitório

658 148 94
                                    

 Ochako mantém seu olhar fixo nas prateleiras, onde pãezinhos e bolinhos estão à mostra. Há uma multidão para comprar comida na hora do intervalo, e como a U.A. oferece as refeições de maneira bem mais organizada, dispondo de quase um buffet no qual os alunos só precisam formar fila e esperarem chegar sua vez, a garota não tem esse costume de enfrentar uma multidão para comprar comida, ainda mais uma multidão de rostos sem grande definição, que a olham, mas parecem não estar vendo nada, de fato.

Se tivesse sua individualidade, ela com certeza trapacearia um pouco, ativando a Gravidade Zero e flutuando até que conseguisse ter uma boa visão das prateleiras, mas sendo a garota relativamente baixa que é e sem poder usar suas habilidades, só lhe resta ficar na ponta dos pés e tentar ver algo em meio a esses NPCs.

Ela persiste, tentando passar pela multidão, mas quanto mais tenta, mais é engolfada pela horda de gente, Ochako procura usar seus ombros para afastá-los, mas alguém parece ter a mesma ideia e a empurra com o dobro de força, a garota esbarra em alguém e cai sentada, ouvindo risadinhas dos NPCs.

Uma mão se estende para ela, claro que se estende, esse parece mesmo o tipo de coisa que aconteceria para criar alguma interação amorosa com seu pretendente. A morena já revira os olhos, pronta para recusar o gesto do Kirishima que, apesar de gentil e válido, não é algo com o qual ela queira lidar agora. Ochako ainda estpa brava pela ceninha de ontem, incomodada como ele falou que ela "não entende" como se fosse uma criança, isso depois do Bakugou fazer um comentário extremamente estúpido, e pra quê? Pra criar alguma situação em que o Kirishima defende a honra dela, fazendo com que a garota se sinta grata e engate um romance? Isso é jogar baixo, e Ochako esperava mais do Bakugou, bem mais. Já do Kirishima, bom... ele é só um personagem, está fazendo o que é coerente para si, mas ela não está a fim de ser racional agora, Ochako quer ficar brava, não quer dar a mão ao Kirishima e...

... não é a mão do Kirishima. Nem ao menos se parece com a dele, essa é meio grande, mas... tem a pele mais lisa e clara, unhas redondinhas e... um anel de sapinho.

— Tsu- Asui-san. — ela não contém a surpresa, claro, afinal a garota quase nunca lhe dirige a palavra e, quando faz, é sempre bem ríspida. Não do mesmo jeito debochado do Monoma ou da secura do Todoroki, porque por mais que eles sejam meio grossos, parecem prestar atenção nela, já essa Tsu é só... indiferente.

Mas pelo menos não agora, ela está estendendo sua mão em um gesto raro, e seria muita burrice não aceitar.

— Você esbarrou em mim. — ela informa em tom meio áspero.

— A-ah, eu... me desculpa! Não foi de propósito! Eu só tava tentando comprar pão e aí me empurraram.

— E cadê?

— Hum, cadê o quê?

— Seu pão. Você disse que estava comprando.

— Eu tava "tentando", não... não consegui.

— Ah. — ela fica olhando, e Ochako espera que ela diga algo a mais ou pergunte "então você não tem nada pra comer?", uma parte muito otimista sua deseja que a garota até ofereça um pedaço do pãozinho que tem em mãos, mas... ela não diz nada, não está nem olhando-a mais, e sim para algum ponto mais alto acima da cabeça da morena.

— Você tá sem o que comer? — a pergunta que ela esperava da Tsu vem do Kirishima, que surge atrás dela, fazendo com que ela o reconheça pela voz.

— Não, eu estou bem. — ela o olha rapidamente por cima do ombro.

— Eu sei quando você tá mentindo, sabe? — Ochako se recusa a olhá-lo, e só o ouve suspirando. Um pãozinho avermelhado envolto em plástico surge em seu campo de visão, Kirishima está segurando-o por cima da cabeça dela. Talvez seria um gesto bonitinho se ela não estivesse brava, mas como Ochako está, parece só um lembrete simbólico do que ele disse antes sobre sempre estar lá para socorrê-la.

Tudo o que está em jogoOnde histórias criam vida. Descubra agora