Na gravadora

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 A Kyoka desse mundo canta tão bem quanto a verdadeira.

Essa é uma constatação fácil de fazer assim que ela apresenta sua demo com a guitarra e uma voz docemente rouca cantarola uma música de ritmo lento e profundo. Os rostos desses NPCs, diferentes de tantos, são bem definidos. Eles têm olhos e expressões faciais, tanto as outras garotas que são membros da banda quanto o rapaz que deve ser o produtor musical ouvem a música atentamente, mas apesar de terem rostos, a expressão deles é indecifrável.

Ochako assiste a tudo, definitivamente se sentindo qualquer coisa, menos protagonista nesse momento. Ela e a Tsu estão sentadas em um sofá de um roxo extravagante e só puderam ter acesso a esse momento depois que a Jirou explicou aos presentes na reunião de que eram suas amigas e prometeu que elas só estavam ali para assistir sem causar nenhum escarcéu típico de fãs empolgadas. A morena não sabe se a Tsu é fã da banda da Kyoka, e agora se envergonha um pouco de ser considerada amiga da garota de cabelos roxos e nunca ter parado para ouvir as músicas dela desde que chegou nesse mundo maluco. Em todo caso, tanto ela quanto a Tsu se mantêm verdadeiras ao que a Kyoka prometeu, ficando quietinhas e apenas assistindo a tudo de longe.

— Com uma base de baixo meio funky, pode ficar mais bacana, mas vocês que sabem. — a garota de cabelos roxos dá de ombros e soa casual, mas algo no rubor das bochechas dela denuncia que está nervosa enquanto espera aprovação de seu trabalho.

— Por mim tá dentro. — uma das garotas, de cabelos loiros e compridos, dá seu apoio. Ela é a vocalista, segundo os quadros pendurados nas paredes com fotografias da banda em cima de discos dourados e prateados.

A alegria e alívio no rosto da Kyoka quando sua música vai recebendo sinal verde de cada um, inclusive do produtor, faz Ochako sorrir também.

— Bom, parece que deu tudo certo.

— Sim! Fico feliz de a gente ter conseguido a tempo.

— Foi bom a música ter sido aprovada também, se não esse esforço todo teria sido pra nada. — ela diz, e só quando se vira para olhá-la, percebe o olhar julgador de Ochako, que não gosta de mais esse comentário levemente grosseiro — Você me entendeu, não precisa me olhar assim.

— Você não percebe que esse seu jeito só afasta as pessoas?

— O quê?

— Uma coisa é ser tímida, eu entendo, também me embolo pra falar o que tô pensando por vergonha às vezes. Outra coisa é nem se esforçar pra dizer algo legal, isso só afasta as pessoas de quererem ser suas amigas.

— Que bom que ninguém nunca quis ser meu amigo, então.

— Certeza? Ou você só afastou qualquer pessoa antes de sequer dar uma chance?

— Eu... — Ochako quase antecipa um "ribbit", mas essa não é a Tsu que faz isso, é outra, uma que também parece estar armazenando um turbilhão de sentimentos por trás de uma expressão geralmente neutra, mas que lida com isso de maneira muito diferente. A Tsu original se esforça em ser carinhosa como pode, essa aqui tomou a rota contrária e está sempre com pedras nas mãos, pronta pra se defender de um possível ataque... de amizade — Você não entende.

— De novo isso?

— Mas dessa vez não entende mesmo. — isso, de certa forma, soa como progresso, pois agora ela acredita que Ochako lhe entende em relação à sua dificuldade de enfrentar sua timidez no trabalho — Porque você está cercada de amigos que te adoram.

Bom, isso é... isso é um fato. Mesmo que sejam impelidas a serem amigas dela por força do enredo do jogo, não há dúvidas que a Yaomomo e a Kyoka lhe querem bem e são suas amigas. O Deku e o Kirishima, mesmo depois de rejeitados romanticamente, seguem dispostos a manter a camaradagem, e são sim seus amigos. E tem o Bakugou... que não demonstra muito, mas se preocupa ao ponto de checar se a rota da Tsu seria demais pra ela, porque ele entende o suficiente da amizade de Ochako com a garota rã no mundo real para saber que é algo importante... isso parece algo que um amigo notaria para garantir o bem estar da amiga...

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