Em frente à sala dos professores

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 Ochako esperava que ele a olharia com tédio, talvez até com desdém, afinal, na última vez em que se falaram, ela foi irredutível ao recusar-se em ouvir qualquer coisa que não fosse um pedido de desculpas vindo do Bakugou. Tudo vai se consertar se ele pedir perdão? Claro que não. Mas a garota só queria que ele... se mostrasse minimamente arrependido, que demonstrasse que... se importa com ela e com os sentimentos dela.

E não dá pra saber se ele se importa, mas a expressão de surpresa com que a recebe é inesperada e indicativo de que ele ao menos sabe que Ochako não viria atrás dele não estivesse desesperada.

E como ela não estaria? O Todoroki sabe de tudo, sabe que ela não é desse mundo, está ciente de que é um personagem no jogo e ele... ele é tão... ela não tem ideia do que ele quer! Quer dizer, a garota entendeu que a prioridade dele é a peça de teatro, todo o resto parece ser apenas um mero detalhe, mas se é assim... o que ela tem que fazer nessa rota pra conquistá-lo?

— Eu já vi jogos que quebravam a quarta parede, mas não eram jogos de romance. — ele analisa assim que Ochako termina de relatar toda a conversa que teve com o senpai, omitindo as partes em que ele flertou agressivamente com ela, claro.

— "Quarta parede"...

— É, quando-

— Quando um personagem assume que está numa obra de ficção e fala diretamente com a plateia. — ela explica — Aprendi com o Todoroki-senpai no clube de teatro.

— Hum. — ele coça a cabeça e olha pro lado — Deu pra perceber que ele sabia, mas não achei que ele ia te falar assim na cara.

— Ele disse que não via sentido na gente ficar escondendo um do outro o que somos.

— Combina com a personalidade desse tipo de personagem kuudere.

— Mais um "dere"? — ela suspira.

— É, esses personagens mais sérios que parecem frios e o caralho.

— Ah, entendo... mas o que eu faço? Se ele sabe que é um jogo, nada do que eu falar pra ele vai soar convincente.

— Ué, você não falou que ele disse que só se preocupa com a peça de teatro? Foca na peça, então.

— Sim, mas... é só isso?

— Só isso o quê?

— Focar na peça e nada mais? Eu não tenho que... sei lá, conhecê-lo melhor, descobrir qual o problema que o torna alguém tão difícil? Não tenho que me aproximar e... sei lá, mudar a maneira dele de ver o mundo ou algo assim? — não foi exatamente o que ela fez de maneira restrita em nenhuma das rotas, verdade seja dita, mas é assim que esses jogos costumam funcionar, não? Disso ela lembra assistindo à Mina e à Tooru jogando, por mais que os personagens e acontecimentos sejam diferentes, a ideia é sempre fazer o pretendente se apaixonar ao causar uma impressão tão forte nele que o faz repensar sua vida e às vezes mudá-lo. Para melhor nos finais felizes, e para pior nos bad endings.

— Mas se o cara já sabe que isso é um jogo, nada dessa merda vai funcionar, só foca no que ele te disse pra fazer.

— Bom, isso ele vai adorar, com certeza... — ela murmura, fazendo uma careta ao pensar nas insinuações que o garoto fez sobre "discipliná-la" e coisas do tipo, o Todoroki desse mundo é bastante mandão e exigente — E você acha que eu consigo pegar o good ending assim? É só não fazer nada de errado na peça de teatro?

— Só pode ser isso. Mas também... — ele resmunga alguma coisa que não dá pra ouvir.

— O quê?

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