Quando começa a nevar (Epílogo)

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— Eu pensei bastante sobre sua confissão, e agradeço muito pela sua honestidade. Mas eu... não posso aceitar, me desculpe.

As árvores estão secas e seus troncos parecem possuir um tom mais escuro de marrom, quase preto. Logo será inverno. Ochako agarra seu cachecol com força quando sente um vento mais forte bater. O ideal seria fazer isso em algum lugar fechado, mas nos últimos tempos, sempre tem alguém por perto onde quer que ela vá, então não restaram muitas opções além de chamar o primeiranista para conversar assim que ele deixou o treino no ginásio.

— É, eu imaginei. — ele sorri, meio sem graça.

— Imaginou?

— Sim, eu... já esperava que você fosse me rejeitar antes, senpai, mas imagino que... o que aconteceu recentemente com você e com o Bakugou-senpai deve ter sido complicado.

— Ah... eu... bom, não que as coisas estejam relacionadas, mas... eu... — ela bufa — Eu realmente não sei o que te dizer, me desculpa mesmo.

— Não se preocupe, você está indo muito bem. — ele diz em tom complacente e, depois de hesitar por um segundo, leva uma mão ao ombro dela. E Ochako adoraria entender como a situação ficou desse jeito: ela sendo consolada pelo garoto que acaba de rejeitar — Eu não tenho ideia de como foi, não sei bem o que aconteceu e imagino que você não pode falar muito sobre o assunto, mas o que eu sei é que... não me arrependo da confissão, gosto muito de você, senpai, e estou torcendo para que você fique bem.

Ele é tão gentil... tão maduro mesmo sendo um ano mais novo, Ochako sente que nada do que ela disser será o bastante para agradecer a esse garoto pela compreensão. É assim que ela vem se sentindo há algumas semanas, parece que nada do que ela diz ou faz é o suficiente, não ter uma barrinha de afinidade indicando se o que sai de sua boca agradou ou não tem lhe deixado ansiosa, e todos têm sido tão pacientes, principalmente nos momentos em que ela fica muito calada ou se isola. É tão bom ter amigos, estar de volta para as pessoas que conhece de verdade, e a garota quer aproveitar cada minuto disso, não desperdiçar nenhum momento que pode ter com as pessoas que ama e se importa, mas... desde que deixou o jogo, desde que teve dar alguns depoimentos na polícia e falar em minuciosos detalhes sobre o que houve durante todos aqueles dias, — que não passaram de seis horas e meia aqui no mundo real, e até hoje ela não consegue processar essa informação direito — ela tem encontrado paz nos poucos momentos em que fica sozinha no quarto. É estranho, porque aquele jogo a fazia se sentir um tanto solitária, e o mais natural seria não querer ficar sozinha nem por um minuto agora que está onde quer e deveria estar, mas... não é assim que Ochako se sente.

— Será que eu tô mesmo? — ela pergunta mais pra si do que pro garoto — Nossa, me desculpa, eu tô sendo tão egocêntrica fazendo isso ser só sobre o que eu sinto. Você... você é um garoto muito legal, muito mesmo! Tenho certeza que... um dia vai encontrar alguém incrível que vai te retribuir como você merece! Se... se for o que você quiser, claro.

— Obrigado, Uraraka-senpai. — ele dá um sorriso que parece carregar toda a paciência do mundo — Fique bem, ok?

— Você também. — ela queria falar "vou ficar", mas não lhe parece certo dizer isso. Ou talvez seja. Não dá pra saber.

***

— Bom, por ora é só, Uraraka-san, muito obrigado pela cooperação. — o detetive Tsukauchi dá um leve sorriso e aceno de cabeça — Vou precisar de mais detalhes, mas a Recovery Girl disse que você precisa repousar, então irei voltar outro dia, entendido?

— Sim, senhor. Eu entendo. — ela confirma — Inspetor Tsukauchi, o senhor se importa se eu fizer uma pergunta?

— Pode dizer.

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