No campo de futebol

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Ela se senta na arquibancada e o observa secar o suor do rosto com uma toalha. Provavelmente não é proposital por parte dele, mas... é algo que a distrai um pouco. Mas que coisa! Ochako nunca viu o Kirishima original dessa forma, será que é porque ele emana uma energia um tanto diferente da desse aqui?

É, com certeza. O Kirishima verdadeiro é mais... ele parece alguém que poderia ser da família dela, tipo um primo ou mesmo um irmão mais velho. Ela já foi dupla dele em alguns exercícios em sala de aula, tanto práticos quanto teóricos, e jamais teve qualquer sensação estranha em ficar perto dele, mesmo quando os exercícios físicos requeriam certo contato, ela nunca ficou constrangida com uma mão na parte mais baixa de suas costas ou ter que segurá-lo pelos quadris enquanto ativava sua Gravidade Zero e ele o Endurecimento, criando assim um combo com alto poder de destruição. Vai ver é porque os dois são muito semelhantes nesse ponto: quando envolvidos em algo que os faz mostrar tudo do que são capazes, não há espaço para se acanhar com toques próximos demais, o Kirishima parece obstinado a provar que é capaz de muito mais do que imaginam tanto quanto ela.

Também pode ser porque o ruivo desse mundo tem uma pequena mania, e essa mania é flertar. Se ele faz porque acha divertido vê-la corar ou se porque realmente acha que vai conseguir algo com isso, é difícil dizer, o fato é que é muito difícil para ela conciliar a imagem do Kirishima original, com seu jeito fraternal e completamente desprovido de segundas intenções, com o desse Kirishima, o fato de eles serem idênticos em aparência, claro, não ajuda em nada.

— Eu... não devia ter gritado com você. — independente de tudo, é necessário que isso seja dito — Me desculpa.

— Acho que nunca te vi daquele jeito. — ele coça a nuca — Foi, hã... — e desvia o olhar, corando.

— Foi o quê?

— N-nada, só foi... eu fiquei meio empolgado, sei lá. Você brava foi... diferente.

Ela não entende o que ele está querendo dizer, o que importa é que contradiz o que aparece na tela do celular dela.

— Ei-kun, eu sei que te magoei. Tá tudo bem, pode falar.

— Você não me magoou, O-chan. É só que... vendo você daquele jeito dizendo que pode se virar sozinha, o jeito que você me segurou... por um minuto, parecia que... parecia que eu não te conhecia mais.

Oh não...

Oh não! Ele não pode nem sonhar que essa não é a "O-chan" que conhece mesmo, o garoto já está magoado, se descobrir que está diante de uma impostora, sendo tão protetor da garota que gosta tanto... e o que aconteceria se ele descobrisse que é tudo um jogo? Que nada disso é real?

— B-bom, eu... eu posso estar mudando um pouco, fiz... fiz novas amizades, a gente tá crescendo, então... talvez eu não seja a mesma O-chan que era quando a gente se conheceu — e aqui, ela acha a brecha perfeita para inserir um assunto sobre o qual está morrendo de curiosidade — ...ou a O-chan do acidente.

Ele arregala os olhos, como se não esperasse por isso.

— Eu espero que você nunca mais volte a ser a O-chan do acidente mesmo, eu... eu nunca mais quero que nada daquilo aconteça de novo. — ele diz decididamente — Você... achei que você preferia não falar mais sobre isso.

— Bom, eu... não posso ficar fugindo do passado pra sempre. — é uma fala muito, mas muito brega. Porém quando dita em voz alta, Ochako percebe que se aplica perfeitamente à situação dela. Não dá para avançar nessa rota se ela não souber exatamente o que aconteceu, e como o acidente influenciou na relação da protagonista com esse personagem. Ela precisa conhecer um passado que pode até não ser seu, mas deveria considerar como se fosse. Pensando cuidadosamente em como fazê-lo falar sem dar na cara de que não faz ideia do que aconteceu, Ochako fica séria ao olhá-lo diretamente — Você sabe que eu não te culpo, né?

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