Aurora avista a sua ex-babá e confidente aguardando por ela, diante do portão de sua casa.
Eulália mora sozinha em uma pequena casa no subúrbio da cidade. A casa possui um lindo jardim na sua frente. Uma casa simples, mas que transpassa todo o amor da pessoa que nela reside.
Eulália nunca se casou e hoje, aposentada, sobrevive apenas de seu pequeno salário e de algumas economias que guardou no banco ao longo dos anos.
---Minha menina! – Eulália abraça carinhosamente Aurora.
---Oi, Bá! Tudo bem?
A simpática senhora envolve Aurora em seus braços .
---Fiquei tão feliz quando me ligou, dizendo que iria passar um tempo comigo, Minha Menina! Vem! Vamos entrar! Fiz aquele bolo de côco que você adora!
---Hummm!
As duas seguiram para dentro da casa de Eulália.
---Senti tanta saudade desse bolo, Bá! – Aurora disse com a boca cheia, enquanto devorava um pedaço de bolo e tomava uma caneca de café fresquinho.
---Pôxa! Só do bolo você sentiu saudade? -Eulália diz , já se fazendo de ressentida.
---Não, sua boba! Morro de saudades da minha Bazinha! – abraçou Eulália e depositou um beijo estalado em seu rosto.
---Como você está, Minha Menina! Vi o que te aconteceu pela televisão. Não deveria andar por aí sozinha. Cadê seus seguranças, Menina?
---Não estou muito bem, Bá!
Seus olhos marejaram e Eulália segurou na mão de Aurora.
---Deixei a casa de meus pais , Bá! Sabe que não me encaixo lá. E aconteceram tantas coisas!
---Sempre soube que você era diferente deles, Minha Menina. Eles são seus pais. Te geraram, mas você não pertencia a eles, sempre pertenceu a si mesma! Vi isso em você desde pequenininha! – fez um carinho na ponta do nariz de Aurora e esta sorriu.
---Ai, Bá! Tanta coisa que eu mesma não sabia sobre mim!
Aurora abaixou a cabeça e se pôs a chorar.
---Pode confiar na sua Bá! Estou aqui, Minha Menina! -acariciou novamente a mão de Aurora enquanto falava.
---Bá, no tempo em que fiquei sequestrada, eu conheci uma pessoa.Você sabe como sempre fui desastrosa nessas questões amorosas! Nunca achei ninguém que me completasse!
Eulália apenas assenti com a cabeça e Aurora continua:
---Mas, é estranho! Quando conheci esta pessoa, parece que tudo passou a fazer sentido, entende, Bá?
---Sim, Meu Anjo.
---Só que é uma situação tão complicada!
---Não tem situação complicada quando se trata de amor, Minha Menina!
O semblante de Aurora ficou alegre diante das palavras de sua Bá.
---Mas é uma outra garota, Bá! E ela fazia parte da quadrilha que me sequestrou!
---Você a ama, Minha Menina?
---Amo, Bá! E sinto tanto a falta dela!
---Então, é isso que importa! Se ela tocou o coração de uma menina tão especial quanto você, deve ser alguém especial também , Minha Aurora!
Aurora se entregou ao chôro e abraçou sua Bá, que se pôs a enxugar suas lágrimas com seus polegares.
---Fique o tempo que precisar aqui com sua Bá, Minha Menina! Minha casa é a sua também!
---Obrigada por me acolher, Bá! Jamais vou me esquecer disso! Prometo que vou arranjar um emprego pra ajudar nas despesas.
---Não se preocupe com isso, Minha Menina! O que tenho é simples, mas dá pra nós duas! Só quero ver Minha Menina feliz!
Eulália dá novamente um beijo carinhoso na bochecha de Aurora.
---Te amo, minha Bá! – Aurora torna a abraçar Eulália.
---E eu então, Minha Menina!
________________Aurora arranjou um emprego numa lanchonete no centro da cidade.
Trabalhava muito, ganhava pouco, mas estava feliz morando com sua Bá. Que a aceitava assim, do jeitinho que Aurora era!
Aurora apenas se entristecia nos momentos em que pensava em Luíza!
Mesmo o tempo passando, seu amor não diminuía e a saudade de estar novamente nos braços de Luíza , apenas aumentava.
Todas as noites , sozinha em seu quarto, chorava baixinho no seu travesseiro. Imaginava que jamais veria novamente aqueles olhos emblemáticos, que escondiam uma mulher única por detrás deles!
Ao fim de mais um dia exaustivo de trabalho na lanchonete, Aurora voltava para casa. Vinha caminhando tranquilamente, pensando em sua vida e em como ela havia mudado em tão pouco tempo, quando sente seu celular vibrar em sua bolsa.
Imaginou ser sua Bá lhe ligando.
Quando Aurora pega o celular para atender, vê no visor um número desconhecido.
Seu coração acelera instantaneamente e ela atende, prontamente:
---Alô?!
Nada é dito pela pessoa que está do outro lado da ligação, apenas o som de sua respiração pode ser sentido por Aurora.
---Luíza, eu sei que é você, Meu Amor! Por favor, não desliga! Eu... Eu sinto tanto a sua falta! Por favor! -Aurora já sussurra esta última parte.
---Eu também sinto sua falta, Aurora.
Aurora fecha os olhos neste momento, como se pudesse sentir sua Luíza.
---Eu preciso te ver, Luíza!
As duas respirações se tornam intensas neste momento.
---Não posso, Aurora. Seria arriscado demais. Sou uma foragida da justiça.
---Você não tem culpa! Foi usada por aquele filho da puta! É tão vítima quanto eu.
---E quem vai acreditar na garota pobre da favela, Aurora?
---Eu testemunho a seu favor, meu amor! Por favor!
---Sabe que não seria tão facil assim, Aurora! Eu sou o que sou, uma criminosa. Não deve se misturar com alguém como eu, minha doce Aurora!
Aurora fecha os olhos novamente ao ouvir Luíza chamá-la carinhosamente.
---Eu quero você, Luíza! Por favor!
Aurora já chorava ao dizer.---Eu sinto muito, “meu anjo de pele alva”!
Em seguida, Luíza desliga a ligação.
Aurora se põe a chorar desesperadamente, agachando-se no meio da rua, envolta por seu desespero!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Estocolmo - Romance Lésbico (Concluído)
RomanceA vida é mesmo surpreendente! Aurora é uma garota tímida, que sempre foi retraida e encontrou dificuldades em se encontrar como pessoa. Sendo filha de um diplomata russo, o status de vida a que era submetida nunca a agradou, além das cobranças suc...