CAPÍTULO TREZE

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Como estou um tempo sem pc não vai ter as imagens que geralmente tem aqui, mas depois eu irei consertar isso. 
Boa leitura.
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Alex

Depois que passamos no nosso cantinho uma pedra de razão caiu em mim. Algo surreal, mas que era tão óbvio que me senti o maior idiota por não ter notado antes.

Não temos como fugir disso. Desta situação no geral, são nossos pais, são meus irmãos! Não acredito que dei um chute no estômago do meu sogro, depois saí correndo puxando Kevin pelo braço para virmos direto para cá, pensando em fugir!

Fugir!

Quis ter uma crise de risos imensa. Mas me segurei. Sentei-me na cama com pesar, no meu celular eu quis olhar uma foto da minha família que foi tirada no ano novo. Estávamos todos de branco, sorrindo perto da piscina imensa de azulejos azuis. Meu pai está no meio com minha mãe e eu à esquerda, meus três irmãos à direita; uma família completa e feliz! Mas meu segredo acabou com tudo como eu suspeitei que faria. Não posso colocar tudo nas minhas costas, entretanto. Meus pais são preconceituosos e não fazem questão de esconderem isso. O problema é que fui o escolhido para quebrar essa corrente de senso comum.

Não posso dizer que fico honrado. Se eu pudesse... Não. Não vou pensar assim. Sou assim e pronto. Ninguém da minha família pode fazer com que eu mude de ideia.

Olho para a foto. Olho mesmo. Até eu perceber que ia começar a chorar. Então meu pai me liga.

O nome dele fica brilhando na tela "Pai<3" enquanto os segundos se passam e eu me transformo em uma estátua gélida. Se eu atender vai gerar confusão. Se eu não atender, vai dar uma confusão ainda maior. Acho que sou um tipo de imã de confusão então não posso temer mais algumas que com certeza virão.

Minha vontade agora é de confrontar isso de peito aberto. Gritar com todas as minhas forças. Uma vez meu pai disse que gritos serviam para tudo. Acho isso válido agora. Tenho tantos motivos para gritar, já fiquei calado tantos anos!

Fiquei calado com 11 anos quando quis brincar na piscina e meu pai não deixou porque havia um casal gay nadando lá. Eu queria tanto entrar na água que perguntei dezena de vezes porque não podia, eu com aquela idade não entendia, então meu pai gritou dizendo que o casal tinha que sair para eu entrar.

Fiquei calado com 14 anos quando dei meu primeiro beijo e minha mãe ficou sabendo. Meu primeiro beijo foi fofoca para a toda família, minha mãe disse que eu tinha que namorar desde já ou ficaria sobrando ou se não todos pensariam mal de mim. Mal, ela quis dizer, seria gay.

Fiquei calado aos 17 quando vi meu pai xingar um homem por estar usando uma camisa com a bandeira LGBT. O xingou enquanto dirigia e depois jogou uma latinha de cerveja nele. Quis explodir naquele dia.

Desde a minha infância eu estava sujeito à mentira. Mentir, ser um mentiroso, mentir. Eu não conseguia não fazer isso, mesmo sabendo do caos que viria algum dia. Agora meu primo contou aos meus pais, agora a minha verdade escorreu pelos meus dedos e eu não pude agarrá-la mesmo se eu quisesse. Bom, já aconteceu e não posso chorar pelo leite derramado.
Choro porque não quero mais mentir.
Não quero mais mentir.

***

Quando o dia amanheceu eu ainda estava acordado. Nem eu nem Kevin dormimos. Ficamos a maior parte da noite rejeitando ligações dos nossos pais. Foi um golpe baixo quando minha mandou que Violet me mandasse um áudio pedindo para que eu voltasse; fui forte e decidi desligar o celular. Kevin fez o mesmo. As horas se passaram, torturantes.
Quando o relógio marcou seis da manhã eu decidi que já estava na hora de agir. Saímos de carro de novo, em direção ao nosso último destino falho. Acho que todos temos destinos falhos, que pena que nenhum de nós conseguimos ver melhora nele quando o vemos pela segunda vez.

Pelo menos eu não consigo.

Kevin está com sono, consigo ver ele engolindo o bocejo. Não queria que tivéssemos ficado acordado ou sequer tivéssemos fugido, mas eu estava desesperado e foi a primeira coisa em que pensei. Meus pais queriam me deportar, Kevin a mesma coisa. Iríamos para os confins do mundo se tivéssemos ficado àquela noite.

Agora estamos de volta.

Ficamos no carro por mais um tempo. Eu olhei de novo a foto da minha família tentando ensaiar um discurso ótimo, um discurso que fizesse meus pais entenderem meu lado, que fizesse meus irmãos não me odiarem. Nesse meio tempo fiquei olhando para Kevin, porque o apoio que os olhos dele transmitiam era forte.

Dando uma última olhada na foto dos meus irmãos foi que percebi.

Alfie tinha um sinal no pescoço, perto da nuca. Eu sempre dizia que foi ali que a pessoa, o seu amor da vida passada tinha beijado antes de ele renascer. Era a mesma história que eu sempre contava porque ele gostava de imaginar a reencarnação. Bom, percebo agora que Kevin também tem um. E quando eu chutei a barriga do pai dele ontem, vi o mesmo sinal. De repente a voz da mãe dele fez sentindo. Ela ia dizer bastardo. Ela ia revelar, mas eu descobri antes.

Nossas famílias se odeiam por causa de uma traição. De uma mentira.

Liar (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora