Sentamos em uma mesa com uma toalha vermelha e branca. As cadeiras são confortáveis, mas isso não me relaxa, ainda não vejo Alex.
Elena está tão colada em mim que pela segunda vez sua mão esbarrou na minha perna, perto de um local nada apropriado e tenho certeza de que não foi um esbarrão acidental. Ela estava com aqueles olhos brilhando de desejo e isso me faz me sentir mal por não sentir a mesma coisa. Só sinto isso por Alex e queria poder assumir isso, mas é impossível assumir assim quando sua família odeia a do seu namorado-secreto e detestaria um filho gay por causa dos escândalos na mídia porque afinal, é isso que importa para eles. É difícil se assumir quando seus pais dizem coisas como: "qualquer passo em falso mandamos você para longe, Kevin" ou "Faça isso errado e depois dos escândalos daremos um jeito na sua vida, goste você ou não". A pressão era tanta que fazia curvar os ombros de vez em quando. Suspiro e olho para o salão de novo, a procura de Alex.
O salão é gigante e dourado, lotado de mesas com toalhas vermelhas e brancas. Vi a amiga de Alex em uma das mesas, ela não parava de mexer em um tablet e o irmão esquisito dela estava ao lado, olhando para a vela da mesa como se fosse algo surreal demais. Quando o olhar de Megan cruzou com os meus, quis perguntar a ela onde estaria Alex, mas não posso. Não posso.
— Está procurando alguém? — Elena me pergunta.
— Não. — Minto. Olho para ela e consigo sentir a pressão forte nos meus ombros dos meus pais que estão na mesma mesa que nós. Se houvesse privacidade, quem sabe eu conseguiria uma manobra para pelo menos ligar para ele.
Mas não há.
— Bom, eu estava pensando... Se você quer ir lá em casa amanhã, faz tempo que você não aparece lá.
— Eu...
— Seria incrível —meu pai toma à dianteira — assim eu e minha esposa teremos um tempo a sós. Finalmente. — Ele falou isso em tom de piada, mas sei diferenciar mesmo assim quando meu pai fala sério.
— Seria incrível. — Repito.
Elena fica radiante e é nesses momentos, em que ela sorri, que ela mostra o quão feliz estar que penso em contar a verdade por mais que eu saiba que vai murchar seu sorriso. Mas lembro de um dia em que meu pai me bateu com a cinta por mencionar em não me casar nunca. Foi apenas uma batida, mas a marca ficou por dois dias e meio. Enquanto crescia não era mais tapas fortes quanto antes, comecei a perder a gordura infantil e ganhei músculos e inteligência, mas mesmo assim não era bom o suficiente e meu pai me dava tapas na nuca. Antes eu não entendia porque, hoje vejo que é porque ele precisa mostrar sempre que está no controle de toda e quaisquer situações; seja dentro ou fora de casa, onde pode me ameaçar com o olhar. Procuro Alex com o olhar de novo.
Recebo uma mensagem e meu coração pula de alegria.
"Ele está vindo ainda, se acalme!"
O número é desconhecido, mas quando olho para Megan, ela acena discretamente da sua mesa. Sorrio para ela, agradecido. Isso consegue fazer com que meus ombros eretos relaxem. Acabo bebendo metade da taça de champanhe à frente de uma vez só.
Ele está chegando. Está chegando.
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Liar (Romance Gay)
RomanceMentir e ter seu amor ou falar a verdade e perdê-lo? Um dilema que vem se tornando sufocante para dois rapazes apaixonados que terão de enfrentar mais coisas que pensam.