CAPÍTULO QUATRO

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Elena estava sentada na minha cama enquanto eu estava na cadeira da minha mesa de trabalho. Meu computador está ligado no Word e meu trabalho está lá, mas impeço que todos vejam até mesmo Alex. Era algo tão pessoal que se olhassem era como se estivessem dentro da minha cabeça e isso me apavora. Mas Elena não se interessa pelas coisas que faço no meu computador, ela só se interessa com o que sei fazer na cama, coisa que ela nunca saberá por que só gosto de ir para a cama com uma pessoa. Alex. Mas isso não quer dizer que ela não possa entrar na minha casa, afinal, meus pais a adoram e a admiram por ser a filha de um empresário amigo do meu pai. É como dizem, as aparências às vezes importa. Sorrio para Elena o mais gentil que consigo, ela retribui dando um sorriso dez vezes maior. Ficamos em um silêncio constrangedor.

— Foi uma surpresa você ter aparecido. — Digo, fingindo simpatia. Não gosto de mentir, mas se dissesse o que realmente quero à Elena, meus pais arrancariam minha cabeça.

— Eu sei! Eu só estava com vontade de ver você e resolvi vim aqui. Mudou seu quarto?

— Não.

— Kevin você parece meio... triste?

Não, eu não estava triste. Estou furioso. Mas eu já tinha aprendido a controlar minha raiva muito bem, não era nada explosivo como antes, era uma raiva sutil e fria. Mas gosto que Elena pense que desvenda meus sentimentos quando na verdade, não sabe de nada. Elena cruza as pernas de modo que eu consiga ver sua calcinha debaixo do vestido. Não olho por tanto tempo.

Porque heterossexuais achavam que gays se interessavam nele de um segundo para o outro? Será que não podiam se controlar e baixar o ego?

Levanto da cadeira e estendo a mão para Elena.

— Vamos para a sala? Meus pais estão lá.

— Ah, claro. — Ela ajeita o vestido e se levanta.

Pego na sua mão e a conduzo até a sala. A deixo no sofá e penso em ir à cozinha apenas para mandar outra mensagem para Alex, mas meu pai interrompe meus passos pegando no meu pulso.

— Não vai deixar sua futura noiva sozinha vai?

Olho para ele com severidade.

Sim, queria dizer, este é o meu plano, como o senhor adivinhou?

Mas não digo nada. Sei o poder que meu pai tem sobre mim e volto a me sentar.

Elena fica com a mão na minha perna e meu pai sorri para nós. Ele é um homem alto e de cabelos escuros, com um olhar tão assustador quanto um dragão de um filme. Ele não teve muita participação na minha infância, mas das pequenas coisas eu lembro: Ele me ensinou a andar de bicicleta, uma vez me levou ao hospital quando quebrei o braço na escola e não ficou tão bravo, nem mesmo tocou no assunto do trabalho.

Suspiro longamente. A mão de Elena está me incomodando, mas não posso pegar sua mão e jogá-la para longe assim. Seria grosseria.

— Não precisam ficar com vergonha, podem conversar.

Eu sabia o que ele queria dizer com isso. O olhei com severidade mais uma vez. Elena parecia não notar que meu pai e eu praticamente discutíamos com o olhar.

— Eu só estou de passagem. — Ela diz. — Não quero incomodar senhor Aston. Só vim ver Kevin e claro, o senhor e sua mulher.

Meu pai praticamente me esquecera e sorriu para Elena. Não entendia a leve obsessão dele por um casamento. Mais dinheiro? Talvez. Fama? Talvez. Eu odeio talvezes. Fico calado enquanto a conversa com os dois desenrola, às vezes balanço a cabeça para concordar. Mas meus pensamentos estão em Alex, como a maioria das vezes. O primo-diabo dele está em sua casa e só consigo imaginar o quanto o deixa enfurecido, afinal, eu sabia a maioria das histórias de bullying que aquele filha da mãe fazia com meu Alex. Entre encontros e encontros eu sabia mais sobre a vida movimentada de Alex, sobre seus irmãos, sobre sua infância.

Não precisava saber sobre seus pais pois aqui em casa, o nome da família de Alex é tão citado quando o de Elena. Meus pais, por alguma razão, odeiam os pais de Alex e nós dois nunca soubemos o porquê. Tentamos dizer que era porque ambas as famílias são ricas e influentes, como uma competição silenciosa na mídia e tudo mais.

Só que parecia ser muito mais que isso. Muito.

A conversa entre os dois continuou e minha mãe apareceu para completar o trio. Minha mãe era alta também e com uma pele negra sensacional, que reluzia mesmo quando ela estava triste. Minha mãe é modelo e meu pai, empresário. Os pais de Alex são advogados e a mãe dele, pelo que sei, trabalha em algumas instituições de caridade. Como eu disse. Influenciadores, famosos, poderosos.

— Kevin?

— Sim?

— Sua noiva está falando. — Minha mãe diz em tom de piada. Ninguém mais do que eu sabe que ela está falando sério.

Elena ri.

Ela está adorando isso.

— Dona Márcia, eu não...

— Ainda não! — Meu pai intervém — Mas nas próximas semanas quem sabe.

Nem morto!

Meu Deus eu só preciso abrir a boca e acabar com essa palhaçada, mas não posso fazer isso mesmo que queria muito. Seria o fim não só para mim, mas meus pais estariam na boca do povo porque se tem uma coisa que Elena não é, é cúmplice. Ela falaria sem o menor pudor sobre o que ouvir aqui, passaria para seus pais e seus pais para os amigos que por acaso são amigos dos meus pais e dos pais de Alex. Logo alguma coisa chegaria sobre ele.

Fico calado e isso enfurece meu pai.

Não ligo, resolveria isso depois.

Elena foi embora há meia hora.

Meus pais discutiram comigo. Meu pai mais do que minha mãe. Seria importante, ele disse enfurecido, acabaria com os boatos dos outros sobre nossa família.

Não quis dizer que eu não estava nem aí.

Não quis parecer ingrato.

Mandei uma mensagem para Alex me encontrar à meia-noite em uma praça.

Eu precisava falar com ele, urgentemente.

Liar (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora