CAPÍTULO DEZESSEIS

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Kevin

- Vocês pretendiam contar em algum momento? - Perguntei aos meus pais.

Me perguntei, aleatoriamente, se acontecesse uma competição entre nós três, quem estaria mais cansado quem ganharia? É difícil se dar a um vencedor porque todos nós parecemos não só cansados mas, exaustos, exauridos de tanto mentir ou simplesmente guardar segredos.

- Você pretendia algum dia? - Minha mãe rebate com frieza típica.

- Sim! - Explodo - Esse é o ponto. Eu queria falar todos os dias da minha vida em que via um de vocês. Vocês sabem como é ter um assunto preso no meio da garganta por anos e que pode causar e causou a destruição da sua família?

A sala inteira fica em silêncio. Alguém bate na porta, mas nenhum de nós se da ao trabalho de ver quem seria. Poderia ser Alex, penso eu, mas ele estava tão possesso quando saiu daqui que duvido que tenha voltado atrás. Alex não faz o tipo que volta atrás nunca. Em poucos minutos as batidas cessam. Quem quer que seja, já foi.

- Kevin... Foi apenas um erro... - Meu pai tenta.

- Seu erro agora sabe falar, andar, estuda e tem dentes de leite! Será que não percebe que... A culpa de tudo isso é de vocês. Sinceramente o que eu fiz para merecer isso?

- Você também é ingrato! Kevin... Você tem uma noiva!

- Não! Vocês me colocaram nessa posição. A única pessoa que eu quero casar é com Alex. Só com ele. Quero ter meus filhos com ele, adotar e fazer uma família que não  vai ser problemática como a minha!

A exaustão estava me cercando os ombros. Eu sentia o peso me levar cada vez mais para baixo. Minha língua estava ficando dormente e meu corpo, sem energia. Eu queria conseguir dormir, apesar do cansaço, sei que não vou conseguir. 

- Acho que temos que conversar. Tenho certeza disso, pai e mãe, mas agora acho que vocês dois precisam mais. Só tenho que dizer que não vou continuar nessa casa com vocês. Me deserdem, façam o que acharem melhor.

Fui para o quarto e minha primeira ação foi fazer minha mala. Roupas, só roupas seriam necessárias.

O barulho foi tão baixo que prendi a respiração para ouvir melhor. Havia alguém jogando pedrinhas na minha janela. Meu coração acelerou. Alex!
Abri a janela. Então meu sorriso morreu e as batidas foram desacelerando até serem só batidas cardíacas normais. Sem graça.

- Kevin! Venha aqui!

- Elena... Não acho um bom momento. Vá para casa, por favor.

- Desça! Estou tentando ajudar.

Aquela frase me intrigou. Não tenho como pular a janela então tenho que passar pela sala de novo. Para minha sorte meus pais decidiram ir para outro cômodo.
Quando encontrei Elena pude jurar que a primeira coisa que ela faria fosse me dar um tapa na cara por ter sido tão idiota ou duas caras. Eu aceitaria sem gritar. Eu aceitaria mesmo. Mas ela me abraçou.

- Porque isso?

- Não importa. Todo mundo já sabe.

- Todo mundo? - Gaguejei. Aquilo parecia real demais, mas mesmo assim longe. Sempre sonhei que TODO MUNDO soubesse. Realizado então. Anotado então.

- Vocês têm que ficar juntos nesse momento. Eu pensei que estava louca naquele evento mas vi você olhando para ele. Ele para você. As coisas fazem sentido agora.

- Elena me desculpa eu não... eu devia ter contado, mas não queria partir seu coração. Eu amo Alex. Sempre amei. Mas meus pais...

- Eu sei. Eu entendo. Sim, Kevin, você devia ter contado e sim, você partiu meu coração. Mas estamos fazendo esforço aqui não estamos? Vamos para o carro.

Liar (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora