CAPÍTULO DOZE

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Entramos na casa de Alex e o primeiro sentimento que me invadiu foi o de angústia. Nunca pensei que a primeira vez que eu entraria na casa do meu namorado seria assim, tão pesado, — Física e metaforicamente.

Sinto como se o peso do mundo estivesse nas minhas costas e não consigo fazer nada a não ser sustentar, porque não há outra opção. A cada passo que demos em direção à porta foi o pior que o outro.

Quando entramos, encontramos nossos pais. Juntos em uma sala silenciosa e sem pegar fogo, ou sem uma faísca de provocação... só havia... tristeza?

Os olhos deles voaram para nós instantaneamente. Uma desculpa voou para a ponta da minha língua para explicar o porquê de estarmos sairmos e chegarmos juntos.

Mas meu pai interrompeu o que eu iria falar.

—  Por tudo que é mais sagrado me diga que não é verdade.

— O quê? — Alex indaga, tão perdido quanto eu.

Mas acho que faço a mínima ideia do que ele está falando. Não consigo mentir para mim mesmo, o final dessa mentira estava chegando ao fim, só faltava que nós admitíssemos.

Olhei para Alex, implorando, meio chorando, muito cansado.

Ele estava do mesmo jeito, nós só não conseguíamos com todos olhando.

— Alex? — A mãe dele está com olheiras roxas, parece ter passado a noite em claro.

— Mãe... Pai... Onde estão meus irmãos?

— Estão na casa da sua tia. Agora me diga, é verdade?

— Do que vocês estão falando? — Alex finalmente explodiu, não está tão mais triste quanto agora está com raiva.

— Estamos falando de você e ele, de vocês dois. Será que não consegue entender isso? — O pai de Alex parece um tomate de tão vermelho que está. Acabo olhando para meus pais, que estão mais calmos. Se é que isso é possível, já que não é todos os dias que você acaba sabendo que seu filho namora o filho dos seus inimigos sociais. Não é possível que o primo de Alex tenha jogado tudo no ventilador... se bem que, pensando bem melhor, é possível sim. Eu não duvido que ele tenha feito isso.

— O que vocês... Como? — Alex pergunta sussurrando, mas depois seu rosto muda e ele parece entender tudo — Eu vou mata-lo. Cadê Leonardo? Eu vou mata-lo.

Seguro Alex pelos ombros mesmo quando ele tenta se soltar. Não consigo ver o primo dele na sala e não me importo aonde ele possa estar. Alex se acalma por pouco e quando percebo, já estou o abraçando no meio da sala com a nossa família, algo que pensei que nunca iria fazer... Mentira, já pensei em agarrá-lo na frente da sua família, mas não nessas circunstâncias.

Separo-me dele apenas por um pouco.

— Ai meu Deus é verdade. — Minha mãe murmura, desolada.

Como ela pode estar desolada em me ver acalmando uma pessoa, meu namorado, de praticamente matar o primo dele?

Fiquei enraizado no canto, assustado demais para me mover e mesmo assim, aliviado por todos saberem a verdade de uma vez. Mentir estava se tornando difícil. No começo é fácil, é febril e atraente, imagine, mentir e mesmo assim se excitar com a mentira ao total de um orgasmo. Mas mesmo assim a mentira se acumula até você não conseguir fazer nada além de pensar nela, sua vida se resume naquilo, meia parte dos seus dias se resume naquilo. Ainda mais quando envolve sua família, aquela parte que você odeia mas ama, e envolve alguém que você ama e é considerado proibido. Mentira, mentira, mentira.

— Mãe, pai, eu... Não sei o que vocês sabem.

— Nós sabemos de tudo. — Meu pai, como sempre, raivoso e orgulhoso. O ignorei e continuei.

— O que importa é que eu amo Alex, o amo mesmo. Não foi e nem nunca será só uma fase porque eu sei o que é o amor; ele me ama também.

Olho para Alex. Ele está observando seus pais, com lágrimas rolando pelo rosto que em pouco tempo está banhado. Toco-lhe sua mão com firmeza e delicadeza, ele precisa saber que estou aqui. Aqui para o que der e vier.

— Eu o amo — Alex assente diversas vezes — o amo de todo meu coração. Sei que não 'o que vocês queriam, mas não posso mudar o que sou. Sinto muito, mãe e pai. Mas é verdade o que Leonardo disse... Eu amo Kevin.

Um silêncio incômodo pairou na sala de estar bem decorada e cheia de pessoas. O ar estava se tornando pesado demais para mim.

— Há quanto tempo? — A voz do pai de Alex diz, magoada, ferida como se tivesse sido atingida por uma espada direto no peito.

— Há anos. — Digo mesmo que ele não queira minha resposta. Aposto que ele nem quer olhar para mim agora, ou para seu filho.

Mais silêncio antes que a voz da mãe de Alex falasse:

— Alex, arrume suas coisas... você vai sair da cidade.

— Não! Nem fodendo!

— Senhora...

— Não — a mão de Alex ergueu a mão para mim —, nem ouse dirigir a palavra a mim. Já não basta ter que aturar seus pais aqui.

— Ora! Cale a boca.

— Não me mande calar a boca na minha casa!

— Já não basta o que você fez há anos atrás? — Minha mãe diz e meu pai fica vermelho, assim como a mãe de Alex e o pai dele — Já não bastava o bas... Esqueça, isso não é assunto para agora. Mesmo que ele cresça depois.

A mentira, percebo. Minha mãe estava falando da mentira que eles tinham, que eles escondem, no caso.

Agarro a mão de Alex com força de novo. Meu pai vem na minha direção e para na minha frente. Seus punhos estão crispados igual aos seus lábios.

— Vamos para casa. Depois vamos arranjar um jeito de... Dar um jeito nisso.

Nego veementemente.

— Não. Vou ficar.

— Vai ficar aonde? — Minha mãe indaga, ácida —porque se for aqui, pode ter certeza que pisar em casa você não vai.

Assinto. Por mim está tudo bem.

Meu pai agarra meu ombro com brutalidade e neste mesmo momento Alex acerta o joelho no estômago dele, com força para fazê-lo urrar.

— Alex! — A mãe dele grita.

Alex agarra meu braço e saímos pela porta da frente. Meu coração estava disputando corrida com o pulso dele que está tão acelerado quanto.

— Para aonde vamos?

— Fugir. Estou com a chave do carro e ainda temos comida no nosso cantinho.

— Nós vamos para lá?

— Não. Já sei para aonde vamos. Venha.

Entramos no carro e quando saímos da vaga improvisada na rua os nossos pais explodiram a porta da frente e gritaram por nós. Alex cantou pneu e saímos com uma cortina de fumaça e cheiro de pneu queimado no asfalto. Ele corria além do limite permitido, mas quem se importa com isso agora?

Liar (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora