Surtos do Alborghetti

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Depois daquela noite no Polar Tang tudo mudou para Sanji.

Como se não bastasse ter sido carregado pelo Marimo de bosta, ainda tinha que ver seus nakamas servidos da comida de outra pessoa, pois ficou a noite toda velando os restos da sua relação com Law. Agora mesmo estava sentado à mesa de jantar olhando para o nada e se amaldiçoando por ter acreditado nele.

Devia ter ouvido as palavras do doutor desde o começo. Ele tinha avisado, gritado aos quatro ventos, que esse era o único fim possível para uma relação homoafetiva. Se ele foi burro de não ter percebido então não tinha motivos para culpar o aliado. Mesmo assim, bem no fundo da sua alma, ele ainda estava com raiva do outro.

Foda-se Buda, ele queria vingança e de preferência do tipo que espancava Trafalgar com uma tonelada de pratos ferventes. Queria um ressarcimento pelas poucas lágrimas que soltou quando Zoro o socou embaixo do chuveiro. Ou então pelos poucos devaneios que teve onde podia se ver ao lado do capitão dos Heart Pirates, sorrindo e em uma vida pacífica. Sobre a noite na estufa ele preferia não fazer nenhum comentário.

O ódio borbulhava em seu interior, muito mais profundo do que um sentimento normal, mais intenso do que qualquer outro que já sentiu. E isso só podia ser brincadeira.

Acendeu um cigarro, estressado com a sua própria idiotice. Como pode deixar aquilo passar? Sério mesmo que só agora estava entendendo a dimensão da sua cagada suprema? Precisava mesmo levar um pé na bunda para ver que talvez estivesse gostando de Law?

As lágrimas voltaram aos olhos azuis como uma enxurrada de arrependimentos. Não podia acreditar que tinha realmente se apaixonado pelo maior animal do planeta; complicado e depressivo, que não via motivo nenhum para viver, quem dirá com a sua companhia. Escondeu o rosto entre as mãos com a iminência de uma crise de choro causada por aquilo que sempre repudiou.

Seu maior medo estava se concretizando: se descobrir e quebrar a cara por causa disso. Já amava as mulheres, não precisava ter ido atrás da sua própria curiosidade e ruína. Por que não continuou em seu canto? Não precisava da humilhação, correu atrás dela por pura burrice.

Contra a sua vontade, lembrou daquela banda que Reiju ouvia quando criança e que adornou um dos seus primeiros encontros verdadeiros com Law. Podia ouvir a melodia clara da música marcante e depressiva que remetia tanto o moreno, a letra completando a fossa enquanto segurava o pranto com todas as suas forças.

"I don't love you, like I did yesterday".

Num ímpeto ele se levantou, repentino ao ponto de derrubar a cadeira em que estava sentado anteriormente. Se o Cirurgião de Merda queria ser tratado como ninguém então ele seria. O seu gadismo estava reservado a seres angélicos e perfeitos, não a babacas mal resolvidos. Continuaria a vida, de preferência sem nunca mais cair de amores por outro cara. A partir daquele dia seu coração pertencia apenas a quem o merecesse.

Deve ter sido por isso que Sanji não ligou para a presença imponente na cozinha. Mas essa onda de raiva também foi a responsável pela faca voando pelo cômodo até o lado oposto do cômodo. Sua paciência para se fazer de vítima tinha acabado a muito tempo, apenas precisou do empurrãozinho certo para que se rebelasse, afugentando aquela sombra desgraçada antes que qualquer palavra preenchesse seus ouvidos.

Esfaqueado entre o chão e a lâmina, um pequeno envelope aguardava as mãos preciosas do cozinheiro mugiwara. De novo aquela entidade maldita veio tentar argumentar, tentar justificar, tentar levá-lo. Apenas queria que todos os seus problemas desaparecessem do mundo, queria nunca mais receber a visita daquele vulto.

A sombra cada vez mais se tornava familiar, com uma silhueta análoga à sua mas com olhos perfurantes, gananciosos. Não suportava mais andar pelos cantos e ouvir os sussurros tão nítidos; juras de paixão incondicional e doentio. Estava cansado dessa coisa de amor, queria que cada homem com o mínimo de queda por ele morresse.

Vômito na nucaOnde histórias criam vida. Descubra agora