"Mas de novo?"

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Abriu a porta da cozinha bem devagar, tentando ao máximo não acordar ninguém.

Já passava da meia noite quando voltou para o navio; a cesta de piquenique em sua mão denunciando onde esteve. Iria lavar a pouca louça que fizeram, destruindo todas as provas daquele encontro e então capotaria na sua cama. Um plano perfeito se na mesa de jantar, três lindas garotas não o esperassem.

— Por que vocês estão no escuro? – disse Sanji escondendo a cesta atrás de si.

— Carrot disse que seria mais apropriado – respondeu Robin com um sorriso. Nas entrelinhas: ela também achava o correto a se fazer.

— Achou mesmo que a gente não ia querer saber o que aconteceu? – Nami disse com um sorriso macabro.

Um suspiro saiu da boca do cozinheiro. Não precisou olhar para a ruiva para saber que seria empalado se decidisse fugir de todas as perguntas. Desistiu antes mesmo do monólogo começar, chegando mais perto da pia e desfazendo a cesta. Com uma voz derrotada, perguntou:

— O que querem saber?

— Tudo – jogou a navegadora.

— Oh meu Deus – Robin se levantou para ajudar o loiro e de quebra tirar mais algumas informações das provas comestíveis – acho que está muito apressada Nami.

— Sou um monstro agora só porque quero saber das coisas?

Ignorando a amiga, Robin pegou as taças de dentro da cesta, começando a lavá-las. Tentaria uma abordagem mais sutil. Ele merecia cuidado nas palavras acima de tudo.

— Ele beija bem?

Sanji largou o que estava segurando no mesmo momento que ouviu Carrot. Seu rosto estava vermelho, com olhos esbugalhados e a respiração trancada. Se pudesse correria até a Red Line e se socaria na pedra bruta. Trocaria de rosto, de nome, de digital, de sangue, de vida. Nasceria de novo como outra pessoa, tudo para esquecer aquele embaraço bisonho. Os ouvidos zumbiam, o que barrou o grito de repreensão de Nami.

Ficou parado alguns segundos em completo choque. Nem mesmo percebeu quando a arqueóloga despachou as duas garotas da cozinha. Quando acordou, apenas os dois dividiam o local de frente para a pia.

— Fufufu – riu baixinho colocando os pratos no escorredor – Cook-san, está tão tímido por quê?

Queria se enterrar na areia e esperar a maré subir, se jogar de um precipício, enfrentar um dragão munido de uma tanga e um palito de dente. Queria tudo menos se abrir daquela forma. Contudo, sabia muito bem o modus operandi daquela mulher, sabia que em algum momento seria pego dizendo tudo o que não devia.

Não seria mais fácil apenas se entregar?

— Então… como foi?

Um suspiro sai dos lábios do loiro, sua voz saindo tão fraca que nem parecia o mesmo mugiwara estressado com seu capitão de todas as manhãs.

— Foi bom, eu acho…

Robin no mesmo momento entendeu o que aconteceu. A ansiedade na fala do homem dava todas as pistas que precisava, mas ainda sim gostaria que ele desembuchasse. Queria ouvir cada mísero detalhe daquela noite. Por isso mesmo não se segurou em atiça-lo de novo.

— Nada a mais?

Sanji largou o pano de prato em cima da bancada, colocando a cabeça no pedaço de pedra logo em seguida. Segurava firme as mangas do casaco, talvez na mesma intensidade que mordia os lábios. Respirando fundo, tentava dizer a si que não valia a pena contar aquelas coisas, porém não pode segurar quando explodiu em uma torrente de palavras.

Vômito na nucaOnde histórias criam vida. Descubra agora