Hate to see your heart break

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Só deixando claro que esse capítulo é bem pesado e tem gatilhos em relação a abuso físico, psicológico e sexual
Estejam avisado
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— E então?

A voz de Robin chegou aos ouvidos de Sanji junto a uma exclamação de surpresa. Os dois tomavam um café ao lado do timão, o loiro a acompanhando em sua noite de vigia.

Já faziam quatro dias que tinha recebido aquela ligação. Não ironicamente, desde aquela noite não tinha recebido qualquer sinal de vida do outro. Não queria admitir mas estava começando a se preocupar.

Shachi fez a bondade de informar que o capitão ficaria algum tempo fora de área. Não se aprofundou nos detalhes, mas ele podia ter uma ideia. "Um período de desintoxicação", uma frase clichê vinda daquela tripulação de médicos, podia muito bem significar que Law estava doente. Doente de amor e sofrendo até os confins do mundo. Sanji conseguia muito bem ver uma semelhança com seus desastres amoroso.

Até um animal perceberia o que rolava dentro daquele quarto metálico. Aquela noite dos braços decepados, o conformismo nas ligações, a aversão a homens. Ele ainda não tinha superado o ex namorado.

Agora andava com caracol no mesmo bolso que guardava os cigarros; uma forma idiota de sempre ter a sua conexão com o moreno o mais próximo possível. Todavia, ele não mandava nem mesmo um sinal de fumaça qualquer.

Se despediu de Robin, indo em direção ao banheiro. O dia fora atarefado demais para tomar um mísero banho, precisava se lavar antes de cair na cama e dormir suas parcas horas de sono profundo. Não queria admitir mas estava o Zoro em pessoa: sempre que possível tirava um cochilo escondido na despensa. Suas noites agora eram de pura insônia.

A banheira enchia de água enquanto Sanji fazia a barba. Pelo menos nos últimos dias não podia mais ver os vergões que antes tatuavam sua pele. A natureza tinha feito sua parte limpando seu corpo daquelas marcas infames. Sabia que seria questão de tempo até sua mente seguir o mesmo caminho.

Eram o quê? Duas da manhã? Em poucas horas deveria estar sorrindo na copa, alimentando seus nakamas com bom humor. Pouco tempo para juntar os cacos que o último pesadelo tinha esparramado dentro de si. Mas teria que ser o suficiente.

Sempre teria que ser.

Nunca era.

E mesmo assim estava tudo bem. Seguiria o barco. Sempre que aqueles momentos de puro desespero passavam, todo o ímpeto de acabar com tudo sumia também. Era quase como uma fodida ironia do destino, o deixar incapacitado bem quando mais queria desistir. Se perguntava se seria assim até o fim dos seus dias.

Submerso na água quente, apreciava a sensação de se desligar um pouco do mundo lá fora. Do fogo de palha que eram seus problemas e sonhos, das lembranças ruins do passado e do futuro, dos pensamentos auto depreciativos que não saíam mais dos seus ouvidos.

A cabeça loira explodiu a película da água, os pulmões fumantes implorando por ar. Não pela quase cena de afogamento, mas sim pelo som que preenchia o banheiro. Do outro lado do cômodo um barulho estridente tocava abafado pelo terno preto que Sanji estava usando a poucos minutos. O Den Den mushi que Law sempre usava para ligar estava tocando. Ele estava ligando para o loiro. Depois de dias finalmente ele tinha aparecido.

Sem se importar com a bagunça que faria, o cozinheiro correu até a peça de roupa, atendendo logo em seguida.

— Alô? – disse ofegante antes que qualquer murmúrio pudesse sair da linha.

Não podia acreditar que Law tinha ligado depois de tanto tempo. Porém, o único pensamento que permeia a cabeça loira era a raiva que sentia pelo sumiço. Sua sobrancelha encaracolada tremia de ódio.

Vômito na nucaOnde histórias criam vida. Descubra agora