Mas você sabe né?

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— Eu aposto no Sanji.

— Você está de sacanagem né?

Shachi estava abismado com a descrença que seu nakama tinha no próprio capitão. Como todas as conversas que aquele beliche testemunhou, aquela também não tinha começo ou fim. Apenas saibam que ambos estavam divagando sobre o novo paciente do Doutor Trafalgar D. Water Law.

— Eu tô te falando. O idiota acha que são só amigos.

Penguin tinha certeza absoluta que Law via o loiro como nada mais do que um aliado. A animação que escapou pelos lábios do cirurgião quando contou sobre a noite anterior e a declaração fofa de amizade não passou despercebida pelo enfermeiro. Muito pelo contrário, estava esperando isso. Conhecia seu capitão no último fio de cabelo.

Não que Shachi não o conhecesse também, afinal entraram juntos no bando. Mas uma fagulha dentro dele dizia, insistia e repetia que o maior desejo amoroso do capitão não passava de uma companhia verdadeira. Podia tentar esconder sob todas as suas camadas de emice, mas no fundo ele era um romântico inato.

Nem se fala em todas as vezes que tentou "morrer por amor".

Porém, ele não conhecia o loirinho tão bem. Ficava com medo de que fosse mais um babaca impossível de lidar. Contudo admitia que o garoto tinha audácia, se abrindo aos poucos com o seu capitão e confiando nele como que naturalmente. Ainda não decidiu se ele tinha um pau grande ou não.

Já para o companheiro ruivo as coisas seriam diferentes. Tinha esperanças de que o fodido que lhe dava ordens parasse de ser um tremendo otário. Queria declarações, jantares a luz de velas, caminhadas na praia de mãos dadas e nem mesmo era um dos envolvidos no romance! Se dependesse exclusivamente do capitão ele viveria sua vida toda e não veria isso. Queria acreditar que dessa vez iria para frente, nem que precisasse botar os 10 dedos do pé nisso. E sim, ele moveria os céus e o inferno para que isso acontecesse.

— Mas vai ser o Law a se declarar primeiro.

— Quer apostar? Não tô sentindo firmeza nisso aí não.

— Mas eu aposto a minha bunda que vai ser assim que vai acontecer.

— Apostado então viado! Reconheço em firma amanhã!

Do lado de fora do quarto era possível ouvir os risos histéricos dos tripulantes mais antigos daquele bando.



No Sunny uma conversa não muito diferente ecoava pela enfermaria.

— Ele parece um peixe morto! Como que você querem juntar os dois?

A exasperação de Nami tinha fundamentos. Law não passava de um cara sem graça, suicida, com sérios problemas familiares e ódio no lugar do sangue em suas veias – pelo menos era essa a imagem que tentava passar para os dois companheiro a sua frente. Não era apenas Sanji que não esqueceu o que tinha acontecido naquela ilha maldita.

Todos os dias sem exceção ela se recordava daquele lugar de merda. O trauma ainda recente demais em seus ossos.

— Eu acho ele bonitinho até – Carrot argumentou em troca.

Aliás a coelhinha foi o estopim da discussão. Ela tinha escutado Sanji poucas horas atrás no banho, transmitindo o acontecimento o mais rápido o possível para aqueles que acompanhou até Whole Cake. Obviamente ninguém se negou a ouvir aquele babado do forte, teorizando sobre o passado e o presente.

Agora toda a atenção do trio se dirigia ao cirurgião da morte e seu possível relacionamento com o cozinheiro mugiwara. Com toda certeza as coisas estavam se encaminhando para momentos cada vez mais íntimos. O segredo compartilhado entre os dois provava essa hipótese muito bem.

— Ele é um bom médico Nami – interviu Chopper – ele vai saber cuidar do Sanji.

Para a rena essa relação não podia dar em algo maléfico. Entendia que Sanji precisava de uma válvula de escape fora do bando e que a honra era uma das prioridades do loirinho. Sabia que o nakama tinha um medo absurdo de homens de fora do bando; demonstrava isso quando iam às casas de banho, seu comportamento quando estava apenas com eles e na presença de outros caras era muito diferente.

Também tinha conhecimento de que ele não foi assim a vida toda. Antes dos anos de treinamento não conseguia ver esses traços em Sanji. Hoje, ele tinha vergonha até de trocar de roupa na frente do garoto.

Queria mais do que tudo que toda essa confiança perdida retornasse, que ele pudesse viver sem medo, da mesma forma que o seu capitão havia o ensinado. Era doloroso ver aquela criatura que o salvou tantas vezes se fechando cada vez mais.

— Continuo preocupada. Sabe deus se esse doido não vai querer forçar o Sanji também. E se acontecer?

Chopper saiu de sua cadeira giratória para guardar alguns arquivos. Aproveitou e se pôs cara a cara com a navegadora. Já estava acostumado a lidar com todo o medo dela.

— Como se Luffy, Zoro ou até mesmo Usopp fosse o deixar vivo.

— Ele tem razão – se pronunciou Carrot, que até pouco tempo atrás brincava com os clipes da escrivaninha – Não conheço vocês muito bem mas sei que, se o Zoro-nii estivesse conosco, alguns dos príncipes da Germa tinha saído num caixão lacrado.

— De onde diabos vocês tiram essas coisas?

Para a ruiva não fazia muito sentido afirmar que Zoro teria cuidado da situação com a Big Mom, ou então que estava de olho nos acontecimentos recentes. Nunca entendeu como aqueles dois simplesmente abstraiam uma amizade entre os maiores rivais dentro do navio. Luffy era a opção mais racional, afinal era o capitão do bando. Usopp tratava o cozinheiro como um irmão mais velho digno de templos e cultos. Mas Zoro?

— É você que não está prestando atenção Nami.

— De qualquer forma, o que vamos fazer? – perguntou se referindo ao chamado do outro bando que recebera naquela manhã. Admitia sim que estava se cagando de medo de ir até o encontro dos Heart Pirates, mas Luffy não parecia ouvi-la. "Desgraça de vida", pensou seguido de um suspiro.

— Vamos deixar o Torao terminar o tratamento e depois vemos o que vai acontecer.

— Meu deus vocês são tão inconsequentes.

— Mas assim é mais divertido! – Carrot soltou com um sorriso de mil sóis.



Ao mesmo tempo, a frente ao timão do Thousand Sunny, um homem de dourados cabelos e olhos azuis como o mar fitava a neve que começara a cair.

Jinbei guiava a embarcação até a ilha onde os Heart Pirates o esperavam. Todavia, a atenção de Sanji não estava no peixão e sim no futuro. Se perguntava a todo momento o que faria quando visse Law.

Agiria como se nada tivesse acontecido? Seria caloroso como se fossem velhos amigos? Ou apenas sumiria da face do planeta?

Essa dúvida o pegava pelas canelas.

O vento frio levou a fumaça do seu cigarro, fazendo circular pela sua cabeça, como uma auréola. Fechou os olhos implorando aos céus por uma resposta.

Foi apenas quando Luffy acordou e saiu de seu ponto favorito no navio que um estalo correu pelo seu corpo. Ouvindo o pedido do seu capitão foi que finalmente caiu na real e percebeu como tinha esquecido uma data tão importante.

A usaria para agradecer Law e de quebra ainda podia ser o grandíssimo gado que era.

As coisas se encaixavam por fim.



Vômito na nucaOnde histórias criam vida. Descubra agora