"Estou perplecto"

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Último almoço em terra e Law ainda não havia saído da embarcação.

Não que Sanji estivesse reparando, mas o capitão não parecia no melhor dos estados naquela manhã. Talvez ficar de olho no estado dele fosse uma forma de recompensar o sigilo médico.

Partiriam em meia hora no máximo e os dois navegadores conversavam seriamente na sua cozinha. Jean Bart o fazia companhia na balaustrada em frente a porta da sala de reunião improvisada. Trocavam experiência engraçadas de como foi o início nos respectivos bandos, emolduradas pela fumaça do cigarro de Sanji.

Tudo ia tranquilo, isso se Shachi não tivesse subido a bordo em completo desespero.

— Jean! — gritou com toda a sua força, o medo transpirando por todos os seus poros. — eu preciso de ajuda Jean! É urgente!

— Cristo, o que acontec…

— Kid apareceu!

O homem se levantou na hora, invadindo a cozinha. O loiro ficou boiando durante alguns segundos antes de entender de qual Kid o aliado falava, correndo rapidamente na direção oposta. Se precipitou para fora do navio, seguindo para a outra ponta do cais.

Viu ao longe uma capa preta balançando ao vento, se aproximando cada vez mais.

Gritou por Luffy e Zoro, preocupado com a integridade do bando. Sabia que ao lado de Law não seria tão séria a briga, mas a fama do pirata ruivo com as mulheres não era das melhores. Ainda mais agora depois de conhecer Ikkaku não baixaria a guarda para aquele tipo de homem.

Antes mesmo que pudesse se pôr em pose de batalha, Trafalgar passou como um vulto ao seu lado.

Descalço e vestindo uma versão noturna do macacão do resto da tripulação, um moreno descabelado seguia completamente desarmado em direção de Kid. Como um animal selvagem, todos os seus movimentos passavam uma única mensagem: a próxima parada do ruivo seria a cardíaca.

— Law! A gente vai conversar agora!

Bepo soluçou atrás do loiro em claro desespero. As coisas estavam saindo completamente do controle tão rápido que Sanji se encontrava perdido. Por Deus, assim que o cirurgião abriu a boca, podia se sentir mais perdido que filho da puta em dia dos pais, ou então Zoro seria uma sentença mais adequada para a situação.

— Ah a gente vai conversar — começou Law com veneno escorrendo pelo queixo — mas só depois de você jogar roleta russa com o tambor cheio seu merda!

O cozinheiro podia garantir que todo o seu bando segurou a respiração assim como ele. Aquela audácia era nova, muito diferente da raiva e vingança descontrolada de Dressrosa — era um deboche enlouquecido.

— Eu vim resolver tudo e você ainda me trata assim?

Pelo canto do olho viu Usopp abraçar Chopper. Contudo assim que voltou a visão para Law, ele já tinha avançado alguns passos em direção a Kid. Ambos pareciam espumar pela boca.

— Olha aqui como eu me importo sua vagabunda — respondeu mostrando o dedo do meio para o ruivo.

—Cala a boca! — um loiro mascarado apareceu para segurar Kid, tentando evitar uma briga física — Sua puta sentimental e rancorosa!

Penguin surgiu das profundezas do inferno para fazer a mesma coisa que Killer e segurar seu capitão. Na verdade até tinha se esquecido que era mais do que um simples espectador. A briga tomava um rumo tão inacreditável, mostrando uma faceta tão inesperada dos dois capitães, que não ousava apartar esse entretenimento.

— E você tá incomodado por quê?

— Eu mandei calar a boca!

— Só não te bato com um tijolo…

— Volta pro canil!

— ...Porque o tijolo merece coisa melhor!

Sanji saiu de onde estava para ajudar Penguin a segura o capitão. A tarefa parecia cada vez mais complicada pois a cada segundo ambos transbordavam mais e mais raiva. O ódio era tanto que podia jurar a morte de todos os seres vivos num raio de quilômetros. Os insultos não podiam mais ser compreendidos, os gritos rasgando a garganta de Law.

Quando Luffy se levantou para interferir, um dos integrantes dos piratas de Kid apareceu com uma seringa enorme. No fim a melhor solução foi dopar um dos lutadores com anestesia de cavalo.

Todavia, levar o corpo desacordado embora não acalmou Law nem um pouco. Mesmo ajoelhado no chão, com a cabeça entre as mãos, o desgosto exalava pelos seus poros. O cozinheiro podia ouvi-lo repetir diversas vezes que iria "passar a faca naquele fodido" quando o visse de novo. Era assustador observar como toda a compostura natural do cirurgião sumiu em poucos segundos de peleja.

Assim que Eustass sumiu da visão dos dois bandos, Killer se aproximou do moreno. Mantendo uma distância segura, sussurrou um pedido de desculpas, logo seguindo os nakamas.

— Capotou bonito o barquinho agora — disse Penguin enquanto ajudava o capitão a se levantar — perdeu os lados do jeito que o diabo gosta.

Law apenas coçou os olhos e foi calmamente em direção ao seu navio, deixando seu nakama ao lado de um Sanji ainda perplexo. Seguiu-o com a visão até que entrasse de verdade no submarino, sentindo uma pontada de preocupação crescer em si. Aquele homem com toda certeza tinha segredos demais e isso despertava sua curiosidade. O que podia fazer se amava uma fofoca.

Nami estava fazendo o que sabia fazer de melhor. Estava na cozinha do Sunny pressionando Sanji em busca de informações.

Ela sabia, ah se sabia, o quanto o loiro queria descobrir o que tinha acontecido realmente a tarde. E quem não estava curioso com o surto digno de Oscar de Law? Robin mesmo ficará bons minutos fazendo um monólogo em busca de uma razão para nenhum dos dois terem usado suas Akuma no Mis. Por Deus, até Usopp tinha se pronunciado sobre o assunto, por que apenas o cozinheiro não queria se envolver?

Ela estava ficando estressada e se perguntava quanto tempo mais o urso polar em cima da mesa de jantar ficaria dopado. Precisava de respostas e logo. Não se importaria de ficar a madrugada inteira de plantão para ter o gostinho da verdade.

— Você é maluca — suspirou Zoro entrando na cozinha.

Sanji previu a briga que se iniciaria, aproveitando para se esconder dentro da despensa. Não seria hipócrita de dizer que não estava curioso, mas ao mesmo tempo um certo receio acendeu em seu peito. Trafalgar era importante para o bando, quase da família, com uma utilidade incalculável e merecedor de todo afeto dos chapéus de palha. Ele já tinha salvado Luffy incontáveis vezes.

Talvez por esses motivos, uma pequena preocupação nasceu no coração de Sanji quando viu o moreno secar rapidamente as lágrimas antes de se levantar e nunca mais aparecer depois daquela briga.

Queria conversar com ele, quem sabe agradecer mais uma vez pelo tratamento, dividir uma garrafa de vinho. Falar que tudo ficaria bem mesmo não fazendo ideia do que tinha acontecido.

Não.

Ele sabia o que havia rolado, sabia muito bem. Só era teimoso demais para aceitar.

O estrondo da porta da cozinha fechando chamou Sanji de volta para a realidade. Nami e os outros haviam sumido do cômodo, deixando Bepo abandonado na mesa. Caminhou até o urso balançando ele.

— Eles já foram, eu te levo até seu navio.

Um suspiro saiu da boca do mink, confirmando a suspeita do loiro de que ele estava paralisado de medo e não em coma como esperava Nami.

Levou o aliado ao submarino na surdina, usando os pontos cegos que havia mapeado por causa de Luffy, saltando de uma embarcação para a outra. Nem mesmo tentou esconder de si mesmo a vontade de ver o Polar Tang de novo, só rezava para que interpretassem como sua saudade da linda tripulante dos longos cachos escuros. Era meio incompreensível até mesmo para ele esse zelo com Law.

Assim que entregou o navegador a Jean Bart, seus planos de ver o moreno tinham sido desconsiderados. Desistir das coisas não era muito seu feitio, mas admitia que não podia fazer muito naquele momento. De costas viradas sentiu uma mão segurar seu ombro. Era Penguin, o qual o olhava como se pedisse algo.

— Quer beber um pouco? Acho que preciso te agradecer por hoje mais cedo.

Vômito na nucaOnde histórias criam vida. Descubra agora