Milico mau e milico bom

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O inchaço no pescoço não parecia querer sumir, contribuindo para a preguiça de fazer a barba. Sua cama confortável não ajudava em nada também.

Escondido debaixo das suas cobertas, Law fazia anotações mentais sobre agradecer a Deus por fazer o fundo do mar mais agradável de se viver quando chegasse no céu. Ou no inferno. Ele apostava mais na segunda opção, se levar em conta todos os seus sonhos na última semana.

É verdade, já faziam sete dias desde que interagiu com Sanji pela última vez. Em um péssimo estado diga-se de passagem.

Lembra claramente de como foi assustador ser erguido do mar pelas mãos de Usopp, ainda meio zonzo pela força do gigante azul. Mas sua mente logo focou naquilo que tornava seu coração em puro pavor. Pisando em falso, deu seu jeito de correr desesperado até o corpo desfalecido do Vinsmoke. Fraco, cansado e arrebentado, Law ainda pensava no loiro.

Junto com Chopper, eles deram um jeito de costurar a perna do mugiwara. Contudo, tinha perdido tanto sangue que o coma induzido foi inescapável. Estreou o novo suporte de vida do Polar Tang e ele estava se recuperando bem, obrigado.

Pensando por esse lado, era um grandíssimo idiota. Não que já não soubesse! Mas teve sete dias para observar o homem que roubava seu sono e só o visitava quando o médico dos Chapéus de Palha estava presente. Evitava tanto entrar na UTI que Roronoa nem mais se dava o trabalho de vigiar o companheiro; todos nos dois navios sabiam que o cirurgião estava com medo de encontrar o rapaz.

Sua vida deu mais uma guinada quando Sanji acordou na noite anterior. Mesmo com o olhar grogue, Trafalgar percebeu esses mesmos orbes caindo sobre si em meio ao processo de retomada. Meu Deus, mas ele travou bonito quando aquelas safiras intergalácticas pousaram nas peças de prata arregaladas em seu rosto! Se sentiu um adolescente burro e apaixonado por ter corado com tão pouco. Acreditava piamente que Chopper era seu mais novo santo, pois foi ele a cortar essa mínima interação entre os aliados, pulando no colo do nakama com uma animação sobrenatural.

Todavia, o real gay panic veio quando deitou sua cabecinha morena no travesseiro, seus pensamentos sendo tomados pelo sorriso pequeno do cozinheiro. Ansiava que um dia aquele gesto de carinho fosse direcionado a si, não só a rena.

Sua consciência pipocava com cenas imaginárias; geralmente sendo ele e Sanji os protagonistas. Fantasiou com mais encontros como aquele da estufa, jantares à luz de velas e a beira mar; o tipo de coisa boiola que adoraria dar a alguém. Se questionou se realmente conseguia ver sua figura ao lado do loiro com os anos passando e, por incrível que pareça, a resposta foi sim. Era capaz, sim, de idealizar uma velhice apanhando do esposo por não ter lavado as mãos antes de mexer com a comida.

As doces memórias que um dia podia ter só foram destruídas com a realidade cruel em que estava metido. O Vinsmoke nunca o aceitaria de volta depois de toda manha dos últimos meses. Tinha transformado a vida amorosa do loirinho em um completo caos. Era completamente impensável receber uma chance de novo.

Foi martirizando-se e chamando-se de todos os nomes sinônimos de jumento que adormeceu. Um descanso repleto de sonhos com o cozinheiro pervertido.

E foi tirado dele por um balde de água fria. Literalmente.

- Porra!

O grito abafado de Law ecoou pela cabine, seus braços o levantando da cama alagada. Ia se virar para ver o que diabos estava acontecendo, mas o objeto oco de plástico bateu contra sua cabeça; uma pequena interjeição de dor saindo dos seus lábios.

Todavia, foi quando o gelado de uma lâmina tocou seu pescoço que soube da seriedade da situação. O cheiro floral que penetrou seus sentidos também não deixava dúvidas de quem era e como tinha entrado no submarino. O problema que rondava o seu raciocínio era mais sobre o que aquela mulher faria com ele e porquê.

Vômito na nucaOnde histórias criam vida. Descubra agora