Warning

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— Eu nunca vou ter filhos.

— Por que você é gay? – Sanji agora tratava esse assunto com naturalidade, quase como se a sexualidade de Law nunca tivesse sido desconhecida para ele.

— Não só isso.

Não fazia ideia de como tinham chegado naquele assunto, mas não fazia diferença. As manhãs do cozinheiro agora eram sempre preenchidas com a presença de um cirurgião virado e com insônia. Era bom ter alguém para conversar às quatro e meia da manhã enquanto toda a tripulação dormia. Tinha até pedido para Franky um daqueles pequenos caracóis comunicadores para cozinhar enquanto ouvia o moreno.

— Mas não existe uma forma de você colocar o esperma dentro da barriga de uma mulher?

— Esse é o problema. Eu não tenho esperma saudável.

O som de ovos fritando foi acompanhado de uma expressão confusa de Sanji.

— Por quê?

— Passei minha infância exposto a chumbo branco. Metais pesados causam infertilidade, principalmente quando se é mais novo.

Um muxoxo de entendimento saiu da boca do loiro. Era incrível como mesmo depois daquele surto nenhum dos dois parou de ligar. Todos os dias, religiosamente, um deles discava o número já decorado. Sanji até pensou que o moreno ficava acordado por causa dele, mas não foram raras as vezes que foi colocado em espera enquanto ouvia a movimentação dos enfermeiros do Polar Tang socorrendo um paciente.

— Pera – o mugiwara olhou para o convés antes de perguntar em um sussurro – então você consegue gozar?

O momento de silêncio que se seguiu só atiçou a curiosidade do loiro. Não tinha culpa se nasceu com uma mente pervertida que queria entender cada detalhe da esfera sexual do mundo todo. Do outro lado da linha Law observava o céu pela sua janela com a maior cara de paisagem do mundo.

— O que você quis dizer?

Estava um pouco em choque com a nova audácia de Sanji. Se antes não conseguia acompanhar a cara de pau do aliado, depois da noite do choro as coisas só ficaram piores. Duas malditas semanas de susto atrás de susto. Tinha medo das coisas ficarem ainda mais íntimas.

— Você sabe, aquela coisa bran…

— Porque caralhos você quer saber se eu ejaculo? – gritou, escondendo o rosto no travesseiro logo em seguida. Teria um ataque fulminante do miocárdio antes dos trinta desse jeito.

O pior era conseguir imaginar o loiro mandando ele parar de frescura e falar infarto de uma vez.

— Virou crime?

— Eu não vou contar para você!

"Filho da puta", o pensamento foi seguido por panquecas sendo viradas no prato de Chopper. "Isso é um convite para eu ir descobrir pessoalmente?".

— Você não pode simplesmente resolver isso com a Ope Ope? – desconversou mas ainda interessado na pergunta anterior.

— Quando você tiver 15 anos e tirar seu próprio apêndice sem anestesia falamos sobre auto cirurgias.

A gargalhada que se seguiu foi muito bem recebida por Law. Parecia mais fácil de chegar aos seus ouvidos se comparada aquelas próximas a primeira retirada de sangue dos dois. Ou só estava ficando maluco.

Nami adentrou a copa no mesmo horário de sempre, chamando a atenção de Sanji. Este por sua vez pediu licença para desligar e cuidar da sua tripulação.

No infame submarino amarelo, Law fitava seu teto.

As conversas com Sanji eram gostosas mas as palavras de Penguin ainda martelavam na sua cabeça. Ainda não estava pronto para outro relacionamento, muito menos sentia algo de diferente pelo aliado, mas também não era idiota de deixar que mais uma ligação de amor unilateral se estabelecesse. Era cruel demais até para o seu gosto.

Se perguntava se o outro realmente o via de verdade. Já não tinha muitas máscaras escondendo o caos dentro de si, então era para as coisas serem mais simples. Poucas pessoas no mundo seriam burras ao ponto de não se tocarem do que passava com Law.
Infelizmente, quase todos os seus ex namorados eram esse tipo raro de animal.

Acima de tudo o moreno também tinha direito de conhecer todas as facetas de Sanji.

Sanji.

Vinsmoke Sanji.

Príncipe de um reino saído dos livros da sua infância. Parecia um produto chique demais para o péssimo ser humano que era.

Até pensou em ligar novamente, mas agora era hora da refeição, momento sagrado para o loiro. Ligaria depois. Isso, ligaria quando tudo estivesse mais calmo e confrontaria o mugiwara sobre o surto. Tinha procrastinando demais já. Fazia isso por si mesmo claro, não por medo de levar outra comida de rabo de Penguin.

Um calafrio passou pela sua espinha com a ideia do nakama descobrindo tudo.

Se dirigiu até o banheiro, os dias jogado no quarto relembrando o passado tinham acabado com ele. Nem sabia qual o último dia que tinha tomado banho ou feito o cavanhaque. Aliás, essa era outra coisa que precisava conversar com Sanji.

Todas as ligações de Kid tinham sido interceptadas por Shachi, no entrando isso não privou Law de entender o que estava acontecendo. O ruivo queria voltar fazendo o que sempre fazia. E puta merda, a tática sempre pegava Trafalgar de jeito.

Pelas suas contas agora mesmo ele estava com seu navegador calculando onde os Heart Pirates estavam, ligando para todas as chocolaterias do planeta em busca do presente perfeito para combinar com as rosas azuis que sempre trazia. Seria perfeito se as flores preferidas de Law não fossem cravos e ele não odiasse coisas fodidamente doces.

Se ele trouxesse um carregamento de café seria muito mais efetivo.

Queria desabafar com alguém. "Você já incomoda a tripulação demais", dizia o anjo em seu ombro direito. "Sanji tem seus próprios nakamas para cuidar", replicava o demônio do lado esquerdo. No fim ele não ouvia ninguém além das batidas do seu coração.

Não percebeu quando caiu no sono.
Muito menos quando sua mente decidiu sonhar com todas as lembranças felizes ao lado do seu ex. Daquelas tardes ensolaradas que passava no Victoria Punk, deitado no peito do ruivo ouvindo o som das ondas batendo no navio. Ou então das noites de sexo que Kid resolvia ser carinhoso e fazer carinho em suas costas enquanto Law fingia não escutar as coisas degradantes que Estauss-ya insistia serem a definição perfeita do moreno.

As lágrimas que vieram depois não o surpreenderam.

Se via como um tonto carente por querer tudo aquilo de volta. Por sentir saudades. Por estar sofrendo por um demente que não o merecia. E mais ainda, por querer ligar urgentemente para Sanji.

Teimoso e trancado no quarto, ficou horas em um redemoinho de tristeza. Porque claro, era óbvio que isso resolveria tudo, a saída perfeita para todos os seus problemas era sofrer sozinho enrolado nas cobertas. Conversar estava fora de questão. Sempre esteve. E Law não queria admitir, mas sempre estaria.

Da mesma forma que começou, ele não soube dizer quando acabou. Apenas caiu mais uma vez no sono, desejando sair daquela roleta russa o mais rápido possível.

— Em que posso ajudar?

Eram quase meia noite e Sanji tinha recebido uma ligação em seu Den Den mushi pessoal. Esperava que fosse Trafalgar, mesmo que em um horário meio tarde demais, mas ainda sim bem vindo. Contudo a voz que saiu pelo caracol não parecia em nada a do moreno.

— Senhor Kuroashi? Tenho um pedido para fazer ao senhor.

Vômito na nucaOnde histórias criam vida. Descubra agora