9 • Sabores

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Matteo estava ali, observando a cena toda. Ela não podia calcular desde quando ele estava ali, mas se alarmou, uma vez que se deu conta do risco que agora corria. Se ele saísse do carro para intervir no que ele achava que estava acontecendo, Marcos guardaria o seu rosto e, no instante que o visse na escola, ambos estariam ferrados.

- Solta o meu braço. - Ela sussurrou, com os dentes cerrados e uma expressão de ódio. Ele obedeceu, deixando que um pequeno espaço reinasse entre eles. - Se eu fodo - Ela fez aspas. - ou não com alguém, isso é problema meu. Volta para o Rio e me deixa em paz!

- Não, é problema meu também, porque tenho sido um otário o tempo todo. Eu te imploro pra voltar enquanto você se diverte por aí?

Mas ela não estava prestando atenção. Disfarçadamente, observava o carro do outro lado, buscando se antecipar. Precisava achar uma forma de evitar que os dois se chocassem.

- Você tá me ouvindo? - Marcos questionou.

- Você se divertia enquanto a gente namorava, qual a diferença?

- Tu não perde a oportunidade de jogar as coisas na minha cara, né? - Ele falou alto, se aproximando de novo.

Dessa vez, no entanto, Eva viu a porta do carro abrir. Alarmada, ela olhou para Marcos, olhou para o carro novamente e tomou sua decisão. Ela correu, saindo de perto do rapaz antes que ele pudesse a alcançar. E então ela abriu a porta do carro e entrou.

A sorte talvez estivesse do seu lado pois, no instante em que Marcos reagiu, um caminhão atravessou a rua, impedindo que ele olhasse ou caminhasse até eles. E aquilo deu um tempo precioso a ela.

- Vamos sair daqui, rápido! - ela exclamou, olhando avidamente para o homem ao seu lado. Ele fechou a porta do carro e olhou para ela.

Matteo estava surpreso e raivoso, mas fez o que ela pediu. Olhou para Marcos e o viu ir em direção ao carro, tentando enxergar através do vidro do motorista, mas sem sucesso. Eva agradecia mentalmente por aquele filme sob o vidro. E antes que ele pudesse finalmente alcança-los, Matteo acelerou.

Por alguns minutos, Matteo dirigiu em silêncio, deixando que Eva falasse por si mesma. Ele não conseguia abandonar a raiva que queimava por entre seus poros quando lembrava do aperto do rapaz nela. Dos gritos e da agressividade. Deus, Matteo poderia soca-lo até que ele perdesse a consciência.

Eva percebeu o humor dele instantaneamente. Ele segurava o volante como se sua vida dependesse disso, enquanto seu olhar estava preso à estrada.

- Por que você estava lá? - ela por fim perguntou.

Eva achou, a princípio, que ele não responderia. Seus músculos pareciam congelados naquela posição e, seu rosto, impassível.

- Voltava do trabalho.

- Não foi o que eu perguntei.

Ela o ouviu respirar fundo. Ainda que bravo, não pôde tirar os olhos dele, que parecia ainda mais atraente. De fato, Matteo estava sempre impressionante, o que era uma ofensa aos outros homens. Havia algo nele tão alinhado e seguro que a fazia tremer. Sua postura austera e distante contrastava de uma forma sensual com suas roupas elegantes. Era diferente de todos os garotos tolos e infantis que ela conhecia, completamente presos a própria vaidade e aos jogos. Matteo não parecia dar espaço a nada daquilo, não quando ele próprio parecia ser um jogo. Um quebra-cabeça complexo e interessante.

- Eu pretendia intervir. Você não parecia confortável com a situação.

- Bom, eu fico feliz que não tenha intervindo.

Em Teu Prazer (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora