12• Via Láctea

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- Organizem os grupos montados na última aula e se dividam. Vocês podem se distribuir no pátio para discutir o projeto de vocês. Um grupo fica dentro da sala e o restante deve ir para o pátio.

Eva ouviu pacientemente as instruções do professor que não serviriam de nada a ela, exceto que para deixa-la ainda mais ansiosa. Os minutos passaram e os alunos iam sumindo da sala aos poucos, à medida que formavam os grupos e iam se empoleirando até a porta, fazendo barulho e rindo. Eva viu Clara tocar seu ombro antes de sair atrás das garotas do primeiro grupo, rindo e escutando as ideias delas, enquanto Eva ficou para trás. Sozinha e ansiosa.

Quando dez minutos se passaram, ela reuniu alguma coragem para olhar na direção do professor. Matteo sentado em sua cadeira com as mãos entrelaçadas sobre a mesa e o olhar focado na porta. Eva respirou fundo e soube que era hora de ir ao seu encontro. A sala estava praticamente vazia, exceto por um grupo pequeno no fundo da sala.

- Bom dia, professor.

- Bom dia, Eva. - Ele deu um sorriso contido. - Pronta para começar?

Eva apenas concordou com um aceno. Ela puxou a mesa que estava colada a dele e afastou um pouco, sentando-se em seguida.

- Você gosta de poesia, Eva?

Ele perguntou isso de forma tão casual e súbita que pareceu não carregar a intensidade da questão. Eva gostava de poesia? Ela não sabia dizer.

- Acho que sim, eu não sei. - Ela respondeu com sinceridade. - Eu não gosto muito daquilo que não consigo entender, e a poesia é assim para mim.

- A maior parte das pessoas têm dificuldade em compreender a poesia. - Ele comentou. Seus dedos bateram três vezes na mesa e ele abriu a pasta azul marinho que repousava no espaço onde seus cotovelos estavam.

Na pasta haviam diversas folhas brancas e cheias de texto. Ele folheou algumas e enfim encontrou o que procurava. Eva tentou, sem sucesso, enxergar o que havia escrito. Matteo colocou a folha em cima das demais e fechou a pasta.

- A gente entende poucas coisas da vida. - Ele observou, respondendo a última frase que Eva havia dito.

Ela refletiu sobre o que ele havia dito e sentiu certa melancolia.

- É por isso que eu gosto de poucas coisas.

Matteo deu uma risada alta que ressoou pela sala e chamou a atenção dos alunos no fundo. Eva se permitiu prestar atenção nos detalhes contidos em sua risada. Seus olhos se contraiam até quase fechar e uma pequena covinha surgia em meio as bochechas. Eva observou seu corpo inclinar-se um pouco para trás e, por fim, a risada. Seus dentes eram tão alinhados e grandes que formavam um arco ainda mais bonito. Eva acabou sorrindo em meio ao riso sincero de Matteo.

- Falo sério, acho que a vida já é complexa demais para ainda ter de interpretar aquelas poesias impossíveis!

Matteo riu uma segunda vez, e Eva imaginou que poderia ficar viciada naquele som. O riso de alguém tão sério era como encontrar uma pérola em meio ao oceano. Ela se sentiu imediatamente tola por se sentir tão afetada com aquilo e se refreou.

Você dá a ele muito poder, ela pensou consigo mesma. Ele já é confiante demais.

- Você tem certa razão. - Ele comentou, pensativo. - Uma poesia pode ter cem interpretações diferentes, a depender de quem o lê.

Eva balançou a cabeça, concordando.

- Talvez você seja complicada demais e por isso as poesias são difíceis de entender.

Em Teu Prazer (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora