7• Agridoce

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Eva acordou de um sono profundo graças a chuva que batia em sua janela. Apesar de fraca, era como se pequenas pedras estivessem sendo lançadas em seu quarto. A essa altura, o céu começava a dar indícios de que a manhã estava começando.
Encarou a água cair por alguns instantes, enquanto seu corpo acordava completamente.
Em seus primeiros pensamentos surgiram as lembranças do que havia acontecido na noite anterior.

Quando Guilherme a chamou pra sair ela não fazia ideia de qual seria o programa. Foi uma grande surpresa acabar em sua casa, sentada no sofá com um pote de pipoca no colo e assistindo um filme qualquer. Guilherme era um dos rapazes mais bonitos do último ano. Era alto e esguio. Sua pele, branca e livre de marcas, era de um contraste perfeito com seus olhos amendoados e pequenos. Ele tinha os olhos de alguém que estava sempre recém-acordado. Além da aparência refrescante, ele podia contar com o charme de sua personalidade agradável.
Ele era o tipo de rapaz gentil, que abria a porta do carro e atendia às suas necessidades com grande satisfação. O tipo que tentava agradá-la o tempo todo.
Ele fez pipoca e a apresentou à sala. Juntos, viram um filme que havia lançado na Netflix. Até ali, a noite vinha sendo divertida para ela.

Talvez a coisa toda tivesse se perdido quando Guilherme a beijou. No início, suas mãos ficaram concentradas na sua cintura e nuca, explorando aquelas regiões com bastante calma. Seus lábios eram suaves e cuidadosos. Eva, no entanto, queria sentir algo verdadeiramente profundo, um toque que a incendiasse, a deixasse louca. No lugar daquilo, havia apenas um farfalhar suave do couro contra sua pele e o som de suas bocas se tocando. Depois de um tempo, ela sentiu as mãos fortes dele caminharem lentamente pela barra de sua calça, tocando o botão. Apesar disso, não pôde sentir qualquer emoção na ideia de estar com ele e o afastou.
As lembranças lhe deram dor de cabeça. Era muito vergonhoso assumir que havia cogitado ir para a cama com ele, e agradeceu a si mesma por não ter ido tão longe. Por Deus, teria de encará-lo durante o resto do ano letivo se tivesse ido além dos beijos.

Eva não estava feliz com aquela situação. Por mais simples que parecesse, trocar beijos com o rapaz havia despertado nela questões bem mais profundas que imaginava. Havia ido lá com o interesse de encontrar o que?
Estava desesperada para provar a si mesma que podia ser uma garota normal e ativa como todas as outras que já estava agindo como uma louca. Ela sabia que a sua jornada também se tratava de arrancar de sua pele os traços de Marcos. Queria, com todo o seu coração, compensar todo o tempo perdido com alguém que minou sua confiança por completo. E aquilo, além de colocá-la em uma situação de desespero, fazia parecer que ela queria vingança.

Talvez fosse hora de parar. Bem, mal havia começado, mas o que conseguira além de transar com seu professor e ter uma experiência frustrada com seu colega?

X X X

- Como foi o filme com o Gui ontem? - Jacqueline perguntou, cheia de expectativas

Estavam as três, no banco azul habitual, aproveitando o intervalo da aula. Clara parecia distraída com a música que tocava na rádio do grêmio estudantil.

- Foi bom. - Ela se limitou a dizer.

- Vai bancar a contida, Eva? Detalhes, eu quero detalhes.

Clara entrou na conversa:

- Se ela tivesse gostado, a gente já saberia.

Eva suspirou antes de falar. Estava nervosa agora pois, além de ter de encarar seu querido professor, teria de agir naturalmente diante de Guilherme. Seria cômico olhar toda a situação se não estivesse acontecendo com ela.

- A gente se beijou. No sofá. Fim da história. - Ela disse, pausadamente.

Jacqueline se limitou a balançar a cabeça, decepcionada.

Em Teu Prazer (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora