10• Proposta

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Duas semanas. Era esse o tempo exato desde que Eva havia sido beijada por ele. Tocada e profundamente marcada, ela devia acrescentar. Duas semanas em que Matteo fez questão de extinguir os sentimentos positivos que ele tinha conquistado com aquele beijo. O salvamento na rua, os croissants, o beijo travesso e as promessas sussurradas, tudo havia sumido e dado lugar a raiva. Qual era o problema daquele homem?

Eva percebeu que ele ia dissimular o que acontecera entre eles no instante em que seus olhares cruzaram no dia da aula. Primeiro, ele sustentou seus olhos azuis sob os dela e a encarou, mas poucos segundos depois ele quebrou o contato e não olhou para ela uma única vez durante as próximas aulas. Entendê-lo? Ela já havia desistido da ideia há muito tempo. E agora ela estava desistindo de se sentir atraída por ele também. O homem era estável como um ioiô.

Ela se perguntou se ele agira movido por impulso e estava arrependido. Se na verdade havia beijado ela porque Eva parecia ter tido um dia terrível. Ela queria entender de onde vinha aquela atitude conflitante de Matteo. Em um momento ele a encurralava, a tocava e a balançava, para depois agir como se nada tivesse acontecido. Tudo bem, ela mesma havia tido sua cota de atitudes confusas, mas esperava que agora as coisas se tornassem um pouco mais claras. O que eles estavam fazendo? Ela não tinha uma resposta para tal pergunta e isso a enlouquecia.

Ver Matteo todos os dias com aquela mesma pose de homem inabalável era irritante. E ela não sabia como se sentir quando ele agia como se fosse duas pessoas diferentes: o amante secreto e o profissional inatingível. Era tão difícil escolher uma única atitude e mantê-la?

- Estão abertas as inscrições para a semana cultural da escola. - A vice-diretora começou a falar, chamando a atenção de Eva. Ela olhou para as fileiras de alunos atentos que a observavam. - Vocês têm as próximas duas semanas para colocarem os nomes na lista, que estará afixada no mural de avisos da quadra! - ela ajeitou os fios rebeldes que tocavam seu rosto antes de olhar para a frente de novo. - Alguma pergunta?

- É obrigatório? - Um dos alunos do segundo ano perguntou e arrancou risos da plateia altamente contagiável. O garoto estava sendo inocente ou irônico, não havia mais opções. Todos sabiam que os professores se aproveitavam de cada oportunidade para forçar os alunos a interagir. Ano após ano, as turmas do segundo e terceiro ano tinham de passar por essas apresentações enquanto os demais assistiam. A resposta da vice-diretora apenas confirmou o fato.

- Vocês dos últimos anos receberão nota de participação, então essa é uma ótima oportunidade para quem está precisando de uns pontinhos. - A senhora sorriu, alegre. - Vamos fazer disso uma experiência boa, certo?

Ela aguardou a confirmação dos alunos e se retirou do palanque, onde em poucos dias estaria acontecendo o evento. Era uma espécie de coreto, sustentada por pilares e fundamentada em concreto. O palco era todo vermelho, um tom terroso e sujo que evidenciava os muitos pés que pisavam e arrastavam-se ali. Eva observou a movimentação dos professores no palco e procurou, instintivamente, o corpo esguio de seu professor. Mas ele não estava lá.

- Procurando alguém? - Jacqueline perguntou, fixando os olhos no ponto em que Eva parecia concentrada. - Posso até adivinhar: professor gato e maluco?

- Duas semanas de silêncio absoluto. - Eva estalou a língua, nervosa. - Por que os homens são tão esquisitos?

- Quem é que sabe? - Jacqueline levantou os ombros, concordando. - Num momento eles agem como se te amassem e, no próximo, como se você fosse a pessoa mais substituível do mundo.

- Eles que se danem. Se ele quer bancar o sonso, eu que não vou correr atrás dele. - Eva deu um sorriso. - Você vai participar dessa semana cultural? - Eva questionou, ansiosa por mudar de assunto.

Em Teu Prazer (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora