6• Contrastes

8.7K 528 147
                                    

Fazia exatamente uma semana desde aquela confissão vergonhosa e impensada. Uma semana desde que Eva havia, de modo tão tolo e impulsivo, deixado explícita sua inexperiência e insegurança para o homem mais sensual que ela já havia conhecido. Ela havia deixado sua alma exposta e escancarada como uma porta, convidando-o a olhar para dentro. E ele havia olhado.

Eva sentiu-se menos miserável ao considerar que Matteo ignoraria sua presença a partir dali. Que homem se sentiria minimamente atraído por uma mulher tão obviamente insegura? Ela sabia que ele tinha opções mais interessantes do que a que ela podia oferecer. Talvez uma parte escondida e insignificante desejasse que Matteo voltasse a procurá-la. Que olhasse para ela daquele modo profundo e cobiçoso mais uma vez. Era engraçado pensar em como ele parecia estranhamente capaz de fazê-la se sentir tão poderosa com um único olhar. Engraçado e desesperador.

Quando Eva se levantou naquela manhã, estava preparada para encarar mais um dia normal de aula, o que incluía a versão absolutamente profissional e distante de Matteo. Desde aquela noite vergonhosa, todas as três aulas seguintes com foram iguais. Ele entrava sem olhar para nenhum ponto específico, cumprimentava os alunos e iniciava a aula. Ele às vezes fazia perguntas, interagia com a sala e ignorava amplamente a existência do canto da sala onde ela estava. Era como se ele tivesse instalado um sensor que evitava amplamente a direção em que Eva estivesse.

E embora ela se sentisse ligeiramente incomodada com aquilo, sabia que não havia muito a fazer a respeito. Ela lavou o rosto, penteou os cabelos e vestiu a blusa de frio cinza que a deixava quentinha. Colocou os fones de ouvido, escolheu uma música da playlist especial para quando queria ignorar o mundo ao redor e caminhou, tranquilamente, até a escola.

Quando ela entrou, encontrou um pátio vazio e uns poucos alunos entrando para as salas. Eva estava atrasada, como sempre. A realidade é que odiava acordar cedo e raramente conseguia evitar o sono excessivo. Chegar atrasada era um preço justo por alguns minutos de sono extra, exceto quando a primeira aula era de seu mais novo professor. Naquele caso, ela sempre pagaria um preço alto por ter de olhá-lo nos olhos e fingir normalidade. Ela se aproximou da porta da sua sala, que ficava no fim do corredor, e esperou pelo momento constrangedor. Quando a estrutura de madeira gasta e escura foi aberta, Eva foi contemplada pelo mesmo e intenso par de olhos claros.

Seus cabelos estavam ordenadamente penteados para trás e sua barba, feita. Os óculos de armação preta pendiam em seu nariz afilado e bonito, escorregando um pouco para a ponta. Com sua calça escura delineando suas pernas e seu suéter de tricô preto, Matteo parecia um professor comum, exceto por ser fabuloso. Sua energia masculina e imponente impedia que o adjetivo "comum" fosse sequer considerado.

- A senhorita tem o hábito de se atrasar sempre? - Matteo quebrou o silêncio. Seus braços estavam cruzados na frente no corpo e ele ocupava parte do espaço da porta, impedindo-a de entrar.

- O que o senhor disse? - Eva perguntou, arrancando um dos seus fones de ouvido. Na verdade, ela tinha entendido cada palavra, mas preferiu fingir que não estava ouvindo.

- Entre. - Matteo disse, simplesmente. Ele abriu espaço para que Eva passasse e esperou até que ouvisse seus passos distantes antes de entrar.

Eva caminhou tranquilamente pelo espaço entre as mesas e sentiu alguns olhares curiosos sobre si. Ela foi até a última fileira e tomou seu lugar costumeiro, na última mesa, perto de Clara. Sua amiga estava anotando algo no caderno, então ela apenas passou e apertou seu braço levemente, recebendo um sorriso da amiga.

- Como eu ia dizendo. - Ele falou, se dirigindo a toda sala. - Hoje vamos discutir o livro que pedi que lessem na aula anterior.

- Qual foi o livro, professor? - uma das meninas da frente perguntou. Matteo explicou brevemente que se tratava de uma obra menos famosa de Machado de Assis, "Helena".

Em Teu Prazer (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora