15• Lobos Noturnos

8K 480 238
                                    


Eva olhou para o seu reflexo no espelho e flertou com a indecisão. Mesmo a luz amarelada do quarto não era o suficiente para esconder de sua visão as cicatrizes esbranquiçadas irrompendo da parte posterior dos seus joelhos e alcançando as coxas. A saia jeans ia até um pedaço de suas pernas e cobria muito pouco.

Dois minutos depois, ela estava sentada na cama empurrando uma calça jeans para dentro do corpo. Ela manteve, no entanto, o top preto que ostentava um decote em v e cobria pouco de sua barriga. Dessa vez ela se sentiu mais satisfeita, ainda que estivesse vestindo apenas preto.

Ela olhou para o espaço vazio da cama e se perguntou se estava esquecendo alguma coisa. Abriu a bolsa pequena que pendia em seu ombro e checou. Batom, celular e carteira. Estava tudo lá.

- Eva! - a mãe gritou da sala - Jacqueline está aqui.

Ela encarou o espelho uma última vez e abriu a porta do quarto. Sentada no sofá ao lado de sua mãe estava Jacqueline, vestindo nada menos que um short curtíssimo e um top de frente única que deixava suas costas completamente expostas. Eva levantou as sobrancelhas e contraiu os lábios.

- Vestida pra matar - ela comentou, sorrindo.

- Nunca se sabe quando vou tropeçar no amor da minha vida.

Eva deu uma risada sincera.

- Vocês estão lindas, meninas. - A mãe elogiou, tirando os olhos da televisão por um momento.

- Obrigada, tia.

As duas se dirigiram ao portão da casa e se despediram dela, que gritou um "Eva, tome cuidado" e voltou a prestar atenção na tv.

O caminho até a casa de Clara foi rápido e em poucos minutos estavam paradas na porta da sua casa. Jacqueline estava distraída comentando sobre os universitários quando uma mensagem apitou no celular de Eva.

Ela abriu a bolsa e pegou despretensiosamente, sendo recebida com a mensagem de um número desconhecido. Ela abriu e ficou momentaneamente atônita, perdendo a atenção no que a amiga estava dizendo.

"Antes que você me chame de instável, estou só tentando ajudar. Mais uma poesia pra você interpretar...

- nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além

de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:

no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,

ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto


teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra

embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar

me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre

(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa"

Eva engoliu em seco e sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ciente da presença de Jacqueline, inclinou o corpo para a janela na tentativa de esconder o rubor em sua face.

Aquela mensagem era de Matteo. Mas por que? Por qual razão se dar ao trabalho de enviar uma poesia como aquela em meio a sexta-feira sem qualquer motivação óbvia? Ele só estava deixando-a ainda mais confusa.

Eva deu espaço a ele novamente. Nas últimas semanas, ela percebeu com certo assombro, Matteo orbitava ao redor de seus pensamentos com uma intensidade perigosa. Estavam jogando aquele jogo há tempo demais para que ela não se sentisse exposta.

Em Teu Prazer (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora