5• Confronto

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- O meu nome não é Esmeralda, professor. O senhor deve ter me confundido.

Aquelas palavras vinham atordoaram a cabeça de Matteo a partir do instante em que foram pronunciadas por ela. Ele sabia que qualquer possibilidade de ser produtivo havia sido amassada e descartada no lixo assim que a viu ali, despreocupada e inocente, esperando na porta pelo professor. Por ele.

Matteo tinha absoluta certeza de sua memória, aquilo não era um engano e a mera sugestão de que ele estivesse se confundindo fora capaz de destruir seu bom humor. Ele havia bebido naquela noite, sim, mas ele lembrava de cada detalhe do que havia acontecido. De cada detalhe dela.

Aquela mulher sensual e traiçoeira que o havia deixado no meio da madrugada, completamente nu e sozinho, em um carro no bairro deserto. Ele passou muitos dias depois daquilo se perguntando se ela estava bem, se estava viva. Oras, a mulher havia sumido de um lugar de onde ela obviamente não poderia sair a pé.
Mas a resposta para aquele questionamento estava bem ali, vivido e perigoso demais para ser ignorado.

Não, ele não estava bêbado o suficiente para esquecer daqueles detalhes. Seus cabelos acobreados e macios caindo ao redor do rosto, os olhos brilhantes e a boca cheia e rosada. Sua pele era de uma maciez que ele não poderia se esquecer, completamente banhada por um aroma delicioso.

E quando ela passou por ele naquela porta, ainda que Matteo não se lembrasse sequer do rosto dela, ele saberia que aquela era a mulher com quem havia passado a noite. O seu perfume adocicado dava a impressão de que ela havia dormido entre flores na beira do mar. Ela cheirava ao frescor da brisa do mar e ao aroma inconfundível de jasmim.

Esmeralda, Eva ou qualquer variação que ela quisesse usar, havia mentido sobre quem ela era e fugido no meio da noite. Matteo não conseguia fingir que não desejava saber a razão. Mas ele sabia, com tamanha convicção que superava quaisquer que fossem seus desejos, que ela era sua aluna e, a partir dali, totalmente inacessível para ele.

Mas ele se permitiu, mais do que merecia, refletir sobre as possibilidades que guiavam a ação conflituosa de Eva. Ela poderia ser comprometida, infeliz o suficiente para que buscasse uma forma de escapar. Ou só não soubesse como terminar. Matteo teve certa relutância em considerar, embora fizesse sentido, na segunda opção que rondava seus pensamentos. E se Eva estivesse apenas desejando sexo casual? Ela havia conseguido o que queria, de qualquer forma.

Durante o almoço, enquanto os outros professores se apressavam no ato de mastigar seus lanches a tempo de voltar para a rotina de aulas, Matteo foi até o carro buscar a pasta de atividades que havia preparado para a turma que iria conhecer na próxima aula.
Para o seu completo azar, notou que a pasta não estava ali. Aquilo era, para um homem que mantinha o trabalho em uma escala de importância quase maior que sua vida pessoal, um erro imperdoável. Sua única alternativa, ele considerou, para que pudesse obter as cópias a tempo, seria recorrer a Francisco.

- Chico. - Ele chamou, esperando que o amigo respondesse do outro lado da linha. Matteo encontrava-se em pé, recostado sobre a parede de tijolos verde musgo que acompanhava o estacionamento pedregoso dos fundos da escola.

- Fala, o que manda?

- Eu preciso de um favor. Onde você está agora? - Matteo questionou.

- Sinto que isso vai me dar trabalho. - Ele respondeu, com uma nota de bom humor na voz. - Vim almoçar em casa.

- Ótimo. Preciso que você ...

Em Teu Prazer (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora