xvii. diamante Bruto.

12.5K 1K 1.9K
                                    

Ela queria saber o sobrenome dele? Na sua cabeça isso não fazia muito sentido, quer dizer, já haviam chegado tão longe; por que regredir todo um processo que demorou algum tempo pra ser construído por causa de um simples nome? Não fazia sentido na cabeça do jovem Keigo.

Não é bom que ela saiba... E agora? Que situação é essa que eu acabei me enfiando? Merda.

Mentir infelizmente era uma opção naquele momento. Keigo acredita que mentiras dão muito trabalho a serem mantidas, mas era por um bem maior, certo? Manter você por perto sem que aja problemas maiores.

Talvez isso soasse como um pensamento egoísta, mas ele não se importava. Quem não é egoísta quando se trata da pessoa que você quer ver bem? Ele tinha seus motivos, e eles eram justificáveis ao seu ver.

─ Se não quiser contar eu entendo, okay? ─ Você disse segurando as mãos dele e as apertando em sinal de conforto e companheirismo. Ele ficou em silêncio, deixando você de certa forma apavorada. Havia dito algo de errado?

Talvez..? Você não sabia que isso poderia ser um assunto delicado pra ele, quer dizer, as expressões imparciais dele eram impossíveis de serem previstas ou decifradas; mas pelo silêncio mútuo, julgou ser algo que não era do interesse dele a ser revelado.

Seu estômago começou a arder de modo que se sentisse culpada por ter feito aquela pergunta. Quem se importa com o sobrenome mesmo? Não é como se você fosse apresentar ele ao outro lado da família, eles não iriam aceitar de qualquer jeito. Aonde estava querendo chegar com esse pensamento, aliás? Um limo havia formado na sua cabeça e agora parecia cada vez mais impossível tentar não pensar no pior.

A verdade é que ele tinha medo, medo de duas coisas: relembrar o passado e a reação que você poderia vir a ter ao ouvir o ressoar de "Takami" saindo da boca loiro e soar pelos seus ouvidos.

Este que era capaz de deixar qualquer um que saiba a história por trás desse nome arrepiados e amedrontados; aquele que era responsável pelos pesadelos mais insanos e aterrorizantes de Keigo, tanto quando criança quanto atualmente.

Sim, seu pai ainda o assombra mesmo que já não seja mais presente na sua vida. O que os olhos não veem, o coração sente mil vezes pior.

Era essa a realidade de Keigo Takami.

Escondeu sua verdadeira identidade por tanto tempo numa tentativa ambígua de não causar pânico nas pessoas que confiavam nele e de se esconder do próprio passado numa falha tentativa de evitá-lo.

Um nome carrega um peso extraordinário em cima de uma pessoa, ele o torna alguém com um propósito de ser único e acaba criando fortes raízes bem presas no chão, formando assim, uma linhagem inquebrável. As pessoas te conhecem e te julgam pelo nome da sua família, basicamente.

E quem julgaria bem o filho de um ladrão assassino?

"Ou você muda de atitude ou muda de nome!" Já disse uma vez o Rei Alexandre, o Grande.

Não que Keigo algum dia tenha sonhado em ser alguém parecido com o seu pai. É certo que ele foi ensinado a ser ardiloso e rápido desde muito cedo, mas não era aquilo que ele queria, se sentia obrigado a fazer tais coisas apenas pra não ser apelidado de insultos e, na pior das hipótese, apanhar ou passar fome. Isso já havia acontecido algumas vezes. Sua mãe não era uma pessoa muito presente, a verdade era que ele sequer sabia o nome dela; inocentemente a chamava de ''Sra. Mamãe". Mas isso é história pra outro dia.

No mais, Keigo se sentia amaldiçoado demais por carregar este maldito nome.

Sua mente lhe pregava peças e o subconsciente entrou em ação alertando-lhe de uma cena marcante do passado. Era visível a frieza no olhar daquela criança na frente do espelho quebrado e sujo que, sem saber o verdadeiro significado de tal palavra, se amaldiçoava mentalmente como um mantra. No fundo ele sentia que merecia tudo o que estava passando, a cabeça de uma criança é uma folha em branco a ser rabiscada.

✔| 𝓐 𝓦𝐇𝐎𝐋𝐄  𝓝𝐄𝐖  𝓦𝐎𝐑𝐋𝐃 ‹𝟹 hawks.Onde histórias criam vida. Descubra agora