vi. penas vermelhas por toda a parte.

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Hawks estava se sentindo como um pássaro preso em uma gaiola. Mas isso nem era o que incomodava ele de fato, o que ele mais prestava atenção enquanto estava deitado naquela minúscula cama era o quanto o seu quarto era estranho, ainda mais para uma jovem de dezenove anos. Não que ele tivesse visitado muitos durante a sua vida ─ longe dele fazer isso ─, mas o seu conhecimento prévio lhe dizia que aquilo não era normal.

Ele teria que confessar que nem o próprio quarto era desse jeito, e olha que ele ja é considerado um adulto. (Visto que nos seus aposentos há pôsteres de heróis, alguns action figures, livros, quadrinhos e etc.) Ele julgava o seu quarto como... Diferente e incomum.

Onde estavam os pôsteres de boy bands, cantores pop, animes, ou sei lá do que os jovens gostam de hoje em dia? E por que diabos têm tantos post its, que mais parecem roteiros prontos, do que avisos em si? Não é pra isso que eles servem? Anotar coisas que você pode esquecer em um futuro próximo? A faculdade que você deve, prestem atenção na ênfase, cursar não é algo que sumiria da sua mente em poucos dias.

Mas ok, ele resolveu relevar isso.

Quando estava lendo aquele quadro ficou pensando o quão chata deve ser a sua vida. Só faltavam ditar quantos passos você teria que dar. Isso faz ele pensar o quão sortudo ele é por ter sido acolhido pela comissão, não que fosse um mar de rosas, mas ele pelo menos tinha um pouco de controle sobre a própria vida.

Acho que ele não é o verdadeiro passarinho enjaulado nessa história.

Muito embora sua mente diga que aquilo de fato não é normal pra uma garota de dezenove anos, afinal, você ainda é muito nova pra decidir com tanta firmeza o que quer ser da sua vida. Você ainda teria muito tempo pela frente, poderia se arrepender do que escolheu e tinha chances de voltar atrás. Isso não é algo que tem que ser cem por cento planejado, certo?

Errado. Ninguém, além de você mesma, entende os seus próprios problemas. Você poderia até tentar fazer os outros entenderem, mas eles não ligariam de qualquer forma. Diriam palavras secas como ''complicado, né?'' e depois mudariam de assunto. Como sempre fizeram, isso causou um certo trauma em você, conversar sobre a própria vida com outras pessoas era um saco, elas nunca entendiam.

Você estava sentada na escrivaninha, fazendo letras coloridas com marcadores de texto e se divertindo enquanto contornava-as. Algo feliz tinha que sair dali pelo menos, não é?

Keigo estava entediado, bufava tentando chamar a sua atenção, parecia um gato manhoso à procura de carinho. Mas você estava mais concentrada em terminar aqueles parágrafos copiados do livro que catou na biblioteca, até porque o teria por mais algumas semanas.

Hoje foi um daqueles dias que ninguém resolveu lhe perturbar. O que era ótimo, visto que há um elefante ─ diga-se um pássaro ─ na sala. E seria péssimo se desconfiassem dele.

O loiro bufou novamente, dessa vez acabou por de fato chamar sua atenção.

─ O que foi, Keigo? ─ Você pergunta um pouco irritada, virando-se para encará-lo. Tentava ao máximo não descer o olhar, ele ainda estava sem camisa, você não estava com coragem o suficiente para recortar as costas de uma camisa do seu irmão.

─ 'Tô com fome. ─ Ele reclamou, virando a cabeça para trás deixando seu pescoço à mostra.

─ Fala sério, eu acabei de trazer comida pra você. ─ Largou o marcador na mesa enquanto se levantava.

─ Sim, eu sei. Mas isso foi há uma hora atrás. Eu sou acostumado a fazer exercícios pesados.

─ E o que isso tem a ver? ─ Cruzou os braços, tentando demonstrar uma posição superior à dele.

─ Tem a ver que por eu trabalhar demais, acabo tendo muito pouco tempo pra comer. E meu corpo acabou se acostumando.

Ele era apenas um passarinho carente, essa era a verdade.

─ Isso não faz o menor sentido. ─ Você resmungou com as mãos na têmpora.

─ Claro que faz, é só pensar menos e me trazer alguma coisa logo. ─ Ele se deu por vencido quando viu que você revirou os olhos e caminhou até a porta do quarto.

─ Certo, não saia daqui. ─ Disse antes de destrancar a mesma.

─ Não tenho como, sou um pobre passarinho machucado sendo cuidado por uma garota clichê "americana". ─ Fez referência à uma frase dita por você. Tem horas que você se arrepende de certas coisas, bufou e saiu do quarto resmungando coisas ofensivas aos ouvidos de Keigo.

Mas não era de todo mau ter ele como acompanhante de quarto, a sua presença até que era agradável. Ele só é um pouco irritante.

─ Você ficou fazendo o quê trancada o dia todo lá dentro? E os seus horários? ─ Daisy apareceu do nada enquanto você estava buscando algo dentro da geladeira.

─ Você nunca vai me abordar como uma pessoa normal? ─ Você questiona ao bater com a cabeça na parte de cima da geladeira devido ao susto.

─ Não me diga que passou o dia todo estudando?

─ Não...? Eu só estava no meu quarto, fazendo as minhas coisas e nada mais. ─ Disse pegando novamente frios, junto com um patê de frango. ─ De onde surgiu isso? ─ Você pergunta, o segurando.

─ Sua mãe quem fez ─ Ela respondeu friamente. ─ Era para o lanche das quatro. ─ Ela lhe alfinetou pois se tratava de cinco, quase seis horas. Ou seja, você não compareceu ao lanche.

─ Oh, pois eu vou levar então ─ Disse o colocando em cima das bandejas de frios. Talvez ele goste. ─ Obrigada, Daisy, até mais tarde! ─ Você fecha a geladeira e pega a sacola de pão na cesta.

Iria acompanha-lo nessa refeição, você estava com um pouco de fome pois como citado anteriormente, você não desceu para o lanche.

─ Não se atrase para o jantar. Você conhece a figura que a sua mãe é. ─ Ela alertou e você apenas assentiu com a cabeça.

Estava encarando do andar de cima, esperançosa que Daisy não estivesse a seguindo. Suspirou fundo quando percebeu que não, caminhou em passos rápidos até o seu quarto; seu corpo gelou quando percebeu que seu irmão estava passando ao lado enquanto se agachava para pegar algo no chão.

Ele notou a sua presença e você engoliu seco.

─ Por que tem penas vermelhas no chão? Será do espanador que a mamãe comprou? ─ Ele se perguntou, esperando que você respondesse algo. ─ Pra quê tanta comida, irmãzinha? Estava presa por acaso? ─ Ele riu pelo nariz.

N-não, ésóque.... ─ Você se embolou nas suas palavras. ─ Quepenavermelhaéessaaínasuamão? ─ Ele já havia respondido isso. Seus dentes batiam um no outro, era uma sensação assustadora, nunca tinha sentido algo assim em toda a sua vida. Era como se o mundo fosse desabar ali mesmo.

─ Eu não sei, foi isso que eu perguntei pra você. ─ Ele disse girando a pena entre seus dedos. ─ De qualquer forma, não coma muito, o jantar será em algumas horas.

E ele passou por você, indo em direção às escadas ainda com a pena em mãos. Aquilo não iria sair dos seus pensamentos tão cedo.

✔| 𝓐 𝓦𝐇𝐎𝐋𝐄  𝓝𝐄𝐖  𝓦𝐎𝐑𝐋𝐃 ‹𝟹 hawks.Onde histórias criam vida. Descubra agora