Capítulo 14

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Em algum lugar do Atlântico, Clarisse estava totalmente séria e com seus pensamentos conturbados fora de ordem.

Estar em alto mar lhe trazia lembranças pouco agradáveis sobre quando era mais nova e recebeu a missão de ir em busca do Velocino de Ouro, se lembrar da garota que era naquela época era perturbador e pouco reconfortante, principalmente porque também se recordava do grande medo que possuía de seu pai caso ousasse desapontá-lo.

Assim como todos no chalé 5, ela tinha certo receio de seu pai, algo que mudou consideravelmente quando recebeu sua benção e matou o drakon na batalha de Manhattan. A La Rue não tinha mais medo de seu pai, mas ainda sim, era impossível não estar totalmente perturbada pela última conversa que tiveram quando decidiu pedir novamente um navio alemão com zumbis de soldados perdedores que deviam tributo a Ares.

As palavras que seu pai lhe disse ainda estavam frescas em sua memoria e ecoavam em sua mente sem parar, gostaria de poder deixar para lá ou expulsá-las de sua cabeça, mas isso era impossível. Seus instintos de semideusa não a permitiam, o que a deixava totalmente frustrada e insatisfeita mais do que o normal.

"Nessa missão você vai reencontrar alguém que já partiu".

Essas foram às palavras de seu pai, sem alguma ameaça ou condição para que ele lhe desse o navio e os soldados, como era do seu costume em tantas outras vezes. Isso era estranho. Muito estranho.

O coração da filha de Ares estava inquieto, pois a suposição lógica que fazia em sua mente lhe dava esperança, mas ao mesmo tempo medo de se decepcionar ao se deixar iludir com suas altas expectativas. Rachel, quer dizer, o Oráculo havia dito em sua curta e confusa profecia: "apenas os heráclidas os salvarão". E se tinha uma pessoa que já havia conhecido antes e era uma heráclida, essa pessoa era Octavia Stone, sua falecida irmã.

Seria possível existir uma mínima chance de nesses últimos e turbulentos sete anos, a possibilidade de Octavia estar viva? Seu coração desejava com todas as forças que sim, mas seu cérebro ainda mantinha fresca a imagem dos corpos carbonizados e encapados com saco negro que assistiu quando passaram no noticiário local de Londres.

Octavia tinha morrido. Mas se isso fosse mesmo verdade, porque se sentia tão incomodada ao reafirmar esse fato? Como se estivesse tentando se convencer de uma mentira mal lavada?

A jaqueta que estava usando naquele momento era uma jaqueta de couro com o desenho de uma coroa prateada desenhada nas costas junto com o logo da banda de rock britânica "Queen", que também era uma das bandas favoritas de Octavia. Aquela peça de roupa e outros mais pertences que a Stone possuía no chalé 5, haviam ficado no Acampamento após sua morte, sem nunca alguém ter ido até a Colina Meio-Sangue para busca-los ou os recolher.

Então como uma forma de manter a memória da irmã viva, cada membro do chalé 5 escolheu um item que antes era de Octavia, o tomando para si como uma alternativa de sempre se lembrar quem um dia foi Octavia Stone e o que ela significava para cada um deles. E em meio a tantos itens que a Stone havia deixado no chalé, Clarisse optou por escolher a velha jaqueta surrada do Queen que tinha ficado ali, pois sempre que vestisse a jaqueta, a La Rue carregaria uma parte da irmã.

Nunca tinha realmente parado para pensar no quanto sentia falta de Octavia Stone e no vazio gigante que a morte precoce dela tinha deixado em seu peito e no peito de cada um de seus irmãos.

O navio que estava nesse momento, era um modelo alemão da segunda guerra mundial e se chamava "Bismarck" e estava navegando a todo vapor pelo imenso oceano Atlântico, mesmo que ainda eles tivessem apenas a pista boba dada pelo Oráculo em sua profecia meia boca: "ao leste deverão ir, para que a ilha perdida possa surgir". Já era melhor do que não ter absolutamente nada.

Ascensão ──  𝐏𝐉𝐎/𝐇𝐃𝐎Onde histórias criam vida. Descubra agora