2. REGINA, JONAS E CLAUDIA

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REGINA SAIU para a rua e viu Daniel parado e encostado a moto, à espera dela. Encontrava-o ali todas as noites, desde que ela tinha conseguido um bico temporário no bar.

Um sorriso se abriu nos lábios dele.

— Oi, gata.

Ela deixou escapar um som de desgosto.

— Posso ir pra casa sozinha. Você não precisa me esperar todas as noites, Daniel.

— Mas eu quero, garota malcriada.

—Você pode acabar não aguentado. Trabalha nove horas por dia naquele laboratório nerd.

— Não tente arrancar minha alegria de viver, G. Que tal um café?

— Não se esqueça de que é a minha vez de pagar.

— Eu não a convidaria se não fosse.— ele riu.

Ele a levou para uma lanchonete da vizinhando que costumavam ir. Entraram e sentaram-se em uma mesa. Eles pediram dois cafés.

— Divide um pedaço de bolo comigo, gata?

Ela aceitou e ele fez o pedido ao garçom. Depois perguntou:

— Como vai sua mãe?

— Está bem melhor.

Por um momento ela ficou em silencio, pensando na mãe, Veronica. Desde a morte do marido duas semanas atrás, ela chegava do trabalho e se trancava no quarto sem vontade de fazer mais nada nem mesmo conversar com a filha. Não tinha nem vontade de comer. No primeiro final de semana, após o falecimento do marido, Veronica havia apodrecido em sua cama, mas agora as coisas estavam se normalizando.

— E seu trabalho, G?

— Tudo bem. Preciso de dinheiro e é só por um mês. Vou começar a estudar na Academia Vórtice mês que vem.

— Que bom.

O garçom trouxe os cafés e o bolo. Ele ficou em silêncio, tomando café e afinal, ela perguntou:

— Que foi que houve, Daniel?

Não estava de mau-humor, o que não era característico nela.

— Amo você, G— disse ele num sussurro.— Sabe disso, não sabe?

— Sei.

— Meu avô e minha mãe têm tanto e meu pai e eu não temos nada...

— Nunca pedi nada pra você.

— Eu sei. Mas eu poderia ajudar bem mais você e sua mãe se...

Deixa pra lá. Você não quer nada deles e eu não ligo pra eles também.

Era uma cela sem janelas, sem cama, sem cadeira e sem mesa. A única claridade vinha de alguma lâmpada oculta. A porta de entrada e saída ficava de um lado, e, na parede oposta, um banheiro minúsculo sem porta e com apenas um vaso sanitário sem assento.

Ela sentia uma imensa dor na barriga. Deveria estar três dias sem comer, se não fosse quatro. Desde o momento em que fora presa ali, não voltara a ver o escuridão da noite nem a luz do dia. Não sabia ao certo quanto tempo estava presa; sem relógio e sem luz natural, Regina presumiu que recebia água uma vez por dia.

O que mais queria, no momento, era um pedaço qualquer de pão. A necessidade de comer crescia; às vezes melhorava ou piorava, e seus pensamentos se expandiam ou encolhiam conforme com a fome. Quando a fome ficava pior, ela pensava exclusivamente na dor e na vontade de comer. Quando melhorava, era dominada pela dor insuportável espalhada pelo seu corpo. Tinha pequenas escoriações e por ser branca sua carne escurecia onde apanhava.

As Crônicas Darwich - Sombra de Loki (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora