2. MEIO

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AS HÉLICES dos helicópteros continuavam girando. Os pilotos as mantinham ligadas, prontos para subir a qualquer sinal dos inimigos.

— Cadê os exércitos do Daniel? — perguntou Diego Rodrigues, ao lado de Sabrina. — Eles deveriam estar aqui, não?

A trinta metros, eles despontaram do meio do mato em um caos de galhos de arvores quebrados: cavalos, - tantos que seria impossível contar - seus corpos negros e olhos ferozes. Sobre eles havia elfos de peles encardidas e cabelos escuros e compridos em armaduras negras com capas amarradas no pescoço, brandindo uma série de espadas e metralhadoras.

— Svartálfar! — urrou Jéssica atrás de Sabrina.

Ela sentiu uma bala passar sibilando por sua cabeça, tão perto que pode ouvir o zumbido na bochecha.

Sobre a ordem de Marcus, eles formaram um domo transparente ao redor deles. As balas faziam baques secos ao atingirem o escudo.

— Pensei que eles não pudessem ficar sobre a luz do sol! — gritou Jéssica esvaziando uma metralhadora na vanguarda dos atacantes.

Deveriam estar usando alguma magia proteção, foi o pensamento de Sabrina lançando um raio e atirando alguns elfos para trás. Ao lado dela, as armas e as magias dos seus colegas espalhavam morte pela vegetação, derrubando elfos de suas montarias. Marcus pulou em Léo e o raiju tomou a forma de um lobo envolto em relâmpago e se arremeteu pelos ares. No mesmo instante, nuvens de tempestade se formaram. Um ou outro helicóptero imitou o raiju e seu dono, subindo aos céus.

Cada vez mais inimigos irrompiam e depois ainda mais, numa enxurrada aparentemente interminável de Svartálfar. O domo levava uma surra e começava a rachar.

— Abaixo! — gritou Marcus, canalizando energia e concentração antes de elevar ar mão em um gesto rápido.

Chamas se levantaram na direção de uma terceira leva de elfos fazendo Svartálfar e suas montarias tombar. Então Léo investiu contra uma nova leva de fileiras inimigas, os elfos caindo das selas. O raiju disparou uma onda de relâmpagos sobre os corpos tombados dos Svartálfar e cavalos caídos, fazendo-os se retorcerem horrivelmente de dor antes de morrerem carbonizados. Uma quarta leva de inimigos, contudo, atacava agora, os dois levantaram voo mais uma vez. Dos helicópteros, se derramava balas e magia na retaguarda inimiga.

Sabrina sentiu sua energia drenar-se a medida que lançava mais e mais magia contra os elfos. Ela estava começando a se sentir enfraquecia e não poderia continuar usando seus poderes por muito mais tempo sem se arriscar a desmaiar. O inimigo se aproximava do domo com eficiência e o ritmo de magia lançada por seus colegas também estava diminuindo, a luta tornando-se uma bagunça de balas e uma ou outra bola de fogo e ou de ar.

A batalha estava começando a tomar uma drástica reviravolta.

Lá em cima, Marcus mandou uma ordem mental para Léo descer novamente. O raiju atacou com violência e abandono selvagem e seu dono lançou fogo e relampago nos limites dos inimigos, abrindo feridas e artérias dos elfos.

E então, da orla da vegetação, Marcus avistou os primeiros gigantes de peles albinas, marchando para fora de uma passagem aberta. Centenas. Jotuns demais para serem contados, marchando em armaduras negras e segurando variáveis tipos de armas imagináveis.

— Grande Frigga... — ele murmurou.

~~~

O Palácio era costeado por um lago que mudava de cor: violeta, laranja, rosa e amarelo. Conforme, Daniel fazia a curva na estrada que cercava o palácio, aparecem jardins após jardins se estendendo por detrás do lugar. O aroma acentuado de milhares e milhares de flores e plantas impregnava o ar. Nevoa azulada e densa, rastejava pelo solo, cobrindo o chão como uma manta apesar de não ser inverno.

Daniel avançou pela extensão dos jardins adjacente ao bosque e foi envolvido por notas de musicas e o som de varias asas. Ele não sabia de onde vinha. O que eram. Mas nada daquilo importava. O importante era a garota que ele viu mais a frente.

Acariciando o pescoço de um dragão albino e de olhos vermelhos, ela estava com camisa de algodão branco, calça cargo e tênis.

— Não sei se posso dizer que é bom rever você, Daniel. — disse a garota, seus olhos de um tom extraordinário de azul sombreados por cílios espessos se destacavam no rosto negro.

Daniel abriu um sorriso.

— Estou curioso, princesa Nila...

— Já imagino com o que! — ela o interrompeu. — Gostaria de saber se eu sei porque está aqui. A resposta é "não". Apesar de imaginar que não deve ser pra tomarmos chá juntos, não é? — a íris dela passou do azul para vermelho em uma fração de segundos.

Ela levantou uma das palmas das mãos e Daniel saiu voando contra uma arvore, caindo no chão. Gelo começou a cobrir as arvores e as plantas, relâmpagos trovejaram pelo céu claro e limpo e um vento feroz dominou o ambiente de repente enquanto Nila se aproximava de Daniel.

— Eu tomaria muito cuidado com suas próximas palavras. — ela ajoelhou-se devagar sobre ele, os olhos dela brilharam explodindo em chamas amalucadas. O rosto agora endurecido, ferino.

Ele sorriu, provocativo. Gozador.

— Se me matar, sua tia humana morre. — ele se levantou apoiando-se em um braço. — Dei pra ela uma poção mortífera com mecanismo de atraso que não a deixa funcionar até duas horas depois de ingerida. Eu sei o que você pode fazer. Sei o que é. Não viria até aqui despreparado.

Nila não vacilou. Ergueu-se e seus cabelos cacheados e negros com mechas loiras-brancas balançaram de um lado para outro no rabo de cavalo, rente a cabeça.

— Ah! Que interessante. — com a ponta de um dedo, ela fez um sinal e um dos galhos da arvore puxou Daniel até ele ficar em pé, de frente para ela. — Queria toda minha atenção, não é?

A raiz da arvore surgiu, se enrolando na perna de Daniel, o apertando. Ele não fez nenhuma menção de agarra-las.

— Consegui, não foi? — ele continuava sorrindo. — Eu quero algo. Você me dá e eu dou o antidoto pra sua tia.

— Tem que ser muito corajoso pra fazer chantagem comigo. — ela estou os lábios. — Ou muito burro. — Nila deu um tapinha no botão no alto da braguilha dele. — Gosto de você. — ela piscou, a íris voltou a cor azul.

Não. A vozinha feérica de Nila saiu, a lembrando que era seu lado selvagem que gostava. Ela poderia fazer Daniel se ajoelhar e pagar pelo atrevimento. Mas ninguém controlava ela ou Jinn, seu noivo, e era o máximo ver alguém com tamanha ousadia.

Quanto mais o tempo passava, quanto mais ela crescia, mais entendia algumas atitudes da sua avó Pamela.

Daniel aumentou o sorriso.

— Podemos conversar, então?

— Claro. — ela deu de ombros. — Mas... Você é bem mais poderoso do que está se apresentando. É um dos mais fortes da sua espécie. Vamos fazer assim... Aposto o que você quer de mim que eu vou conseguir arrancar o antidoto da poção nos próximos segundos. E o que você tem que apostar em troca é essa Chave de Cobre. E então? O que vai ser?

— O que vai ser é que eu preciso de ajuda. E sei que você vai me ajudar.


As Crônicas Darwich - Sombra de Loki (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora