8. A DEFESA NEM SEMPRE É O MELHOR ATAQUE

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JONAS PAROU de comer, sem ação.

— Como é que é?

— Uma disputa.— o rei gigante chupava a carne de um osso enorme.— É uma forma de agradecimento por nossa tamanha hospitalidade.

— E não, nós não podemos recusar. Seria grosseria.— disse Thialfi, sentado de frente para Jonas e Claudia. Ele acabara com um pombo e passou para os bolos e os cremes. — Eles estão nos direitos de anfitriões de Jotunheim.

— Tudo bem... Tá. Mas...— Claudia brincou com um pedaço de peixe em seu prato enorme.— E se recusássemos? Vocês teriam que nos matar?

— Como é que você sabe?— perguntou um gigante à esquerda dela, enfiando ovos de avestruz na boca.

Jonas e Claudia trocaram olhares. Suas expressões diziam tudo: Típico.

— Se vocês saírem vencedores — o rei gigante colocou o punho sobre a boca e sufocou um arroto.— garantirei uma passagem segura pelo meu território. Além disso, estou disposto a dar ao vencedor a manopla Járngreipr .

E, pela primeira vez desde a chegada de Claudia, Jonas e Thialfi, os gigantes ao redor pararam de comer. Aquelas palavras foram passadas de um gigante para o outro ao longo da mesa, até o final da longa mesa.

— As regras são bem claras: cada um dos duelantes usa uma arma de sua escolha e tem o direito de escolher um padrinho para assessora-lo. Um golpe no rosto, cabeça ou um corte resultará em vitória imediata.— disse o rei Bergfinnr.— Uma das regras da luta também é que, aconteça o que acontecer, você não deve largar a sua arma. Se acontecer isso, perde.

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Briga, guerra, agressividade, matar alguém, espadas chocalhando, fome de batalha... Eram nessas coisas que a maioria das pessoas imaginavam e esperavam de um viking. Mas os vikings também passavam bastante tempo em suas aldeias, cuidando de suas fazendas, mas, sim, Jonas sabia que eles também gostavam de uma boa briga. Amavam aquilo.

Mas, francamente, ele nunca teve nada haver com aquilo. Não era fácil. Especialmente para ele. Ele admitia que se fosse outro membro da sua família ou qualquer outro feiticeiro não se sentiria assim. Estariam gritando, batendo no peito e aceitando o desafio com gosto.

E Jonas? Sabia tocar piano e violino. Falava três línguas diferentes, inclusive o japonês. Ele tinha o sangue dos ancestrais dos deuses nórdicos, mas esse sangue não fazia com que ele quisesse procurar brigas.

Ele andava, ciente da multidão de gigantes dos dois lados, para o caso de alguém pular nele, o tempo todo sem tirar os olhos dos adversários mais adiante. A regra também dizia que tanto os duelantes quanto seus assessores deveriam lutar igualmente. O que era uma droga. Por isso, Claudia avançava do lado dele, para cumprir sua parte, assim como Thialfi e Teodoro.

—Como vamos vencê-los?— indagou Jonas.

—Faça com que seja impossível ele continuar.— disse Thialfi.— Cansem eles.— ele se afastou com o gato de Claudia logo atrás.

Havia um cobertor estendido no chão. Em cima dele, cerca de uma dúzia de armas apropriadas ao tamanho deles. Nenhuma era igual à outra: espadas, clavas, cassetetes, escudos... Jonas e Claudia escolheram com calma. Todas eram pesadas demais. Estranhas demais.

Jonas acabou escolhendo a espada mais leves. Ela teria de dar conta. Ele já tivera aulas de esgrima antes. Claudia escolheu um escudo.

— A defesa é o melhor ataque...— ela deu de ombros ao perceber o olhar dele.

Uma vez que eles estavam armados, os gigantes foram formando um circulo ao redor deles e seus adversários aproximaram-se para os enfrentar. Eles eram muito altos, dezenas de metros, e estavam nus, exceto pela tangas de linho que os cobriam abaixo da cintura. Ambos segurando clavas cravejadas com vidro.

As Crônicas Darwich - Sombra de Loki (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora