6. REENCONTROS

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TENTANDO PASSAR pelo oceano de repórteres que a espremia de todos os lados na saída do prédio do Conselho, Cassandra Defrémont se negava a responder qualquer pergunta que chovia das bocas dos jornalistas:

— Dona Cassandra, já se passaram quase quatro dias e seu filho Daniel Amorim ainda não foi encontrado. Tem alguma ideia de onde ele possa estar?

— É verdade que sua filha caçula Claudia e Jonas Kato, filho do Conselheiro Edmundo Kato, desapareceram agora de noite da Academia Vórtice sem deixar vestígios? Esses desaparecimentos podem ter alguma ligação com a fuga misteriosa do seu filho da prisão?

— Por favor, Dona Cassandra! Uma palavrinha só para o jornal da noite. Que mensagem mandaria para sua filha agora? Como se sente ao pensar que ela pode ter sido sequestrada por algum maníaco e estar sendo maltratada ou passando fome em algum cativeiro?

Cassandra que já estava para entrar na sua limusine branca virou-se para os jornalistas e fotógrafos e declarou, tentando conter seu aborrecimento:

— Minha filha é forte e inteligente. Tenho certeza que está bem. Acredito que esse pesadelo logo terminará. Com licença.

Entrou no automóvel ainda sobre a avalanche de perguntas intermináveis dos repórteres e flashs de câmeras. Ela sentia um enorme peso descer sobre si.

Dentro da limusine, aguardando por ela, estava a reitora da Vórtice, Samantha, e Marcus, o Mestre de Daniel.

Alta, Samantha tinha naturalmente um porte altivo e uma severidade aparente. Morena. A pele era clara, mas os cabelos eram absurdamente escuros. Parecia ter cerca de 50 anos, mas com feiticeiros como eles seria sempre difícil ter certeza acerca do assunto. Usava uma bela blusa branca, calça social preta, cordão e brincos de pérolas, elegante como sempre.

— Boa noite, Cassandra.

Sentando-se diante deles, Cassandra apertou um botão da limusine.

— Arranque.

O automóvel se deslocou. Ela acionou o vidro que os separava do motorista humano.

— Pra informação de vocês dois — Cassandra começou, com a mandíbula tensa.—, invadir carros não é permitido por lei aqui em Midgard.— mesmo podendo falar à vontade perto de outros como ela, tentava manter as expressões e palavras asgardianas ao mínimo.— E, como manda o protocolo, caso queiram falar comigo, liguem antes.

Samantha olhou para Cassandra e eriçou uma sobrancelha.

— Convenhamos: Daniel está foragido, Jonas e Claudia sumiram debaixo do meu nariz, há uma considerável pressão sobre o Conselho e a FBF neste momento e o pai de vocês está liderando um grupo disposto a introduzir uma nova Ordem... Enfim, é essa a situação. Mas baboseira! Bem, é claro, as pessoas ficam histéricas, principalmente os mortais, sabe como é.

Cassandra sentou-se mais ereta.

— História triste— disse ela a olhando nos olhos.— Muito triste, com certeza. Mas, afinal, como a senhora mesma disse, mamãe, Jonas e Claudia sumiram debaixo do seu nariz e Marcus ajudou Daniel a fugir da FBF uma vez...

— Eu não fazia ideia disso até agora.— ela se voltou para Marcus.— O que havia dado na sua cabeça?­— falou com os dentes cerrados, fazendo o piso do carro vibrar em resposta.

— Daniel é meu aprendiz. Merecia uma chance.— a voz dele saiu calma e suave, porém cortante como aço.

— Ele é o Loki.— Samantha falou, devagar, por entre os dentes. Suas mãos contraíram-se com a vontade de agarrá-lo pelo pescoço.

As Crônicas Darwich - Sombra de Loki (livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora